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História Alternativa da Terra 01

OS GIGANTES DE TIAHUANACO

Autor Gilberto Schoereder
28/05/2021

As lendas dizem que Tiahuanaco foi construída pelo próprio deus Viracocha. Assim, seria a mais antiga construção da Terra, podendo ter sido a própria Atlântida.


Vista parcial da pirâmide de Akapana, em Tiahuanaco (Foto: Claire POUTEAU/ Wikimedia).

Sempre que se fala sobre culturas antigas do planeta ocorre um choque inevitável entre as datas oficiais da arqueologia e da história e as datas propostas pelos pesquisadores alternativos – entre os quais também se incluem alguns arqueólogos. Mas é provável que a distância entre esses dois posicionamentos nunca tenha sido tão evidente quanto em Tiahuanaco. É um dos sítios arqueológicos mais conhecidos do mundo, situado próximo ao Lago Titicaca, na Bolívia, a 4 mil metros de altitude.
Oficialmente, diz-se que o local foi construído por volta do ano 110, ainda que existam visões arqueológicas que defendem sua construção em torno de 1.500 anos a.C. A civilização que a construiu teria desaparecido por volta do ano 1.400, época em que o império inca já se estendia pelos Andes. Por outro lado, as versões alternativas propõem uma antiguidade entre 10 e 40 mil anos.
Mesmo para os povos mais antigos da região, a origem de Tiahuanaco, ou Tiwanaku, como também é chamada, só poderia ser detectada por meio das lendas. Ao que tudo indica, os incas pouco ou nada sabiam a respeito do povo que a construiu, e os aimarás – talvez os últimos ocupantes de Tiahuanaco – afirmavam que a cidade tinha sido erigida pelo próprio deus Viracocha, em uma época em que o Sol e as estrelas ainda não existiam. O professor e escritor francês Denis Saurat (autor de A Atlântida e o Reino dos Gigantes e de A Religião dos Gigantes e a Civilização dos Insetos) disse que Tiahuanaco atingiu seu auge por volta de 300 mil a.C., enquanto outras linhas de pensamento, ligadas ao esoterismo e religião, afirmam que, quando os Senhores da Chama de Vênus chegaram à Terra – segundo a Teosofia, há 18 milhões de anos – eles dirigiram-se à região dos Andes e fundaram a cidade. Essas lendas levaram alguns pesquisadores a afirmar que a cidade nada mais é do que a lendária Atlântida (mais sobre a Atlântida na matéria A Atlântida na América).

                                                       Porta do Sol (Foto: Mhwater/ Wikimedia).

Existem poucas construções inteiras em Tiahuanaco, mas as ruínas indicam que o local deveria ser uma cidade de tamanho considerável. Ali podem ser encontradas bases de pirâmides e outras edificações, além de monumentos gigantescos, como a famosa Porta do Sol, o elemento marcante de Tiahuanaco.
Ela foi construída em um único bloco de pedra com 3 metros de altura por 3,75 de largura, pesando 10 toneladas, com um portal retangular cortado ao centro. O friso superior traz uma série de figuras ou inscrições ainda não decifradas, apesar de alguns pesquisadores afirmarem o contrário. Acredita-se que uma das figuras desenhadas no friso seja a do deus Viracocha, um dos muitos deuses civilizadores citados em mitologias ao redor do planeta. Para os adeptos da teoria dos antigos astronautas, Viracocha é a representação de um ser de uma raça extraterrestre que teria chegado ao local em uma época muito recuada, trazendo conhecimentos e dando início à civilização.
Até onde se sabe, na época da chegada dos espanhóis ao continente, os índios aimará viviam na região do Titicaca e de Tiahuanaco, e mesmo eles já não sabiam o que significavam os símbolos ou que tipo de escrita era aquela. Assim, sobraram as lendas. A pedra está rachada em um ponto, segundo alguns pesquisadores, devido a abalos sísmicos na região, ainda que a lenda, mais antiga do que essas explicações, diga que a pedra foi rachada devido ao impacto de um objeto que caiu do céu.

A estátua chamada O Monge (Foto: Fulsen/ Wikipedia).

