História Alternativa da Terra 01
MAIS DESCOBERTAS E LENDAS
Autor |
Gilberto Schoereder |
|
27/05/2021 |
As descobertas arqueológicas na América não param de acontecer, assim como as lendas e novas histórias misteriosas. Aqui apresentamos algumas delas.
Praticamente tudo o que se descobre na região dos Andes envolvendo antigas civilizações locais quase que imediatamente assume proporções gigantescas, às vezes ainda maiores do que as imensas construções ali existentes. E as lendas são ainda mais numerosas e abrem espaço para inúmeras especulações, muitas vezes sem qualquer fundamento, por mais interessantes que possam ser.
Uma teoria que sempre reaparece, de uma forma ou de outra, é a de que a Atlântida localizava-se nos Andes. Já vimos na matéria sobre Tiahuanaco como alguns pesquisadores levantaram essa possibilidade. Outra surgiu com o pesquisador britânico Jim Allen, autor do livro Atlantis: The Andes Solution. Ele diz que passou 20 anos estudando a origem do continente da Atlântida, entendendo que, ao contrário do que muitos pensam, a civilização desaparecida existiu na Cordilheira dos Andes.
Para Allen, o vilarejo de Quillacas, na Bolívia, com poucos milhares de habitantes, era o centro da misteriosa cultura atlante. Segundo ele, o altiplano boliviano onde se localiza Quillacas tem pelo menos 50 características que coincidem com a clássica narrativa de Platão, inclusive com uma referência à existência do oricalco, uma fusão natural de ouro e cobre que, segundo Allen, só é encontrada nos Andes. Mas essa é apenas mais uma das inúmeras teorias sobre a Atlântida.
Uma descoberta ocorrida em 1999 também originou uma série de lendas. Trata-se de uma grande estrutura semelhante a uma porta que foi localizada na montanha Hayu Marca, a 35 quilômetros de Puno, cidade peruana na margem noroeste do lago Titicaca. A descoberta aconteceu por acaso, quando o guia turístico Jose Luis Delgado Mamani procurava familiarizar-se com local, até então pouco explorado devido às dificuldades do terreno.
Já há muito tempo os habitantes locais chamam a montanha de A Cidade dos Deuses. Ainda que nenhuma cidade tenha sido de fato encontrada, as formações rochosas lembram construções artificiais. A Puerta de Hayu Marca foi escavada na rocha em um período ainda indeterminado, e mede sete metros de altura por sete de largura, com uma entrada menor na base, com cerca de dois metros. Alguns especialistas lembraram que a construção se assemelha à Porta do Sol, construída em Tiahuanaco, no lado boliviano do lago.
Quando relatou sua descoberta à imprensa, o guia Delgado Mamani disse que, curiosamente, vinha sonhando com a porta há anos, e a via pavimentada com mármore rosa, tendo estátuas do mesmo material margeando o caminho. No sonho, Delgado também via que o portal estava aberto, e que uma luz azul emanava de seu interior, como se ali existisse um túnel. Um prato cheio para teorias surgirem ou serem resgatadas.
A região está repleta de lendas referentes à existência de um portal para a terra dos deuses. Segundo contam, em uma época muito distante, alguns heróis atravessaram aquele portal para se juntar aos deuses e conquistar a imortalidade. Em raras ocasiões, alguns retornaram pelo portal em companhia das divindades, passando curtos períodos de tempo no local “inspecionando as terras do reino”.
Outra lenda diz que, na época em que os conquistadores espanhóis chegaram ao Peru e saquearam o ouro e pedras preciosas dos incas, o sacerdote Aramu Maru, do Templo dos Sete Raios, conseguiu fugir levando um disco sagrado de ouro, conhecido como a “chave dos deuses dos sete raios”. Maru se escondeu nas montanhas de Hayu Marca e acabou encontrando a passagem que estava sendo guardada por sacerdotes xamãs. Após a realização de um ritual envolvendo o disco de ouro, o portal se abriu e uma luz azul apareceu em seu interior. O sacerdote Aramu Maru deixou o disco de ouro com o xamã, atravessou a passagem e nunca mais foi visto.
Os arqueólogos que estudam a estrutura observaram a existência de uma depressão circular, do tamanho de uma mão, no lado direito da entrada menor, na qual um pequeno disco poderia ter sido depositado sem cair da rocha. Por outro lado, eles também deixaram claro que toda a estrutura foi escavada em um mesmo bloco de pedra, sem aberturas indicando a existência de uma porta móvel.
Várias pessoas que colocaram as mãos na porta afirmam terem sentido uma energia fluindo, e tiveram visões de estrelas, colunas de fogo e sons estranhos de uma música ritmada. Algumas disseram também ter percebido a existência de túneis no interior da estrutura.
A explicação que circula nos meios esotéricos e entre alguns ufólogos é que o portal não é uma porta comum, mas uma passagem que só pode ser ativada com determinados rituais, ou utilizando certos objetos – como o disco de ouro – cuja função real é desconhecida.
