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CONTATO COM O SOBRENATURAL

Autor Greg Taylor
Publicado porGilberto Schoereder
19/12/2024

Será que os contatos com espíritos, fadas e extraterrestres são um mesmo fenômeno, repetindo-se ao longo de nossa história e sendo interpretado de forma diferente? O escritor Graham Hancock fala de seus estudos sobre o assunto e de seu livro Sobrenatural.


Por Greg Taylor, editor-chefe do Sub Rosa Magazine.

Graham Hancock, em foto de 2010 (Graham Hancock/ Wikimedia).

Já conhecido no Brasil por seus livros As Digitais dos Deuses (Fingerprints of the Gods, 1995. Ed. Record, 1999) e O Mistério de Marte (Ed. Aleph, 2004, escrito em parceria com Robert Bauval e John L. Grigsby), em 2005 o escritor e jornalista escocês Graham Hancock publicou na Inglaterra Sobrenatural (Supernatural), publicado no Brasil em 2011.
O livro de Hancock retoma algumas das investigações e estudos do famoso astrônomo, cientista de computação e ufólogo francês Jacques Vallée em seu livro Passaporte para Magônia (1969). Basicamente, o trabalho levanta a possibilidade – ou realidade, segundo o autor – de que os chamados contatos sobrenaturais com espíritos, fadas e extraterrestres têm pelo menos um ponto em comum: são fenômenos que ocorrem em estados alterados de consciência; e pode se tratar do mesmo fenômeno, interpretado de forma diferente ao longo da história.
Hancock é um autor consagrado, com milhões de livros vendidos no mundo. Começou como jornalista, trabalhando para alguns dos principais veículos da Inglaterra como The Times, The Sunday Times, The Independent, The Guardian e The Economist, além de ter sido editor da revista New Internationalist.
Seus primeiros livros ainda não lidavam diretamente com os temas que veio a desenvolver posteriormente, especialmente a partir de 1992, com o sucesso de The Sign and the Seal, uma investigação sobre a mística e o paradeiro da Arca da Aliança. Em 1995, foi a vez de Digitais dos Deuses, que sozinho vendeu mais de três milhões de exemplares. Seguiram-se Keeper of Genesis (com Robert Bauval), Heaven's Mirror (com a fotógrafa Santha Faiia), Underworld: Flooded Kingdoms of the Ice Age (2002), Talisman – The Sacred Cities and the Sacred Faith (com Robert Bauval) e Mistérios de Marte.
Ele foi entrevistado por Greg Taylor, da Sub Rosa Magazine, que nos cedeu o direito de reproduzir o texto.
 

Seu livro Sobrenatural abrange uma extensão muito ampla – da arte das cavernas e xamanismo ao fenômeno da abdução alienígena, folclore das fadas e até as origens do DNA. Estou interessado em saber como você chegou a pesquisar todos esses assuntos em um único livro. Existia um conceito desde o início, ou as várias correspondências entre esses tópicos foram se revelando aos poucos?
Existia um conceito desde o início. Já há algum tempo, eu tinha em mente escrever um livro sobre as origens humanas. Sempre senti que havia um mistério em algum lugar, mas quando comecei a olhar para as origens humanas, achei que grande parte da história era muito chata. O período que vai do último ancestral comum com o chimpanzé (o que pode ser em torno de 7 milhões de anos) até cerca de 40 mil anos atrás, parece ser um conto muito tedioso, ocorrendo mudanças anatômicas graduais muito lentas e de comportamento também.
A anatomia totalmente moderna foi atingida pelo menos 200 mil anos atrás – ainda sem qualquer sinal do comportamento que, hoje, podemos considerar essencialmente humano. E então, bem depois disso, na verdade há apenas 40 mil anos, o registro arqueológico repentinamente começa a testemunhar uma mudança dramática. Em minha opinião, essa mudança dramática é, de fato, a grande questão na existência humana; em termos de impacto, é ainda maior do que a nossa tão alardeada adaptação evolucionária de ficarmos em pé sobre as duas pernas.