Existem algumas estátuas, ou monolitos, imensas, algumas também apresentando inscrições que, segundo algumas pesquisas, têm caráter astronômico e se referem à esfericidade da Terra. Há muito se fala também que parte da cidade estaria submersa nas águas do lago Titicaca, e investigações recentes revelaram a existência de construções no local, o que poderia comprovar essa suposição.
As construções imensas de Tiahuanaco também sugerem a existência de seres humanos gigantes no passado longínquo da Terra. Na teoria radical de Hanns Hörbiger, por exemplo, os gigantes teriam vivido no Período Terciário, há 15 milhões de anos, desaparecendo devido a modificações extremas no clima e, principalmente, nas condições de gravidade do planeta. Denis Saurat – que, em parte, apoia a teoria de Hörbiger – disse que nessa época o oceano atingia a altitude de 3 ou 4 mil metros, o que faria de Tiahuanaco uma cidade litorânea. A ideia é difícil de se sustentar, uma vez que a ciência afirma que os Andes só se formaram por volta de 30 mil anos atrás. No entanto, uma extensa linha de depósitos marinhos pode ser encontrada ao longo dos Andes, o que é comprovado pelos estudos geológicos.
Segundo Hörbiger, o satélite da Terra na época estava muito mais próximo do planeta, exercendo uma atração de tal forma que o mar chegava até a cidade. Com o desaparecimento dessa lua, as águas recuaram e Tiahuanaco passou a existir a 4 mil metros de altitude. Essa noção, defendida por alguns pesquisadores, pressupõe que tenham existido duas Atlântidas: a mais antiga, a própria Tiahuanaco, e outra mais recente, destruída por volta de 12 mil a.C., quando uma nova lua foi capturada pela Terra, provocando novas catástrofes mundiais. Mas essa teoria chega a ser considerada extrema até mesmo pelos defensores da antiguidade de Tiahuanaco.
Essa época tão recuada no tempo poderia ser, segundo algumas fontes, o período em que uma raça de gigantes vivia no planeta, daí a existência de tão grande número das chamadas “construções ciclópicas” espalhadas pelo planeta, e em especial pela região andina.

Detalhe da parede do templo em Tiahuanaco (Foto: Luis Bartolomé Marcos/ Wikimedia).

É interessante notar que, tendo ou não relação com a proposta de Saurat, antigos textos com lendas dos astecas também fazem referência a períodos em que o planeta teria passado por sucessivas ondas de catástrofes, um período que teria durado 18 mil anos e que se dividiu em quatro fases diferentes. Na primeira, teria ocorrido um dilúvio e os homens se transformaram em peixes. Na segunda, furacões violentos, com os homens transformando-se em macacos, o que seria um simbolismo para representar que ocorreu uma regressão na civilização. Na terceira, teria ocorrido um “incêndio cósmico”; e, na quarta, ocorreu uma época de fome que destruiu quase toda a humanidade. Também existem referências a gigantes, os Kinamos, que teriam vivido na segunda época.
Estudiosos também citam o Popol Vuh, um livro que colheu lendas e histórias do povo quiche, uma das populações dos maias, no qual existem referências a uma época em que o fogo caiu do céu e em que a humanidade degenerou e transformou-se em macacos.
Mais ao norte, entre os hopi dos EUA, também existem lendas que fazem referência ao final do “segundo mundo”. Segundo os hopi – que podem ou não ser aparentados com os maias e até com algumas tribos dos Andes – os eixos norte e sul da Terra tinham dois guardiães, os gêmeos Pöqanghoya e Palöngawhoya, e eles abandonaram seus postos para que o “segundo mundo” pudesse ser destruído e o terceiro mundo surgisse. Assim, a Terra inclinou-se, causando uma série de transformações no planeta. Ainda que não se refira especificamente à entrada de um novo planeta ou satélite em nosso sistema, a menção a uma alteração do eixo da Terra é notável, e surge em uma série de especulações a respeito das catástrofes que poderiam ter ocorrido no planeta, algumas vezes levantadas por cientistas bastante respeitáveis.
Como ocorre com outras civilizações das Américas, eles já tinham conhecimento de que a Terra era redonda e entendiam que alguma coisa tinha ocorrido para transformá-la radicalmente, afetando toda a vida no planeta. E mais; as lendas e histórias a respeito de catástrofes vindas do céu espalham-se por centenas de raças e civilizações diferentes no continente americano, levando os pesquisadores a considerar que uma espécie de catástrofe de natureza cósmica teria realmente ocorrido no planeta.

Lado exterior do muro de Kalasasaya, em Tiahuanaco (Foto: Luis Bartolomé Marcos/ Wikimedia).

Alguns pesquisadores afirmam encontrar evidências da antiguidade da cidade nas próprias esculturas de Tiahuanaco. Ali teria sido representado um animal conhecido como toxodonte, cujos ossos fossilizados foram encontrados em escavações na região das ruínas. Segundo os cientistas, as criaturas viveram no Período Terciário e foram extintas no Quaternário, podendo ter vivido até cerca de 11.000 a.C.. Acredita-se que os primeiros hominídeos podem ter convivido com animais como o toxodonte, o megatério (uma espécie de preguiça gigante) ou o gliptodonte (uma espécie de tatu gigante).
Alguns cientistas chegaram a afirmar que o animal representado não seria o toxodonte, mas uma abstração ou algum outro animal da região. Quando pesquisadores querem simplesmente ignorar o fato, costumam dizer que, como não era possível os habitantes de Tiahuanaco conhecerem o toxodonte, obviamente trata-se da representação de outro animal ou ser mitológico – procedimento também conhecido como tapar o sol com a peneira. Só que, nesse caso de Tiahuanaco, a informação sobre o toxodonte foi confirmada por fontes científicas das mais respeitáveis. Os desenhos são parte de um panorama bem mais amplo e que inclui as gravações nas pedras de Ica, e as figuras e estátuas encontradas em Acámbaro ou em Morona-Santiago, que também apresentam gravações de animais pré-históricos, inclusive dinossauros, que não conviveram com os humanos.
Considerando verdadeira a informação sobre o toxodonte, resta saber como os habitantes de Tiahuanaco poderiam tê-lo representado. Para muitos que investigam a questão, a resposta só pode seguir por dois caminhos: ou a civilização viveu no mesmo período do animal – um longo espaço de tempo que vai de 1,5 milhão de anos até cerca de 11 mil a.C. –, ou essa civilização possuía um conhecimento científico de arqueologia semelhante ao que temos atualmente, o que implicaria na existência de uma série de conhecimentos científicos paralelos colocando a civilização em um nível muito acima do anunciado pela história oficial.
Outra questão frequentemente abordada diz respeito ao final de Tiahuanaco. Os estudos históricos afirmam que a cidade teria se extinguido por volta do ano 1.300 ou 1.400, uma data muito próxima do auge do império inca. Como se explicaria, então, o fato de os incas não conhecerem coisa alguma sobre Tiahuanaco, a não ser por meio de lendas que remontavam ao início dos tempos? Alguns investigadores prendem-se a esse ponto, afirmando que os historiadores e arqueólogos precisam rever seus posicionamentos.

