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Presença Extraterrestre nos Textos Antigos

REVENDO A HISTÓRIA

Autor Gilberto Schoereder
14/07/2022

Pelo menos desde o século 19 vários pesquisadores vêm falando sobre a presença de extraterrestres no passado do nosso planeta.


Concepção artística de um suposto planeta coberto por água na estrela binária Kepler-35A e B(NASA/JPL-Caltech).

Ao que tudo indica, o conceito da presença extraterrestre no passado do nosso planeta começou a se formar aos poucos. Provavelmente, as primeiras ideias surgiram de textos místicos, religiosos ou esotéricos, para depois ganhar um cunho mais materialista, com a observação dos possíveis sinais de sua presença nas diferentes culturas.
Alguns citam o místico, teólogo e filósofo sueco Emanuel Swedenborg (1688-1772) como um dos primeiros a tocar no assunto, mas na verdade Swedenborg levantou a possibilidade da existência de vida em outros planetas, a partir de visões e sonhos, e não especificamente sobre a ação de extraterrestres em nosso planeta. Nesse ponto, sua obra não é muito diferente da obra do astrônomo francês Camille Flammarion (1842-1925), que escreveu A Pluralidade dos Mundos Habitados (La Pluralité des Mondes Habités, 1862), e que teve influência no Espiritismo desenvolvido por Allan Kardec. Ainda no Espiritismo, em 1949, o espírita brasileiro Edgar Armond (1894-1982) lançou o livro Os Exilados de Capela, no qual também falava da chegada de seres ao nosso planeta. No entanto, esses seres teriam chegado como espíritos, reencarnando nos seres humanos primitivos que habitavam a Terra e, dessa forma, iniciando uma nova etapa da vida no planeta; como tinham conhecimentos superiores aos das raças primitivas então existentes na Terra, puderam alavancar nosso desenvolvimento.

O planeta Vênus, em imagem simulada em computador a partir das imagens da sonda Magellan (NASA/JPL).

Essa possível presença alienígena na Terra também começou a ganhar corpo a partir de 1875, data da fundação da Sociedade Teosófica, de Helena Blavatsky, que divulgou uma série de conceitos místicos e esotéricos que compuseram a Teosofia. Ganhou força em especial com as publicações posteriores de Charles W. Leadbeater e Alice Bailey, também membros da Sociedade Teosófica.
Basicamente, os textos publicados pelos teosofistas diziam que seres de Vênus teriam vindo para a Terra há 6,5 milhões de anos, e teriam fundado a cidade de Shamballa. Esses seres geralmente são conhecidos como os “senhores da chama de Vênus”, e teriam vindo com a missão de acelerar a evolução da humanidade.
O principal desses seres seria Sanat Kumara, que chegou a ser citado por Blavatsky, que considerava que ele foi erroneamente interpretado como sendo Lúcifer. Posteriormente, a narrativa a respeito desses seres foi ampliada, especialmente com Elizabeth Clare Prophet, esposa de Mark L. Prophet, fundador da Summit Lighthouse em 1958, de quem se dizia que recebia mensagens diretamente dos mestres ascensionados. Sobre Sanat Kumara, os ensinamentos da Summit diziam que ele veio acompanhado por mais de 100 mil almas voluntárias.