Pinturas de rinocerontes na Chauvet Cave, França, datadas entre 30 e 32 mil anos atrás (Wikimedia).

É simplesmente impressionante a forma como o registro arqueológico fica mais interessante a partir de 40 mil anos atrás, com o aparecimento dos primeiros trabalhos de arte, com incrível simbolismo. Através de todo um espectro de atividades temos evidência daquilo que podemos reconhecer como um comportamento humano totalmente moderno; e parece que muda muito repentinamente. Eu percebi que aí é que se encontra o mistério, e este é o mistério que eu quero explorar.
Qualquer que seja o processo que nos tornou humanos, bem lá no início estava a arte e um incrível simbolismo; a arte das pinturas nas cavernas da Europa, por exemplo, voltando 35 mil anos.
Quando eu comecei a pesquisar nesse campo, descobri que os especialistas em arte das cavernas tinham passado a maior parte do século brigando, mas desde os anos 1980 uma teoria muito poderosa e cada vez mais aceita ficou em evidência. Ela sugere que essa incrível aventura da arte e da religião, no início do comportamento moderno, foi inspirada pelo uso de plantas alucinógenas, induzindo estados alterados de consciência, pintando as visões que nossos ancestrais tinham nesses estados. Uma vez que eu percebi que era uma possibilidade real, isso abriu as portas para todas as demais áreas de investigação no livro.

                                                                                                      Imagem: fszalai/ Pixabay.

Você está se referindo ao modelo neuropsicológico de David Lewis-Williams...
Sim, o trabalho fora do comum de David Lewis-Williams. Ele é um professor de arqueologia que fundou o Rock Art Institute, na Universidade de Witwatersrand, na África do Sul. Ele é reconhecido como um dos principais pesquisadores mundiais sobre arte em rocha e em cavernas. Após anos de trabalho de campo, David surgiu com uma teoria que explica todos os extraordinários pontos em comum que encontramos na arte em cavernas do Paleolítico superior na Europa e a arte em rochas da África do Sul. Essas culturas estavam separadas por uma imensa distância geográfica; na verdade, também estavam cronologicamente separadas. A explicação é que todos estavam descrevendo os mesmos extraordinários eventos mentais, experimentados em estados alterados de consciência.
Graças ao moderno trabalho científico com voluntários que receberam alucinógenos e cujas experiências foram estudadas, nós sabemos que a típica sequência visionária começa com formas e padrões geométricos – pontos, traços, ziguezagues – e, gradualmente, começa a mudar para um sentido mais completo de realidade alterada no qual, com frequência, o indivíduo vê seres humanos parcialmente transformados em animais. E isso é exatamente o que vemos na arte das cavernas na Europa e na arte dos bosquímanos da África do Sul; essa mistura de formas visionárias estranhas e geométricas mostrando seres transformados.
Aqui, não tenho muito espaço para explicar todas as evidências, mas no livro está bem claro. O principal é que existem poucas dúvidas de que a explicação de David Lewis-Williams – de que isso é a arte feita a partir de estados alterados de consciência – seja a correta.

Imagem: Ennaej/ Pixabay.