Pesquisando a região do lago Titicaca, a arqueóloga Simone Waisbard afirma ter encontrado ossos gigantescos, além de um homem natural da região medindo mais de dois metros de altura, algo incomum nos Andes.

A Porta do Sol, em desenho do livro de Ephraim George Squier (1877).

Alguns dos chamados “cronistas da conquista” – historiadores espanhóis que registraram parte da história e cultura andinas – também se referem a uma raça de gigantes, os karis, sobre os quais os habitantes falavam. Alguns deles teriam chegado ao império inca ainda durante o reinado de Tupac Yupanqui (entre 1.448 e 1.482), e o próprio Pizarro teria visto um deles. O cronista Pedro Gutierrez de Santa Clara disse ter exumado alguns corpos e encontrado cabeças de gigantes. O grande problema com as descrições é que elas os apresentam como bárbaros e, portanto, incapazes de construir uma das obras de arquitetura mais impressionantes do mundo, além de as datas não estarem de acordo.
Ainda assim, a ideia resiste e indica que deveria haver mais estudos nesse sentido. Em 1970, por exemplo, foi descoberto um esqueleto humano ao norte de Santiago, Chile, medindo 2,38m. Escavando em uma profundidade de dois metros, também foram encontradas ossadas de animais pré-históricos e cerâmicas atribuídas aos gigantes, com desenhos que não se enquadram nas culturas conhecidas da região.
As histórias narradas pelos cronistas são muito criticadas por historiadores, uma vez que, segundo estes, elas contêm muita lenda e poucos fatos – os cronistas acreditavam em tudo o que os nativos diziam e, ainda por cima, tinham problemas com as traduções. Entre as crônicas mais criticadas estão as de Garcilaso de la Vega, autor de Historia General del Peru. Pesquisadores autônomos, no entanto, afirmam que tudo que se mostra em desacordo com a versão oficial da História é sumariamente desconsiderado, sem quaisquer considerações científicas.
Fica praticamente impossível para os leigos avaliar corretamente essas informações, mas ainda assim o pesquisador Robert Charroux disse que, ao final dos anos 1950, ele entrou em contato com o biólogo Beltrán Garcia, descendente de Garcilaso de la Vega, e este teria informações detalhadas obtidas de documentos originais de seu antepassado. Segundo ele, as informações obtidas nas próprias ruínas de Tiahuanaco diziam que seres evoluídos de outro planeta se estabeleceram na região durante a “época dos tapires gigantes” (provavelmente, os toxodontes), e ali teriam iniciado um processo de transformação genética e formação de seres adaptados à vida na Terra. A referência aos tapires também se enquadra no Período Terciário. No entanto, Simone Waisbard não concorda com essa visão, afirmando que Garcia era uma fraude, um fanático religioso que tentou estabelecer um culto em Paris: a Religião do Sol Inca.

Representação do deus Viracocha, no centro da Porta do Sol (Foto: Kunsthistorisches Museum Wien, Bilddatenbank/ 1903-1904).

O conceito da chegada de seres vindos de outro planeta está ligado às lendas sobre a deusa Orejona, que teria vindo de Vênus para dar origem à humanidade nos Andes. Sua representação mostra-a como tendo orelhas enormes, característica que deu origem ao seu nome, e quatro dedos palmados. Dizem os especialistas que nas ruínas de Tiahuanaco pode ser encontrada uma representação da deusa que, no mais, é bastante conhecida nas lendas locais. Assim como na mitologia maia, na Teosofia e em várias mitologias hindus, Vênus surge como a origem da vida na Terra, ou pelo menos como a fonte do conhecimento ancestral. Claro que a versão oficial prefere ver Orejona como uma explicação lendária para o surgimento da nobreza inca, o que nos deixa na mesma, uma vez que as datas da cultura inca são muito mais recentes do que as de Tiahuanaco.
Outras lendas sobre Viracocha dizem que os primeiros seres que ele criou – chamados wari runa (ou huari ruma) – seriam os próprios gigantes, que viviam na época conhecida como Naupa Pacha, o tempo dos ancestrais. Os indígenas locais afirmam que os naupas viveram muito antes dos incas, ensinando coisas aos homens e, quando foram embora, “subiram ao céu e nunca mais voltaram”.

