FANTASMAS
OS CAÇADORES E SEUS FANTASMAS
Autor |
Gilberto Schoereder |
|
27/12/2022 |
Alguns pesquisadores dedicaram suas vidas à tentativa de registrar a presença das entidades que supostamente assombram um local.
(Imagem: SuperHerftigGeneral/ Pixabay).
Uma característica geralmente atribuída às aparições de fantasmas foi derrubada pela simples observação estatística. Por exemplo, costumava-se dizer que os fantasmas surgiam periodicamente, em um determinado dia, quase sempre associado à data da morte da pessoa que morava no local assombrado. No entanto, em observação realizada por cientistas em quase 400 casos, apenas 7 aparições eram periódicas, e somente duas coincidiam com a data em que a pessoa havia morrido.
A mesma técnica estatística permitiu, no entanto, confirmar o grande número de casos de assombração ligados a um acontecimento trágico ou violento. O pesquisador René Sudre citou um estudo de 304 casos de assombrações em que 180 casos se referiam a um acontecimento trágico verificado no local; 27 em que foram encontrados restos humanos enterrados no local; 71 em que a pessoa teria morrido no local; 26 em que, apesar de a pessoa não ter morrido no local, ali teria vivido por muito tempo.
Não é por acaso, então, que as casas assombradas estão entre os objetos diretos de estudo de muitos interessados no assunto. Foi daí que surgiram os chamados “caçadores de fantasmas”, especialistas no assunto que se dirigem aos locais assombrados para colher informações e estudar o fenômeno de perto. E eles tanto podem ser cientistas quanto, por exemplo, encanadores, como se orgulhavam de ser os protagonistas da série Caçadores de Fantasmas, do canal SciFi.
Um dos mais famosos caçadores de fantasmas foi Hanz Holzer (1920-2009), utilizando técnicas que considerava científicas, mas que também foram bastante contestadas. Ele definiu o fantasma como uma recordação emocional de uma pessoa falecida tragicamente. Seguindo de perto a linha proposta pelos espíritas, ele entende que a pessoa morta dessa forma não conseguiria libertar-se do transtorno emocional provocado no momento de sua morte, permanecendo ligada ao local.
Hans Holzer (Foto do próprio, entre 1963-65).
É o mesmo tipo de conceito que vê os fantasmas como entidades que não têm conhecimento da passagem do tempo, o que explicaria sua permanência em um mesmo local durante séculos, como nos casos das assombrações mais persistentes, sempre revivendo os momentos de sua morte, os momentos mais trágicos.
Em suas investigações de casas supostamente assombradas, Holzer chegou a verificar que, em algumas, a presença de fantasmas podia ser detectada por meio de um contador Geiger, próprio para medir radiações. Quando ele se utilizava de médiuns para detectar e entrar em contato com esses fantasmas, também podia perceber que, durante o processo, os médiuns perdiam peso, voltando a recuperá-lo logo após. Para Holzer e outros que levantam a tese dos espíritos, esses seres se utilizariam da energia do médium como forma de se comunicar, extraindo “fluido” dos vivos.
Para tentar comprovar a presença dos fantasmas nos locais, Holzer iniciou uma série de experiências com fotografias, que ele entendia que não poderiam ser acusadas de sofrerem de alucinação e, portanto, deveriam registrar o que estivesse presente no local. Na verdade, ele afirmou ter o costume de sempre tirar fotografias nas casas tidas como assombradas que investigou, esperando que as fotos mostrassem alguma coisa a mais do que aquilo que ele estava vendo. Assim, ele quase nunca sabia exatamente o que iria encontrar antes do filme ser revelado.
Não seria um caso único, uma vez que já se registraram várias vezes fotografias que apresentam traços de rostos ou corpos, às vezes levemente esfumaçados, outras vezes mais nítidos, que não podiam ser detectados a olho nu no momento em que a fotografia foi obtida.
(Imagem: Daniel/ Pixabay).
Holzer citou um caso ocorrido em 1964, quando foi convidado para investigar uma casa assombrada em Los Angeles. No local, existia um quarto onde, anos antes, houvera uma briga entre dois homens e uma jovem, resultando em duas mortes. Desde então, ouvia-se ali barulhos constantes durante a noite. Chegando ao local, Holzer nada percebeu, mas mesmo assim bateu as fotografias. Quando revelou, em uma delas surgia uma figura transparente de uma jovem. Segundo Holzer, havia uma médium no quarto ao lado, o que poderia ter propiciado a realização da fotografia.
