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OAHSPE: UMA HISTÓRIA DA TERRA

Autor Gilberto Schoereder
07/12/2020

O livro Oahspe, que se diz ter sido ditado por anjos ao médium John Ballou Newbrough por volta de 1880, traz uma versão alternativa de dezenas de milhares de anos na história da Terra.


John Ballou Newbrough, que recebeu o texto de Oahspe.

A quantidade de livros estranhos já publicados no planeta é imensa, mas Oahspe, publicado em 1882, deve estar na linha de frente dos excêntricos. Traz o longo subtítulo Uma Bíblia Kosmon nas Palavras de Jehovih e Seus Anjos Embaixadores. Jehovih é o Criador e, certamente, está relacionado com o nome Jeová.
Trata-se de um longo texto com cerca de 900 páginas, surgido numa época muito especial, quando o mundo entrava em uma nova fase de espiritualismo particularmente voltado para o contato com espíritos e seres de outras dimensões. Foi assim com o contato das irmãs Fox com espíritos, em 1834; com o livro de Charles Jules Eudes, Dos Espíritos e Suas Manifestações, em 1853; com o mais famoso livro de Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, em 1856, e os livros seguintes de Kardec – em 1861, 1864, 1865 e 1867.
Talvez não seria de se estranhar tanto o surgimento de Oahspe, não fosse o fato de se dizer que foi ditado por nada menos que os próprios anjos e reunir tantas “revelações” bombásticas a respeito do passado do planeta em uma mesma obra. Alguns pesquisadores dizem que ele tem algumas semelhanças com conceitos da Teosofia – que se desenvolveu na Europa e no Oriente a partir da fundação da Sociedade Teosófica em 1875, por Helena P. Blavatsky e Henry S. Olcott –, mas talvez sejam semelhanças leves, principalmente no que diz respeito à antiguidade da civilização na Terra e à chegada de seres vindos de outros planetas e/ou dimensões.
As informações contidas no livro foram repassadas ao dentista de Boston, Estados Unidos, John Ballou Newbrough (1828-1891), e anunciam “novas revelações de Deus”. No próprio livro explica-se a origem do estranho título: “O”, significando “céu”; “Ah”, para “terra, matéria”; “Spe”, o “espírito”. São as três entidades que constituem o universo.
Newbrough disse ter escrito o livro por meio da escrita automática, na época já bastante conhecida devido à explosão do movimento espiritualista, notadamente na Europa. A partir dos anos 1880, ele ainda escreveu uma série de livros sobre filosofia religiosa ou espiritualista, sempre dizendo que seu trabalho tinha inspiração divina. Curiosamente, o livro não deu origem a um culto fervoroso ou mesmo numeroso. Hoje em dia, os poucos seguidores existentes no planeta se chamam Feitistas, ou Feitistas do Kosmon, reconhecendo Oahspe como seu livro sagrado.

                                                                        Um mapa do que teria sido Pan, o continente que submergiu.

No geral, o texto traz “revelações cosmológicas” a respeito da evolução da raça humana e da vida na Terra, com referências à existência, em um passado longínquo, de um continente chamado Pan – que teria a forma triangular – situado no Oceano Pacífico, há 24 mil anos. Lembra as propostas da existência da Lemúria ou Mu, civilização à qual algumas pessoas já se haviam referido anteriormente (inclusive a Teosofia). Mais que isso, afirmava que esse continente iria começar a ressurgir do oceano por volta de 1980. Não aconteceu!
Oahspe conta a história da Terra e do Céu, fala sobre a natureza dos mundos angélicos e sua relação com a Terra, a origem do ser humano e seu caminho ao longo da vida e após a morte em direção à emancipação espiritual; discorre sobre as supostas chaves para se entender todas as diferentes doutrinas religiosas do planeta e seus símbolos; apresenta a história dos grandes mestres que foram enviados à civilização humana em diferentes momentos; e o caráter da civilização que irá suceder à nossa atual.

Ilustração do livro, mostrando o firmamento superior e inferior e as hostes dos etéreos descendo.

Diz que a Terra e o Sol viajam através de várias regiões do espaço e que cada uma dessas regiões exerce diferentes influências e tem consequências espirituais e físicas para os habitantes do planeta. Essas regiões ainda se encontram sob a direção de vários seres espirituais chamados de “filhos e filhas de Jehovih”. Como o livro está subdividido em outros livros, alguns deles levam o nome dos filhos e filhas de Jehovih.
Ao contar a história de nosso planeta, Oahspe estabelece que os seres humanos foram criados a partir da união dos anjos com seres semelhantes a focas, o que o relaciona às demais noções a respeito da chegada de seres extraterrestres ao nosso mundo, onde colonizaram e, segundo alguns estudiosos, alteraram geneticamente as raças previamente existentes, com o objetivo de desenvolver uma nova raça.
Não é exatamente uma ideia nova, ainda que alguns pesquisadores entendam que Oahspe teria sido o primeiro livro a comentar sobre a chegada de naves espaciais ao nosso planeta. Certamente, não serão poucos os que vão discordar dessa suposição, uma vez que os livros sagrados da Índia já faziam referência aos vimanas – as naves dos deuses, cujas descrições detalhadas surgem em textos milenares da Índia –, e as histórias registradas da antiga Suméria também se referiam à chegada de seres “estranhos”, deuses ou semideuses que trouxeram instrução e conhecimento tecnológico à civilização local. Segundo o texto de Oahspe, essas naves teriam vindo de uma “dimensão após a vida”, seja lá o que isso signifique.
Uma das particularidades do livro é que, em algumas passagens, as páginas foram impressas divididas em duas; a metade de cima traz uma narração de eventos celestes, enquanto a metade de baixo descreve os eventos correspondentes na Terra.
Também traz muitos desenhos e gráficos com símbolos que, supostamente, são linguagens antigas e a chamada linguagem original que, como o continente, se chamaria Pan. Para entender os símbolos e muitos dos nomes que aparecem no livro – alguns deles originais da obra – é preciso ler as subdivisões do livro que explicam os termos, ainda que nem todos sejam explicados. Algumas fontes informam que os gráficos e desenhos não eram originais da época em que o livro foi publicado, mas surgiram em uma segundo edição, publicada em Londres em 1891. Os desenhos, segundo se informa, foram feitos pelo próprio John Ballou Newbrough, em transe, comandados por mestres espirituais.