A controvérsia em torno de Tiahuanaco também se estende para a possível existência de uma gigantesca civilização subterrânea. Robert Charroux diz que essa informação se encontra no livro Los Dos Tiahuanaco (1909), de Manuel González de la Rosa. Originalmente, essa suposta informação teria surgido em 1625 devido a uma tradução dos quipós incas feita por um intérprete apresentado como Katari, ainda que os historiadores afirmem que os quipos (ou quipus) não representavam uma linguagem.

Desenho do lago Titicaca, do livro de Ephraim George Squier.

Os quipos eram cordões de cores e comprimentos variados, com nós, e a suposta tradução afirmaria que o nome original de Tiahuanaco era Chucara, cujo significado seria “Casa do Sol”. O local onde hoje se encontram as ruínas seria apenas um local para cortar as pedras, com a verdadeira cidade abaixo do solo. Diz-se ainda que o naturalista francês Alcide d’Orbigny (1802-1857) teria encontrado algumas das entradas para essa cidade subterrânea quando explorou a região entre 1826 e 1833. Existem relatos de outros viajantes que teriam visto as galerias subterrâneas, escuras e malcheirosas. A tradução ainda diria que o rei de Tiahuanaco, Huyustus, teria reinado antes do Dilúvio e construiu a cidade de Wiñay-Marka sobre as ruínas da ancestral Chucara.
O interessante é que as explorações arqueológicas mais recentes de Tiahuanaco dão conta da existência de pelo menos cinco níveis, com cidades sobrepostas, mas de difícil datação, uma vez que muitas pedras foram retiradas da região e do sítio vizinho, Puma-Punku, para a construção de templos, igrejas e casas. Alguns cientistas entendem que é aí que se encontra o início da lenda sobre uma civilização subterrânea, uma vez que as cidades foram, de fato, construídas uma em cima da outra, como se verifica também em outros sítios arqueológicos do mundo.
Por outro lado, os arqueólogos peruanos não se manifestam a respeito de longos túneis subterrâneos, enquanto algumas expedições afirmam terem registrado sua existência. Por exemplo, é tido como verdadeiro e comprovado que, em 1923, uma equipe de espeleologistas explorou os túneis da região de Cuzco, que avançavam rumo ao litoral. Doze dias depois, apenas um homem retornou, dizendo ter encontrado um verdadeiro labirinto de túneis e obstáculos pelo caminho. E também, após o terremoto de 1972, surgiu um complexo de túneis sob a cidade de Lima. Como sistemas de túneis também são conhecidos no Equador, muitos entendem que essa pode ser a origem das lendas.

Quase sempre é muito difícil separar as lendas da realidade e, na região, elas são muitas. Diz-se, por exemplo, que nas ilhas do Lago Titicada vivia uma raça de homens brancos, que usavam barbas. Garcilaso de la Vega, que nem sempre é tido como uma fonte muito boa de informações, referiu-se à existência de uma raça de seres de pele branca, deuses enviados pelo deus Sol ára transmitir conhecimentos aos humanos. Pedro Pizarro, autor da crônica Descubrimiento y Conquista de los Reinos del Perú, em 1571, igualmente referiu-se à existência de pessoas de pele clara. Nesse caso, ele não estava falando de deuses que chegaram em épocas remotas, mas de pessoas que encontrou em suas viagens. Eram tidos como nobres, descendentes dos deuses, com cabelos loiros e com pele mais clara que a dos espanhóis.
Esses relatos são vistos por alguns pesquisadores como evidências bastante fortes de que uma raça diferente habitou a região, tenha ou não vindo de outro planeta. Na verdade, as lendas a respeito de “deuses” civilizadores brancos, loiros, que chegaram do mar ou das estrelas, surgem em todo o continente americano. No entanto, outros pesquisadores levantam uma questão que, entendem, não deveria ser desprezada nesses casos, e que se refere à possível influência dos religiosos – tanto espanhóis quanto portugueses – nos períodos pós-conquista e de colonização, que poderiam facilmente ter modificado as lendas originais para introduzir a figura do homem branco como um deus ou semideus que traz o conhecimento e a civilização para os povos bárbaros das Américas, confundindo os mitos originais com os cristãos, introduzindo a figura dos santos e de Jesus Cristo como os verdadeiros salvadores. Nem todos os pesquisadores aceitam uma posição como essa, entendendo que, de fato, essas lendas precederam a chegada dos europeus ao continente, mas sabendo-se o trabalho que foi realizado ao longo dos anos para modificar as lendas e crenças locais, tudo é possível.

Arqueólogos, antropólogos e pesquisadores alternativos divergem também no que diz respeito a existir ou não uma linguagem escrita na região dos Andes. Ainda que alguns antropólogos defendam a validade, eficiência e importância do registro oral, a descoberta de registros escritos traria muito mais informações ao estudo das civilizações locais.
Alguns pesquisadores entendem que essa escrita existe, e apenas não foi decifrada por não seguir os padrões conhecidos pelos ocidentais ou pelas culturas do Oriente Médio. Seja como for, o que as lendas afirmam é que a cultura e o conhecimento locais estão sendo transmitidos desde um período anterior ao dilúvio – um evento que também surge nas lendas do Andes.