No mesmo ano, ele realizou outra série de fotografias na Catedral de Winchester, na Inglaterra, na qual algumas pessoas já haviam visto fantasmas de monges andando como em procissão. Naquele local, no século 16, alguns monges tinham sido mortos por ordem de Henrique VIII. Após a revelação das fotos, Holzer percebeu a presença de três figuras e, o mais notável, que eles pareciam mais baixos, com suas cabeças abaixo do plano em que deveriam estar. Ele descobriu então que o chão da catedral havia sido elevado anos antes, o que significaria que os fantasmas deslocavam-se na altura do que deveria ser o piso original da catedral.
Hans Holzer, obteve algumas fotos fantásticas com o médium John Myers, como esta em que aparece o rosto da falecida mãe de Holzer.
Algumas das experiências realizadas por Holzer e que chamaram a atenção foram as chamadas “fotografias psíquicas”, ou ainda “fotografias supranormais”, com o médium inglês John Myers (falecido em 1972). Ele obtinha fotografias do que se entendia serem espíritos, sem sequer tocar na máquina fotográfica ou nos filmes. Myers entrava em estado de transe, longe do filme e, quando este era revelado sem ter sido exposto à luz, mostrava formas humanas. Em uma das fotos, Holzer reconheceu a imagem de uma tia falecida há anos, e a qual Myers evidentemente não conhecera e da qual jamais tivera conhecimento. Nas sessões realizadas com outras pessoas, várias reconheceram parentes já falecidos nas imagens das fotos. Uma sessão foi realizada em um programa de televisão e, quando as fotos foram reveladas, Holzer reconheceu um retrato de sua própria mãe, falecida anos antes.
Em suas pesquisas com fotos de fantasmas, Holzer também obteve essa imagem no salão de jantar de uma mansão. A figura esfumaçada apareceu por cima da mesa.
Holzer via Myers como uma espécie de máquina fotográfica através da qual os espíritos desencarnados enviavam seus retratos, como uma forma de entrar em comunicação com nosso mundo. No entanto, as imagens retratadas parecem ser sempre reproduções de fotografias já existentes. Por exemplo, no caso da foto da mãe de Holzer, ela era exatamente igual a uma que ele possuía em seu álbum de fotografias. Os que adotam a postura espírita entendem que os espíritos desencarnados veem que seria mais fácil dessa forma, enviando imagens já conhecidas, mas para os cientistas que não adotam essa postura, a ideia não tem nada de concreto. Além do que, o fato de que as pessoas que surgem nas fotos serem parentes mortos das pessoas que estão presentes nas sessões apenas serviria como mais uma prova de um outro tipo de fenômeno parapsicológico, e não de aparições de fantasmas ou espíritos.
Além disso, o médium John Myers já tinha sido exposto como uma fraude em 1932, e novamente foi tido como fraudulento em 1935, pela Spiritualists’ National Union, da Inglaterra.
Em casos verificados em experimentos parapsicológicos, ficou comprovada a incrível capacidade do médium Ted Serios em obter fotografias apenas com o poder da mente. Ele conseguiu reproduzir imagens de locais onde nunca esteve, apenas olhando para a lente da câmera, de certa forma “impressionando” o filme fotográfico. Uma vez comprovada a existência do fenômeno, não é difícil admitir que um médium excepcionalmente bem dotado possa captar as imagens dos parentes na própria mente das pessoas presentes, transferindo-as, por meios ainda desconhecidos para nós, até o filme fotográfico, e reproduzindo as imagens de acordo como elas surgem na mente dos parentes.
Foto obtida por Hans Holzer com uma Polaroid, na casa do médico e psíquico Andrew von Salza. Os rostos translúcidos que surgem por cima das pessoas presentes na sala foram atribuídos ao governador Al Smith e a John D. Rockfeller Senior. Apesar de na época ter sido considerada uma foto legítima, tem todo o aspecto de uma fraude, especialmente devido ao caráter estático das imagens, como se fossem copiadas de outras fotos.
Em 2007, o editor da revista UFO Digest entrevistou Hans Holzer, então com 87 anos, e ele disse que os modernos “caça-fantasmas” contam demasiadamente com aparelhos e não gastam tempo conduzindo entrevistas e reunindo evidência real. Para Holzer, qualquer investigação de fantasmas precisa contar com a presença de um médium (ou transmédium, como ele às vezes chamava) de eficiência comprovada, de modo a fazer um contato real com espíritos ou fantasmas.
Essa postura de Holzer, que o acompanhou durante todas suas investigações, foi bastante criticada por vários cientistas, inclusive pela Society for Psychical Research – uma das organizações mais importantes nas pesquisas psíquicas, desde o final do século 19 – entendendo que esse método compromete a objetividade e a confiabilidade de quaisquer resultados obtidos.