                                                                                                                                                                         Ilustração do "selo divino".

O termo Kosmon do título refere-se à época atual, e o livro até apresenta uma cronologia das personalidades mais significativas. Assim, diz-se que de Kosmon até à época de Moisés e Capilya, passaram-se 3.400 anos; até Abraão e Brahma, 5.800 anos; até Zaratustra, 8.900 anos; até Osíris, 12.200 anos; a Thor, 15.400; a Apolo, 18.200; a Sue, 20.400; e até Aph, 24.000 anos.
Outra referência existente no livro e que vem sendo cada vez mais comentada diz respeito à suposta existência do ser conhecido como Ashtar Sheran, certamente o extraterrestre mais atuante e conhecido do mundo. Apesar de se dizer que Ashtar Sheran se identificou como tal pela primeira vez em 1955, quando ditou o livro Os Tempos Vindouros à médium Ethyl P. Hill – ou, segundo algumas fontes, entre os anos de 1952 e 1962, com o italiano Eugenio Siragusa –, em Oahspe identificou-se a utilização da palavra ashars, que definia as “entidades angelicais” que viajavam em “naves etéreas”, com a missão de proteger mundos menos desenvolvidos. Eles são descritos como altos, atléticos, semelhantes aos humanos, mas com aquela aparência nórdica tão comum nas descrições de seres extraterrestres, ou seja, loiros com olhos azuis. Assim, de ashar teria surgido Ashtar. Outra coincidência levantada: em Oahspe, a Terra é chamada de Sham e, em suas comunicações canalizadas, Ashtar Sheran costuma designar nosso planeta como sendo Shan.
Esses ashars e outros seres seriam habitantes ou originários dos mundos invisíveis. Em Oahspe, Jehovih diz que criou os mundos visíveis e invisíveis, e que ordenou ao homem que os nomeasse. Assim, os mundos visíveis foram chamados Corper, e os invisíveis, Es. Os habitantes de Es às vezes são chamados de es’eans (es’eanos), outras vezes de espíritos, e outras ainda de anjos.
Existem até mesmo os chamados apócrifos de Oahspe: o Livro do Conhecimento e o Livro de Ouranothen. Nenhum dos dois fazia parte das edições de 1882 e 1891, mas foram encontrados posteriormente como fragmentos das provas originais, e alguns estudiosos do livro entendem que poderiam fazer parte do Livro de Ben.

A árvore representando as linguagens do mundo, com o idioma Pan como a origem de tudo.

O conceito que surgiu e cresceu em tempos mais recentes – o de que Oahspe poderia ser mais uma fonte de informações sobre a vinda e sobre a atuação de seres extraterrestres em nosso planeta, em um passado remoto – possivelmente se desenvolveu da narrativa que surge já no início do livro, na parte chamada simplesmente “Oahspe”. Após a criação do homem, Jehovih manda os anjos à Terra, uma vez que os homens não ouvem a voz do Todo-Poderoso. Os anjos ajudam o homem a não mais rastejar pela terra, tendo início a segunda era. Depois, vendo que os homens se multiplicaram na Terra, Jehovih diz para os anjos virem ao planeta e ensiná-los a morar em cidades e nações, iniciando a terceira era.
Depois disso, a Besta (ego) falou ao homem para possuir tudo o que desejasse, e o homem ouviu a Besta e a guerra chegou ao mundo, iniciando a quarta era. Na quinta era, a humanidade pediu à Besta que lhe ensinasse a paz, mas a Besta dizia que veio para ensinar a guerra, e o homem não mais ouviu a voz de Jehovih. A Besta se dividiu em quatro grandes cabeças que eram Brâmane, Budista, Cristão e Muçulmano. Na sexta era, elas escolheram soldados e compuseram exércitos para sua glorificação.
Mas Jehovih mais uma vez mandou seus anjos, dizendo que a sétima era estava próxima, e mandava parar com as guerras e deixar de lado “as quatro cabeças da Besta”. Aqueles que fizeram a aliança com o Criador foram chamados de Faithists (feitistas, de faith, “fé”); os que não fizeram foram chamados Uzians, significando “destruidores”. E daí em diante esses foram os tipos de pessoas na Terra. Em outras palavras: os que acreditam e os que não acreditam. E estamos conversados.

Centenas de milhares de anjos do céu desceram à Terra e apareceram diante dos homens, falando e escrevendo como os humanos e ensinando-os a respeito de Jehovih e seus trabalhos.
Para os que analisam esse tipo de mensagem canalizada, especialmente para os que procuram uma aproximação científica à questão, é preciso considerar algumas possibilidades: o livro pode ter sido escrito de propósito pelo médium, como uma fraude bem pensada e bem elaborada; pode ter sido criação inconsciente da mente do médium, a partir de informações que ele poderia já possuir; poderia se tratar, de fato, de algum tipo de comunicação mental (até mesmo por parte de seres extraterrestres, por exemplo), mas que teve sua mensagem truncada devido à incapacidade humana de decodificar as informações transmitidas. Ou...

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