Representação das inscrições nas pedras de Glozel (Imagem: Salomon Reinach/ Wikimedia).

Simone Waisbard afirmou que no idioma aimará existe uma palavra – kelka – que designa as letras do alfabeto para nós desconhecido, e kelkana, que significaria “escrever”. Não existe, entre os achados das antigas culturas dos Andes, uma pedra de Roseta, como a que possibilitou a decifração dos hieróglifos egípcios, mas os pesquisadores não têm dúvida quanto à existência de uma escrita hieroglífica.
Jacques Bergier e outros que investigam a pré-história, ou proto-história, entendem que a escrita é muito mais antiga do que se supõe. Normalmente, atribui-se a invenção ou desenvolvimento do primeiro sistema de escrita por volta do ano 3.400 a.C., na Suméria, data calculada para uma série de tabuletas encontradas no santuário de Eanna, na cidade suméria de Erech ou Uruk, e tidas como os documentos mais antigos referentes a uma escrita.
Esse posicionamento simplesmente desconhece o achado ocorrido em Glozel em 1924, cerca de 100 pedras gravadas com o que foi considerado uma escrita linear alfabética com idade provável de 12.000 anos. Segundo Bergier e outros pesquisadores, essas pedras foram encontradas por acaso e submetidas a um exame que atestou não haver falsificação, e depois toda a descoberta foi submetida a um processo de encobrimento, por razões puramente pessoais. No entanto, ainda que especialistas do mundo inteiro tenham atestado a veracidade das pedras, oficialmente não se reconhece a antiguidade proposta pelos pesquisadores alternativos. Se fosse assim, seria necessário recuar a história da escrita no mínimo em alguns milhares de anos, e com ela toda a história das civilizações.
Erich von Däniken citou e fotografou pedras com sinais semelhantes aos de Glozel que foram encontradas em Sutatausa, a cerca de 60 quilômetros de Bogotá e que, levadas para uma análise geológica, atestou-se que possuíam uma idade de alguns milhares de anos. Assim como ocorre com as pedras de Glozel e tantas outras descobertas pré-históricas, não se sabe que tenham sido realizados estudos mais pormenorizados desses achados, de modo que a história permanece como estava.

O Lago Titicaca em foto do satélite Sentinel-2 (European Space Agency/ CC BY-SA IGO 3.0).

Também são numerosas as histórias a respeito da existência de ruínas que estariam submersas no Lago Titicaca. Segundo algumas lendas, existiram várias construções no que hoje é o fundo do lago, e que foram submersas quando ocorreram inundações, talvez o dilúvio citado nas mitologias locais, o que aumentou o nível do lago.
O arqueólogo americano Ephraim George Squier (1821-1888) referiu-se a essas ruínas no livro Peru: Incidents of Travel and Exploration in the Land of the Incas (1877). Segundo disse, ao percorrer uma baía do Titicaca, que se encontra no lado oposto do lago, distante de Tiahuanaco, já no Peru, viu uma imensa parede de pedras trabalhadas, que podiam ser vistas sob a água não muito profunda da baía. Os habitantes da região dizem que, nas épocas de grande seca, as ruínas são mais facilmente visíveis.
Em 1937, as ruínas foram vistas mais uma vez, porém em outro ponto do lago. Um comandante da Marinha Peruana confirmou a existência das ruínas do que, provavelmente, seria uma cidade. Em 1956, um mergulhador profissional norte-americano, William Mardoff, também realizou uma exploração à procura de tesouros incas que, segundo algumas lendas, estariam escondidos sob o lago. Não encontrou nada além de algumas cerâmicas quebradas, mas apresentou um relato surpreendente a respeito de uma verdadeira cidade submersa, a cerca de 30 metros de profundidade. Depois disso, outros mergulhadores exploraram a região do lago, e diz-se ter encontrado ruínas também perto da Ilha de Simillaque, próximo ao rio Desaguadero, a cerca de 50 metros de profundidade.
A cidade que Mardoff teria encontrado poderia ser Chiopata, à qual várias histórias da região fazem referência. Assim, foi organizada uma expedição exploratória pelo mergulhador argentino Ramon Avellaneda, com apoio do jornal El Clarin e da Federação Argentina de Atividades Submarinas. A expedição contou com a presença de um especialista em fisiologia submarina, uma vez que seriam verificados pela primeira vez os efeitos da imersão humana em grande altitude, assim como uma equipe de filmagem subaquática. Depois de várias tentativas, os mergulhadores conseguiram encontrar ruínas a cerca de 8 metros de profundidade. Fotografaram e filmaram muralhas imensas, uma estrada pavimentada que acompanhava a costa do lago por várias centenas de metros. A arquitetura que conseguiram registrar no local, com paredes da altura de um homem, dispostas a cerca de 5 metros umas das outras, porém unidas pela base, é tida como única em toda a região. O conjunto de muralhas paralelas atinge, pelas contas da equipe chefiada por Avellaneda, um quilômetro de comprimento. Para alguns especialistas, essas ruínas seriam de uma época ainda anterior a Tiahuanaco. No entanto, é muito difícil encontrar essas supostas imagens ou fontes dignas de crédito a respeito dessa expedição.
O mergulho no lago é bastante difícil, uma vez que o fundo é composto de um lodo espesso e de difícil penetração, além de uma vegetação que prejudica a movimentação. Ainda assim, diz-se que o filme obtido pela expedição argentina foi o que levou o explorador Jacques-Yves Cousteau a realizar uma expedição no Titicaca, com aparelhagem mais moderna, inclusive levando dois pequenos submarinos e sonares. A equipe atingiu 300 metros de profundidade e Cousteau mostrou-se bastante satisfeito com os estudos técnicos realizados sobre o fundo do lago e sobre a importância da pressão em altitudes como aquela. No entanto, estranhamente, não se estendeu a respeito da existência de ruínas, ainda que no brilhante documentário produzido por sua equipe a respeito dos mergulhos no Titicaca eles tenham citado a existência de ruínas submersas no lago.