A semelhança com a Porta do Sol vem sendo comentada, e muitos dizem ser possível traçar linhas imaginárias ligando a porta de Hayu Marca a outros sítios arqueológicos da região, de modo que as linhas se cruzem exatamente onde está o Lago Titicaca e Tiahuanaco, tida por alguns como a cidade mais antiga do mundo. Outros pesquisadores, no entanto, entendem que isso nada significa, pois é possível fazer com que as linhas imaginárias se cruzem em qualquer lugar desejado.
Alguns ufólogos também têm se referido à atividade de OVNIs na região, especialmente no Lago Titicaca, com vários avistamentos de esferas azuis brilhantes e objetos brancos luminosos em forma de disco.
As lendas locais ainda dizem que, um dia o portal irá se abrir e permitir que os deuses retornem em suas “naves sol”.
Outra descoberta impressionante ocorreu na região de Llanos de Mojos, na Amazônia boliviana, com indícios de uma extensa cultura primitiva que construiu montes de terra semelhantes a pirâmides, chamados de “lomas”, além de canais e ilhas no meio da floresta. Um dos montes semelhantes a pirâmides foi chamado de Ibibate, com cerca de 18 metros de altura, e construído com cerâmica misturada à terra escura.
Segundo o antropólogo Clark L. Erickson, da University of Pennsylvania, a região foi ocupada por várias sociedades pré-colombianas complexas, ligadas umas às outras por meio de uma rede de comunicações, negociações e alianças. Essas culturas, explicam os cientistas, construíram milhares de quilômetros de estradas e canais artificiais, que podem ser percebidos nas fotografias aéreas da região.
Mais ruínas de uma cidade ou fortificação foram descobertas na selva amazônica pela expedição Kota Mama, organizada pela Scientific Exploration Society, próximas à junção dos rios Madre de Dios e Béni, na Bolívia. Tudo indica que se trata de uma construção inca, com aproximadamente 400 metros de diâmetro e muros defensivos com mais de dois metros de altura. As cerâmicas encontradas no local ainda devem ser datadas, mas os habitantes da região dizem que o lugar foi construído pelo governante inca Yupanqui.
A expedição Kota Mama foi uma das pesquisas arqueológicas mais interessantes realizadas na América do Sul, com um projeto dividido em cinco etapas. Foram construídos barcos de junco, utilizando as mesmas técnicas da época dos incas, com a ajuda de índios aimarás, habitantes da região do lago Titicaca. A primeira etapa teve início em março de 1998, com os membros da expedição navegando entre o lago Titicaca e o lago Poopó, na Bolívia, tendo sido localizados quatro importantes sítios de antigas cidades. Na segunda fase, em outubro de 1999, os barcos de juncos navegaram do sopé dos Andes até o Oceano Atlântico, em Buenos Aires.
No dia anterior à chegada da expedição à cidade de Riberalta, situada na confluência dos dois rios, uma indígena local levou o arqueólogo Bruce Mann até as ruínas, em meio à selva densa. Ali, ele encontrou as paredes de pedra e evidências de antigas construções, além de objetos de cerâmica. Apenas quando o grupo chegou a Riberalta o coronel John Blashford-Snell, líder da expedição, ouviu a possível explicação de que a cidade teria sido construída por Yupanqui que, antes da chegada dos espanhóis, teria levado 10 mil pessoas de Cusco, no Peru, até o local, em uma época em que o império inca estava enfrentando uma guerra civil. Não se sabe o que poderia ter acontecido com esses incas.
Os arqueólogos encontraram, além das cerâmicas, ossos de mastodonte, possivelmente indicando uma ocupação humana há cerca de 10 mil anos. Segundo Bruce Mann, o local é o “sonho de todo arqueólogo”, sendo que nas proximidades existe outro sítio, possivelmente de índios do Amazonas que antecederam os incas, no qual também pode ser encontrada uma muralha defensiva.
Exemplo de quipo, em exposição no Museu Machu Picchu, em Cusco (Foto: Pi3.124/ Wikimedia).
Um estudo interessante foi realizado com os quipos dos incas, um complexo sistema de nós em cordas – em quíchua, quipu significa exatamente “nó”. Inicialmente, pensava-se que os quipos fossem elementos decorativos, mas a partir de 1920 descobriu-se que eles representavam um sistema de numeração bastante elaborado. Alguns pesquisadores alternativos chegaram a sugerir que, mais do que um sistema de numeração, os quipos representavam uma forma de linguagem, contradizendo a opinião corrente de que os incas – a exemplo de outros povos da antiga América do Sul – não possuíam escrita.
Esse estudo em questão foi realizado por Gary Urton, professor de antropologia da Universidade de Harvard. Ele disse que os quipos contêm um código binário de sete bits capaz de transportar mais de 1.500 unidades separadas de informação.