Não sei dizer se a ficção científica teve alguma influência no desenvolvimento desse conceito, mas algumas histórias da literatura fantástica já vinham sendo elaboradas bem antes dos primeiros livros dos anos 1950 surgirem. É o caso de Edison’s Conquest of Mars, de Garrett P. Serviss, publicado em 1898, no qual há uma passagem em que um personagem fica sabendo que um grupo de humanos foi abduzido da região da Caxemira há 9 mil anos, na primeira invasão marciana ao planeta Terra, época em que construíram monumentos como as grandes pirâmides do Egito e a Esfinge.
Em várias de suas histórias, o escritor H.P. Lovecraft também escreveu sobre os terríveis alienígenas que teriam habitado a Terra há milhares ou milhões de anos (ver mais no ensaio O Mal e o Terror Absolutos). E ainda outros escritores visitaram o tema (ver mais na matéria Os Primeiros Extraterrestres).
Mas no que diz respeito às pesquisas alternativas e ao levantamento de possíveis marcas dessa passagem extraterrestre pelo planeta, os principais livros começaram a surgir nos anos 1950. Foi o caso, por exemplo, de Flying Saucers Have Landed (1953), de Desmond Leslie e George Adamski, este último um dos mais famosos “contatados” da primeira fase dos estudos ufológicos. O texto de Leslie fala bastante sobre os avistamentos de OVNIs, e também destaca sinais da presença de seres extraterrestres no passado distante.
Na edição revisada do livro, publicada em 1970, ele escreveu na Introdução: “Cerca de 18 milhões de anos atrás, segundo estranhas e antigas lendas do nosso pequeno planeta, em uma época em que Marte, Vênus e a Terra estavam em conjunção próxima, ao longo de um caminho magnético que se formou, chegou uma embarcação imensa, brilhante, radiante, de poder e belezas deslumbrantes, trazendo à terra ‘três vezes 35’ seres humanos de perfeição além dos nossos mais altos ideais; mais exatamente deuses que homens (...)”.
Leslie diz que fez essa sugestão, de que homens poderiam ter vivido há 18 milhões de anos, em 1953, mas na verdade a citação é a mesma da Teosofia – cuja fonte, aliás, é citada na nota de rodapé. O conceito é o mesmo desenvolvido por Leadbeater, Bailey e seus seguidores.
Mas Desmond Leslie apresentou uma série de ideias e conceitos que, ao longo dos anos, iriam formar a base do pensamento a respeito da presença extraterrestre em nosso passado distante. Entre outras, ele levantou a ideia de que algumas raças ancestrais tinham o conhecimento de algum tipo de energia “sutil”, algo que a ciência não reconhece. Para Leslie, se essas “forças sutis” que os povos antigos “conheciam, controlavam e descreveram em abundantes registros” nunca existiram, como eles poderiam ter obtido tanto conhecimento e sustentado suas civilizações, não por séculos, mas por milênios, se a premissa sobre a qual eles erigiram essas civilizações fosse a superstição ignorante?

Esse é um ponto central para o desenvolvimento de todo o conceito da presença extraterrestre em nosso passado, supondo que as antigas civilizações não teriam o conhecimento e a tecnologia suficiente para erigir tantas obras monumentais. Também é um dos principais pontos de discórdia entre os defensores da teoria e os cientistas, que levantaram uma série de evidências de que as civilizações em questão teriam, sim, as técnicas capazes de realizar as obras em questão.
Leslie especulou a respeito da força ou energia que moveria os discos voadores, de certa forma relacionando a questão a supostos poderes mentais capazes de fazer as pessoas levitarem, ou voarem, levantando passagens de textos antigos, entre eles o Popol Vuh e o Livro de Dzyan, uma obra mítica relacionada com a Teosofia e jamais apresentada de fato. Daí surge a noção de que essa capacidade de erguer objetos com o poder da mente pode ter sido responsável pela construção de obras monumentais, como as pirâmides do Egito, ou algumas construções gigantescas da América do Sul.
O autor também referiu-se aos vimanas, citados em antigos documentos da Índia como sendo os veículos dos deuses. E ao fazer isso, ele cita o livro The Story of Atlantis (1896), de William Scott-Elliott, outro teosofista que seguiu os conceitos inicialmente apresentados por Helena Blavatsky. Ele ainda cita o livro de James Churchward, The Children of Mu (1931), no qual o autor afirma ter tido acesso a antiquíssimos documentos hindus que, segundo lhe teriam dito, eram cópias de documentos ainda mais antigos, anteriores à civilização hindu. Nesses manuscritos estariam instruções para a construção de aeronaves, incluindo sua força propulsora.

Nos anos seguintes, uma série de escritores publicaram obras seguindo nessa direção, entre eles Harold T. Wilkins (Flying Saucers From the Moon, 1954), Morris K. Jessup (UFO and the Bible, 1956), Peter Kolosimo (Il Pianeta Sconosciuto, 1957), Henri Lhote (A la Découverte des Fresques du Tassili, 1958), Robert Charroux (História Desconhecida dos Homens, desde há 100 mil anos, 1963; Legacy of the Gods, 1964; The Gods Unknown, 1965), W. Raymond Drake (Gods or Spacemen?, 1964). E também o famoso O Despertar dos Mágicos (1960), de Jacques Bergier e Louis Pauwels, que também foram os fundadores e editores da famosa revista Planète, entre 1961 e 1972, ainda que o livro não apresente o conceito da visita de extraterrestres de forma tão categórica quanto os demais autores.
Apesar de todos esses antecedentes, parece não haver dúvida de que foi com o livro de Erich von Däniken, Eram os Deuses Astronautas? (1968), que o tema ganhou a popularidade mundial que desfruta ainda hoje. Por alguma razão, a obra obteve um sucesso internacional que as anteriores não conseguiram, e deu ao tema uma visibilidade muito maior do que até então conhecera.

A Porta do Sol, provavelmente a estrutura mais popular de Tiahuanaco, objeto de estudo e especulações de Erich von Däniken (Foto: Pavel Spindler/ Wikimedia).