A parte de trás da Porta do Sol, como estava em 1903 (Foto: Kunsthistorisches Museum Wien, Bilddatenbank).

Existem duas linhas básicas de pensamento que ligam Tiahuanaco à lendária Atlântida. Uma teoria diz que Tiahuanaco seria a própria Atlântida, com o local tendo sido visitado em tempos ancestrais por homens do outro lado do mundo, cujas narrativas teriam chegado aos gregos e outros povos. Outra teoria afirma que os atlantes teriam sido os fundadores de Tiahuanaco, por volta de 10 ou 12 mil a.C.
A primeira proposta remete a fundação de Tiahuanaco para o tempo mítico proposto pelas narrativas locais, ou seja, para o início dos tempos, ou milhões de anos antes de Cristo, o que estaria de acordo com o que diz a Teosofia a respeito da chegada dos Senhores da Chama de Vênus à Atlântida, 18 milhões de anos atrás. Assim, a grande catástrofe mundial, o Dilúvio, poderia ter ocorrido em Tiahuanaco, ainda que a questão envolvendo um dilúvio universal ainda não esteja resolvida entre os estudiosos, uns achando que ele ocorreu de fato em todo o planeta, outros achando que ocorreram vários “dilúvios” localizados.
Assim, devido a alterações climáticas violentas no planeta, chuvas torrenciais teriam invadido a cidade subterrânea de Tiahuanaco, cujos habitantes seriam descendentes dos seres que vieram de outro planeta e que já sofriam problemas sérios de adaptação, tornando-se incapazes de procriar. Os sobreviventes da catástrofe teriam, então, saído de sua “ilha” e viajado para a África, onde ensinaram os rudimentos de sua ciência àqueles que fundariam o grande reino do Egito. Segundo esse ponto de vista, para o qual certamente não existem provas, mas apenas evidências e especulações, Tiahuanaco estaria terminando sua existência 10 mil anos a.C., época em que apenas começavam a se desenvolver as civilizações do norte da África e Mesopotâmia. E temos também a teoria de Denis Saurat, à qual já nos referimos anteriormente.

Escavações arqueológicas na pirâmide de Akapana, em Tiahuanaco (Foto: Pavel Špindler/  Creative Commons Attribution 3.0 Unported/ Wikimedia).

A segunda proposta mantém a ideia básica de que a Atlântida era um continente existente no Oceano Atlântico, e que de lá partiram levas de colonizadores, tanto para a região do norte da África – onde dariam origem à civilização egípcia – quanto para a América, onde formariam a civilização Maia, na América Central e do Norte, e Tiahuanaco. Essa proposta também amplia a antiguidade da civilização Maia, geralmente vista pelos arqueólogos e historiadores como tendo seu período áureo iniciando por volta do ano 250.
Seguindo a ideia da colonização atlante, ela teria ocorrido aproximadamente na época em que ocorreu sua destruição, espalhando os sobreviventes para os demais continentes do planeta. Isso nos remete a cerca de 10 ou 12 mil a.C., uma época muito distante daquela atribuída oficialmente ao início de qualquer civilização nas Américas.
De certa forma, o conceito de uma ligação com a Atlântida é despertado tanto pela antiguidade das ruínas quanto pela grandiosidade das obras, assim como pela existência de construções piramidais que, nos dias de hoje, dificilmente podem ser percebidas devido à destruição causada pelos habitantes do local desde a época da conquista dos espanhóis. No entanto, as narrações dos primeiros exploradores de Tiahuanaco são bem claras nesse sentido, referindo-se à existência de vários templos com formato piramidal e de palácios cercados por pirâmides de menor estatura.
O fato de as pirâmides espalharem-se pela América do Norte, Central e do Sul, assim como pelo Egito e Oriente Médio, é apresentado pelos pesquisadores alternativos como uma evidência da existência de um ponto em comum, uma cultura única da qual as demais teriam herdado seus conhecimentos e técnicas de engenharia e arquitetura. As dificuldades que se apresentam para a construção de pirâmides e outras estruturas em Tiahuanaco, utilizando-se de pedras de proporções monumentais, não são menores do que as dificuldades para a construção dos templos e monumentos dos maias na América Central ou do Norte, e para as pirâmides do Egito, que ainda hoje suscitam discussões apaixonadas e as teorias mais diversas. Por outro lado, vários cientistas afirmam que a forma piramidal é a mais fácil de ser pensada e elaborada.