Geralmente, os quipos são compostos por uma corda principal, da qual pendem cordões menores que, por sua vez, possuem outros cordões subsidiários, além de poderem apresentar cores variadas. O que Urton descobriu é que existem, pelo menos na teoria, sete pontos na feitura de um quipo nos quais os quipucamayucs (os responsáveis por realizar essa contabilidade) podiam fazer uma escolha entre duas possibilidades. Ele podia escolher entre tecer uma corda de algodão ou de lã, podia tecer em forma de “parafuso” ou “dobrado”, ou pendurar o cordão da parte da frente ou de trás da corda principal. O fato é que isso lhes daria 128 possibilidades, e como existiam 24 cores possíveis de usar na elaboração dos quipos, o total de permutas possíveis era de 1.536, ou seja, 1.536 unidades independentes de informação, comparável aos símbolos cuneiformes dos sumérios, para os quais se estima uma capacidade de 1.000 a 1.500 unidades, e o dobro do atribuído aos hieróglifos do antigo Egito e dos maias.
O que se diz é que, se a teoria do professor Gary Urton estiver correta, isso significa que os incas inventaram uma forma de código binário mais de 500 anos antes da invenção do computador, além de terem usado esse código como parte da única linguagem escrita tridimensional. Segundo Urton, os incas podem ter usado esse sistema para representar inúmeras informações, de tal maneira que os quipucamayucs poderiam até mesmo contar histórias e lendas a partir dos quipos.
Para Urton, a grande descoberta no Peru seria uma espécie de pedra de Rosetta, algo que pudesse relacionar um mesmo texto inca a um texto em espanhol, permitindo desvendar o mistério da leitura dos quipos, que já se perdeu no tempo.
Na verdade, essa ideia de que os quipos representavam uma linguagem já vinha sendo largamente difundida por pesquisadores alternativos a partir de informações dos chamados “cronistas da conquista”, os historiadores que relataram os acontecimentos no Peru logo após a chegada dos espanhóis. No entanto, os arqueólogos e historiadores ortodoxos sempre rechaçaram essa ideia.
A antropóloga norte-americana Sabine Hyland também estudou os quipos e chegou à conclusão de que eles realmente representam um sistema de escrita complexo e, segundo informações, chegou a decifrar alguns dos quipos.
Caral (Foto: Stephen Wolfram, 2018).
Apesar de os pesquisadores alternativos considerarem Tiahuanaco a cidade mais antiga da América, e talvez do mudo, os arqueólogos entendem que a cidade mais antiga da América pode ser Caral.
As ruínas ficam ao norte de Lima, no deserto próximo à costa peruana e, desde 2001, vem sendo o centro de alguns debates entre os arqueólogos. Tendo sido datada de 4.700 anos atrás, considera-se que Caral é o conjunto de construções mais antigo da América, localizado no vale Supe e cobrindo uma área de 66 hectares. No local, existem pirâmides de até 21 metros de altura, construídas em torno de uma grande praça.
Os testes de carbono confirmaram a idade do sítio arqueológico, o que implica que as pirâmides do Peru foram construídas na mesma época que as do Egito e os zigurates da Mesopotâmia. Por si só, essa informação já seria suficiente para alterar muitos aspectos da história do continente americano. O que os especialistas dizem, então, é que Caral pode ter sido o centro da mais antiga civilização da América.
A região de Caral já vinha sendo pesquisada por uma equipe dirigida pela antropóloga e arqueóloga peruana dra. Ruth Shady e, apesar de terem encontrado outras cidades nas proximidades, nenhuma tinha o tamanho e extensão de Caral. A cidade devia ter uma população em torno de três mil habitantes e, além das pirâmides, existiam centros residenciais, concentrados em três pequenos vales. Os estudos já realizados indicam que a cidade deve ter sido habitada por mil anos, antes de ser abandonada.
Arqueólogos peruanos também descobriram uma aldeia de pescadores com cerca de cinco mil anos de idade, que provavelmente abastecia Caral com suprimentos.
Pirâmides de adobe em Cahuachi, no vale de Nazca (Foto: Ingo Mehling/ Wikimedia).
Um grupo de arqueólogos do Peru e da Alemanha encontrou vestígios de um possível assentamento humano de 5.500 anos de idade, próximo à cidade de Nazca, no sul de Lima. Segundo os pesquisadores, a descoberta consiste em um grupo de casas nas quais 19 túmulos foram encontrados, incluindo os resquícios de uma criança com cerca de um ano, com evidências de que pode ter sido mumificada. Em algumas das sepulturas, encontraram também ossos entalhados e cascas de caracóis, chifres de cervos, colares e braceletes feitos de cascas, mas não há qualquer prova concreta de que teriam sido usados como ofertas em mortes ou para divindades.
Além disso, outra descoberta importante foi realizada no país, quando uma equipe de pesquisadores italianos encontrou uma antiga pirâmide perto do rio Nazca, a um quilômetro e meio do sítio arqueológico de Cahuachi. Para conseguir encontrar a construção eles utilizaram uma nova tecnologia de teledetecção que permite ultrapassar as camadas densas de lama e pedras no local. As imagens foram captadas pelo satélite Quickbird, e os especialistas logo notaram a estrutura de uma gigantesca pirâmide de adobe.
Para o pesquisador Nicola Masini, um dos envolvidos nesse projeto, ainda devem existir muitas outras construções enterradas debaixo das areias de Cahuachi. O sítio vem sendo estudado e escavado desde 1922 e os arqueólogos relacionam a cultura local com aquela que desenhou as linhas de Nazca.