No geral, Däniken replicou algumas das teorias já levantadas anteriormente, talvez esmiuçando algumas das questões, e falando de construções ciclópicas espalhadas pelo planeta, inclusive na América do Sul, como as ruínas de Tiahuanaco, ou as linhas de Nazca. Na Introdução do livro ele disse que “(...) há algo de errado no passado longínquo, que dista de nós milhares e milhões de anos. Esse passado repleto de deuses desconhecidos, que visitaram a Terra primitiva em espaçonaves por eles tripuladas...”. Ou seja, o conceito é o mesmo que já vinha sendo apresentado por vários outros autores. Para ele, o conhecimento que temos do passado “(...) seguiu as linhas de um quadro mental preconcebido, de acordo com o qual foram assentadas as diferentes partes, não raro com remendos de argamassa por demais visíveis. Determinado acontecimento deveria ter ocorrido desta ou daquela forma. De certa forma, precisamente, e não de outra. (...) Temos o direito e, não menos, o dever de manter sob perpétua dúvida as estruturas tradicionais de pensamento, bem como qualquer hipótese engenhosa, por mais que, apenas como tal, pareça explicar um mistério ainda não desvendado. Se as ideias em curso não puderem ser discutidas, a pesquisa terá chegado ao fim”.
E, nesse ponto, ele está correto. Não são poucos os pesquisadores, e alguns deles cientistas, que refutam verdades estabelecidas como absolutas, em particular no campo da arqueologia (ver algumas dessas situações na matéria A História Mal Contada da Humanidade, uma entrevista com Michael Cremo). Mas, de modo geral, os cientistas são bastante reticentes quanto a mudar pontos de vista já estabelecidos nessa área. Dessa forma, entendem que quaisquer propostas de revisão histórica radical são meras fantasias, sem qualquer base científica.

A ideia da necessidade de uma revisão de nossa história distante tinha sido reforçada em 1966, com a opinião de peso de dois cientistas renomados, Carl Sagan e Iosif Shklovsky, com a publicação do livro Intelligent Life in the Universe, que traz um capítulo no qual apresentam o argumento de que cientistas e historiadores deveriam considerar seriamente a possibilidade de que seres extraterrestres poderiam ter visitado nosso planeta no passado remoto.
Os dois cientistas não foram a fundo na questão, mas apenas apresentaram a ideia como uma possibilidade, uma especulação sem provas, ao contrário daqueles que defendem a teoria, entendendo que antigas histórias preservadas pelos povos ao longo dos milênios poderiam trazer informações interessantes a serem pesquisadas mais profundamente. Eles chegaram a citar as lendas a respeito do ser conhecido como Oannes, que teria levado conhecimentos superiores aos sumérios.
Posteriormente, em seu livro Broca’s Brain (1979), Carl Sagan chegou a sugerir que ele e Shklovsky poderiam ter inspirado a série de livros sobre o assunto que surgiu nos anos 1970, mas, como vimos anteriormente, o conceito é bem mais antigo do que isso. O autor Conrad Bauer, em Ancient Astronauts: Discerning Facts from Myths (2018), lembra que Sagan minimizou a teoria, explicando que tudo o que ele queria era que as pessoas considerassem a possibilidade, achando terrível que von Däniken e outros autores fossem tão pouco críticos em sua forma de pensar. Segundo ele, era irresponsável entender aquilo que Sagan via como as evidências mais circunstanciais, como sendo provas absolutas de um contato extraterrestre na antiguidade.
E até mesmo antes de Sagan falar sobre o assunto, o matemático russo Matest M. Agrest já havia se manifestado, inicialmente no artigo The Astronauts of Yore (1961) e também com Cosmonauts in Antiquity? (1962). Agrest certamente pode ser visto como um dos influenciadores de Däniken, Sitchin e outros pesquisadores, inclusive lançando a ideia de que Baalbek foi palco de aterrissagens de extraterrestres e que Sodoma e Gomorra foram destruídas por explosões nucleares.

Desde sua estreia, Däniken publicou dezenas de livros sobre o tema, trazendo novas especulações e evidências sobre a passagem dos extraterrestres pela Terra, ou apenas refutando os ataques que sofreu ao longo dos anos.
Nos anos seguintes ao lançamento de Eram Os Deuses Astronautas?, inúmeros livros surgiram, de dezenas de autores, abordando diferentes aspectos da questão, muitos deles examinando a Bíblia e encontrando várias passagens que poderiam ser consideradas como evidências de contatos com seres de outros planetas.
Vamos ver algumas das alegações nas matérias seguintes.

 

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