O paleontólogo Peter Wilhelm Lund, trabalhando em caverna próxima a Lagoa Santa (Ilustração de P. A. Brandt, c. 1840).

Alguns historiadores, arqueólogos e pesquisadores alternativos defendem a probabilidade de que a Atlântida tenha sido o berço da colonização das Américas citando uma série de evidências que teriam localizado. Simone Waisbard afirmou que foi possível resgatar uma espécie de “caminho” percorrido pelos Laguidas, seres de crânio convexo e tronco encurtado que seriam os antecessores dos Urus, que ainda hoje vivem nas margens do Lago Titicaca, próximo ao Rio Desaguadero. Ela diz que existem rastros deles desde o Oceano Atlântico até o Pacífico, entendendo que as ossadas descobertas pelo naturalista e arqueólogo dinamarquês Peter Wilhelm Lund (1801-1880) na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais, por volta de 1843, seriam os homens pré-históricos Laguidas, caçadores de toxodontes e megatérios. Alguns especialistas atribuem uma idade de 20 a 40 mil anos a esses restos, porém, mais uma vez, a distância cultural entre os homens pré-históricos e os construtores de Tiahuanaco e Puma Punku é gigantesca, ou seja, aqueles não poderiam ser os construtores das obras de engenharia e arquitetura avançada que vemos nesses locais. Como sempre, as posições a respeito das datações não coincidem, de modo que alguns arqueólogos e antropólogos entendem que os restos encontrados na região da Lagoa Santa não ultrapassam 12 mil anos. Recentemente, pesquisadores brasileiros trabalhando num crânio feminino encontrado na região em 1975 entenderam que a idade do mesmo seria aproximadamente essa, e mais, que não tinha características dos indígenas da América, mas que era aparentado com habitantes da África, levantando-se então a hipótese de que a navegação da África para a América já tinha sido realizada anteriormente.
Ainda assim, muitos pesquisadores ainda sustentam a antiguidade maior das ossadas. Outras datações e posturas científicas entendem que o desaparecimento da fauna brasileira (e da América do Sul, por extensão) que incluía animais como o tigre dente-de-sabre ou o próprio megatério coincidiu com uma grande mudança climática mundial, porém a cerca de 10 ou 12 mil anos atrás, o que colocaria a existência desses animais num período bem mais próximo, não mais no Pleistoceno, mas no Holoceno. Por outro lado, a data coincidiria com aquela geralmente apontada para o dilúvio.

                                                                              Uma chullpa em Sillustani, no Peru (Foto: ESkog/ Wikipedia).

Alguns arqueólogos também estabeleceram uma semelhança entre traços da arquitetura dos maias com as obras conhecidas como chullpas, que são torres sepulcrais com uma espécie de abóbada, encontradas na região do Titicaca e atribuídas aos aimarás.
Alguns pesquisadores alternativos afirmam que chullpa também era a designação de um povo que, segundo algumas fontes, eram gigantes ferozes. Simone Waisbard procurou relacionar a existência desse povo com um crânio gigantesco encontrado em Puno, no Peru, às margens do Titicaca, com uma caixa craniana imensa e extremamente sólida, além de possuir um maxilar superior poderoso e um maxilar inferior reduzido, com apenas quatro molares.
Diz-se ainda que um dos cronistas da época da conquista afirmou que os chullpas tinham vindo do Panamá, dividindo-se em clãs, um dos quais seria o dos aimarás, tidos como os últimos habitantes de Tiahuanaco, em uma época em que nem mais se lembravam de sua história a não ser pelas lendas. Assim, a palavra aimarás significaria “os maias distantes”, acreditando-se assim que os próprios maias poderiam ter descido pela América Central e penetrado nos Andes.

Uma chullpa em desenho do livro de Ephraim George Squier (1877).

Essa referência à vinda dos chullpas do Panamá é bastante interessante uma vez que, em 1906-7, um engenheiro alemão citado apenas como Dziuk, residente no Panamá, realizou uma expedição à região de Darien, que faz fronteira com a Colômbia. Segundo seu relato, colhido por Alexandre Braghine, nas florestas do local ele encontrou monólitos com textos em alfabetos não identificados e também uma laje com uma representação gráfica de um mastodonte, animal já extinto nas Américas. E, ainda mais interessante, afirma ter encontrado uma tribo de indígenas de olhos azuis e cinzas, descendentes de uma raça pré-histórica. Assim, alguns pesquisadores elaboraram a teoria de que eles poderiam ser os descendentes dos atlantes, e que posteriormente à sua chegada ao Panamá poderiam ter emigrado para o sul, chegando até Tiahuanaco, da mesma forma como os caraíbas, igualmente tidos como descendentes dos atlantes, teriam se dirigido à Venezuela e ao norte do Brasil.
Por outro lado, outros pesquisadores entendem que essas mesmas descobertas também podem sustentar a opinião de que o movimento deu-se de forma inversa, ou seja, com os indígenas partindo de Tiahuanaco (ou do Brasil, segundo algumas linhas de pensamento), atingindo a América Central e, posteriormente, o Egito. Diz-se ainda que, em 1931, uma expedição do Smithsonian Institute chegou a Darien e levou alguns dos índios brancos a Washington, descobrindo-se que seu idioma tinha alguma semelhança com o sânscrito.