Segundo Holzer disse em sua entrevista, “Os seres humanos morrem e, quando uma pessoa vê um fantasma, também está vendo um espírito, que é onde está a confusão. Quando nascemos, temos um corpo duplo – um corpo etérico. As pessoas veem um corpo espiritual com uma semelhança à aparência que a pessoa tinha em vida. Às vezes, é difícil dizer a diferença, mas isso é um fantasma. Um espírito é o corpo espiritual, que aparece na forma chamada fantasma, que não pode prosseguir. Assim, uma assombração é um fantasma em um local que ele não consegue abandonar”.
Holzer manteve suas ideias até o fim, entendendo que “uma investigação científica ter de ter um transmédium bem treinado, para comunicação. É o único jeito”.
(Imagem: mollyroselee/ Pixabay).
É bastante complicado caçar esses fantasmas de forma a não restar qualquer dúvida sobre aquilo que estamos presenciando, ou seja, se a aparição é independente da presença de um médium ou de outras pessoas, sensitivas ou não. Existem muitos cientistas que adotam várias teorias referentes à sobrevivência da informação a respeito de uma pessoa após sua morte. Isso significa que eles não aceitam a sobrevivência do espírito ou da alma, como queiram chamar, mas que uma quantidade de informações sobre essa pessoa poderia continuar existindo em nosso mundo.
Os adeptos da tese espírita dizem que essas teorias não explicariam como esses fantasmas poderiam ser filmados ou fotografados mesmo quando não há presença de médiuns e sensitivos no local. Na experiência de Holzer na casa de Los Angeles, por exemplo, ele afirmou que existia a médium no quarto ao lado. Já na Catedral de Winchester, não havia. No entanto, não se sabe que grau de mediunidade possuía o próprio Holzer. Não foi explicado, igualmente, se ele já conhecia a história dos monges antes de fazer as fotografias, de modo que poderia ter influenciado o resultado. Além, é claro, das inúmeras restrições científicas a respeito das imagens obtidas.
Esses detalhes parecem ser inúteis à discussão da questão, mas para os pesquisadores que seguem critérios científicos eles são fundamentais para definir se o fenômeno que se está verificando é realmente o de uma aparição, ou se trata-se de telepatia, clarividência, retrocognição ou outros, ou ainda uma composição de vários fenômenos.
A paróquia de Borley, em 1892.
Outro famoso caçador de fantasmas entre os anos 1920 e 40 foi o inglês Harry Price, cujas tentativas em desvendar casos complicados envolvendo assombrações chegaram a ser aplaudidas por muitos cientistas. Um dos casos mais famosos que pesquisou foi o da paróquia de Borley, ao qual dedicou 10 anos de estudos e experiências.
As assombrações da paróquia foram testemunhadas, conforme se diz, por cerca de 100 pessoas. Situada no condado de Essex, a paróquia é uma mansão de grandes proporções, construída em cima das ruínas de um mosteiro do século 13. Como ocorre com algumas assombrações, existe uma história de acontecimentos trágicos envolvendo o local, com versões diferentes, e os fantasmas que têm aparecido no local são o de uma carruagem, um homem sem cabeça e uma mulher que vagueia sem rumo pelas redondezas.
Em 1928, o novo pastor de Borley resolveu chamar Harry Price. Além das aparições, ele comprovou a existência dos ruídos característicos das assombrações, como passos em aposentos vazios, luzes estranhas, correntes de ar onde não deveria haver nenhuma, transportes de objetos, toques de campainha e outros tipos de sons inexplicáveis.
A paróquia após o incêndio.
Incapaz de resolver o caso sozinho, Price chamou dezenas de pessoas para ajudá-lo nos estudos, mas não se chegou a qualquer conclusão. A intensidade dos fenômenos era tal que o pastor abandonou Borley em 1930, mas Price continuou suas pesquisas, chegando a alugar a mansão em 1937 e, mais uma vez, chamando várias pessoas para auxiliá-lo. Diz-se que, no ano seguinte, receberam uma mensagem por uma tábua ouija, informando que a paróquia seria destruída pelo fogo, o que veio a ocorrer em 1939. As pessoas que testemunharam o fato afirmaram terem visto fantasmas em meio às chamas. O trabalho de Price terminou, mas diz-se que as assombrações continuaram a infestar as ruínas, até que elas foram completamente destruídas em 1945, quando encontram ossadas de uma mulher jovem no subsolo, as quais Price conseguiu que fossem colocadas em uma sepultura.
A paróquia de Borley às vezes é chamada de “a casa mais assombrada da Inglaterra”, mas Rosemary Ellen Guiley lembra que as investigações de Harry Price foram bastante controversas. Price chegou a afirmar que Borley era o caso de assombração mais autenticado nos anais da pesquisa psíquica, mas após sua morte ele chegou a ser acusado de ter fraudado os resultados. “Comparado a outras assombrações inglesas”. Diz Guiley, “a paróquia de Borley é bastante normal; foi apenas a investigação de Price que tornou o caso sensacional”.