Alguns linguistas que se debruçaram sobre a questão das semelhanças linguísticas também entendem que podem existir semelhanças fonéticas entre os idiomas nativos da Guatemala e México antigos e os idiomas dos Andes.
A descoberta de algumas pinturas rupestres em cavernas na região dos Andes levou alguns arqueólogos e historiadores a pensar em termos de um povoamento dos Andes via norte, com maias ou outros povos descendo da América do Norte e Central e estabelecendo-se aos poucos na região, talvez fundando na região do Lago Titicaca seu primeiro centro urbano. No entanto, para outros pesquisadores, mesmo essas descobertas nas cavernas pouco significam, uma vez que não eliminam a possibilidade da colonização atlante, que poderia ter-se iniciado pelo Amazonas e se dirigido para o leste antes de descer os Andes.
Outra linha ainda entende que nem todas as descobertas citadas e apresentadas como prova da existência de culturas pré-históricas sucessivas caminhando para o sul explicariam os mistérios locais, uma vez que as épocas citadas estariam totalmente fora de propósito. Esses primeiros colonizadores, ainda sem os conhecimentos de engenharia mais desenvolvidos, vivendo de maneira primitiva, teriam chegado à região no máximo 10 mil anos a.C. Os vestígios mais antigos encontrados têm essa idade, mas representam um homem de estatura baixa, vivendo da caça de guanacos e utilizando-se de armas primitivas. Não se trata do mesmo ser gigantesco. Claro, diferentes tipos humanos devem ter coexistido na região, mesmo em tempos mais recuados, mas ainda é impossível afirmar quem teria construído Tiahuanaco e dominado os Andes.

A questão das datações é uma fonte de desentendimentos constantes entre a versão oficial e a alternativa. Algumas cronologias citam o período Chavín como tendo iniciado, no máximo, por volta de 850 a.C., enquanto outros falam em 3.000 a.C. Os historiadores clássicos, por exemplo, situam o aparecimento de Manco Capac, que teria sido o fundador do Império Inca, por volta do ano 1.200., enquanto outras fontes citam como mais provável a data de 3.500 a.C.
As lendas, que já existiam quando os espanhóis chegaram, já se referiam à existência de um mundo subterrâneo. Assim, Manco Capac teria surgido de uma das três aberturas que levam a um mundo subterrâneo, que estariam localizadas na colina de Tampu Tocco, próxima à Cuzco, e que segundo as histórias sobre Tiahuanaco, nada mais seriam do que o caminho subterrâneo de Tiahuanaco até Cuzco. Não é de se estranhar, portanto, que algumas versões da lenda afirmem que Manco Capac teria surgido em Tiahuanaco, onde foi criado pelo Sol, juntamente com sua irmã.
Uma descoberta arqueológica ocorrida em 1953, pelo Dr. Bird, do Museu de História Nacional de Lima, complica ainda mais a questão das datações e confunde as cabeças no que diz respeito às possíveis origens das civilizações locais. A descoberta foi um túmulo, atribuído a um príncipe que teria vivido em uma época 4 mil ou mesmo 5 mil anos a.C. E mais, muitos arqueólogos e pesquisadores autônomos insistem que o túmulo contém características claras de um sarcófago egípcio. Assim, além de uma possível relação com os maias, teria sido encontrada uma possível relação com os egípcios, o que poderia reforçar as teorias daqueles que apresentam a Atlântida como uma origem comum a essas civilizações.

Questões técnicas ainda dividem os especialistas no que diz respeito às datações na América do Sul, alguns entendendo que os mesmos métodos não podem ser aplicados da mesma forma aqui e na Europa ou na África. No início dos anos 1970, por exemplo, desenvolveu-se um novo método de datação conhecido como RAA, ou Racemização por Ácido Aspártico (Aspartic Acid Racemization), posteriormente tido como inválido. No período em que foi utilizado, chegaram a ser encontrados ossos humanos datados em até 70 mil a.C., como o caso do osso humano encontrado em Sunnyvale, na Califórnia. Por outro lado, muitos arqueólogos referem-se a objetos que não podem ser datados pelo método RAA ou mesmo pelo Carbono 14, mas que foram encontrados em camadas geológicas que datam de milhares de anos. Na escavação arqueológica de Flagstaff, no Arizona, foram encontrados objetos datados em 100 e 170 mil anos. E mais, no México, foi obtida a data de 250 mil a.C. Assim, essas datas são consideradas por um bom número de pesquisadores, mas dificilmente são citadas como evidências de que uma civilização já existia nas Américas muito antes da provável vinda de imigrantes através do Estreito de Behring, e ainda sugerem que pode ter ocorrido, inclusive, uma imigração no sentido contrário.
Tudo indica que ainda há muito a ser descoberto acerca de Tiahuanaco, e o local continuará sendo um prato cheio para as mais variadas teorias.


 

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