Um dos grandes aspectos do livro – e talvez isso seja apenas meu interesse pessoal – é que ele realmente parece ser uma continuação do trabalho de Jacques Vallée, Passaporte para Magônia, onde ele compara a experiência UFO com o folclore das fadas. Você acha que Vallée estava no caminho para descobrir algo?
Para mim, esse aspecto da pesquisa se estende sobre três temas diferentes: os seres que eram chamados de espíritos nas sociedades xamânicas; os seres que eram chamados de fadas e elfos na Europa medieval; e os seres que são chamados de alienígenas hoje em dia. Eu fui inevitavelmente levado a isso porque, por ter tomado ayahuasca, tive algo como uma experiência de abdução alienígena. Isso me levou a observar semelhanças entre os espíritos, dos quais os xamãs haviam falado ao longo dos tempos, e os aliens, aos quais os chamados abduzidos se referem hoje em dia. Eu percebi que as experiências são surpreendentemente próximas; as semelhanças entre essas categorias de seres supostamente muito diferentes chegam a dar um frio na espinha.
Quando eu conheci o trabalho de Vallée – que foi realizado nos anos 1960, e comparava fadas com alienígenas –, percebi que as similaridades eram ainda mais extensas, e decidi atualizar e ampliar a investigação de Vallée, observando a grande quantidade de evidências sobre abduções alienígenas que se tornou disponível desde o final dos anos 1960, e comparando essas evidências com o folclore sobre fadas e duendes ou elfos.
Penso que a comparação é absolutamente de confiança. Nós estamos lidando aqui com um fenômeno que tem estado entre a raça humana desde que nos tornamos humanos, e que tem sido interpretado de formas ligeiramente diferentes em diferentes períodos da história. Nós vemos esses fenômenos através de nossos óculos culturais, mas quando você admite isso, você percebe que é o mesmo fenômeno o tempo todo – quer os chamemos de espíritos, fadas ou alienígenas.

                                                                                                                          Imagem: alexmogopro/ Pixabay.

Estou absolutamente confiante de que a chave para todas essas experiências deve ser encontrada nos estados alterados de consciência. Mas também quero enfatizar que, quando falo de experiências provenientes de estados alterados de consciência, não quero sugerir, de forma alguma, que essas experiências sejam necessariamente “irreais”. Pelo contrário. Eu penso que existe uma possibilidade muito grande de que os chamados encontros sobrenaturais, inclusive aqueles que hoje chamamos de “abduções alienígenas”, sejam 100% reais, mas isso é difícil de demonstrar cientificamente exatamente porque eles apenas são acessíveis nos estados alterados de consciência.
Eu também aceito que existem elementos físicos paradoxais frequentemente associados a experiências visionárias, desde os implantes que os xamãs e os abduzidos por aliens encontram em seus corpos, até as curas misteriosas, objetos e outras pistas; às vezes até mesmo livros, deixados por “espíritos”, “fadas” e “alienígenas”. É um imenso mistério que vem assombrando nossos ancestrais pelo menos por 35 mil anos.

Muitos proponentes da filosofia materialista citam a pesquisa do dr. Michael Persinger a respeito do “sentido de presença” como uma forma de explicar grande parte dessas aparições. Você concorda com a abordagem de Persinger?

Michael Persinger (cortesia de Michael Persinger a Scientific American/ Wikimedia).

O interessante aqui é que depende de nosso conhecimento sobre o cérebro. Persinger também está falando sobre estados alterados de consciência, só que sua abordagem, em particular, é a de induzir esses estados através do uso de campos eletromagnéticos, em vez de induzi-los através do uso de alucinógenos químicos. Mas o efeito final é o mesmo.
Perginger pode ser um reducionista e dizer que as mudanças cerebrais que observou quando estimulou esse campo eletromagnético na cabeça da pessoa que está participando da experiência têm causado suas experiências de pequenos seres parados próximos a ela. Mas essa conexão casual não está totalmente clara. Pode ser que os campos eletromagnéticos simplesmente re-sintonizem o receptor de comprimentos de ondas do cérebro, e o permita encontrar outra “realidade”, que só é acessível em estados alterados.
Para mim, Persinger apenas nos abastece com outra forma pela qual seres humanos podem entrar em estados alterados de consciência, mas não prova que aquilo que vemos pode ser reduzido à atividade do cérebro associada à experiência. É natural que se espere existir atividade cerebral mediando qualquer experiência humana, mas o fato isolado de que existe atividade não reduz toda a experiência a essa atividade apenas.

                                                                                                                        Imagem: Ivana Tomášková/ Pixabay.

É o caso de saber se é o causador ou não...
Sim. De novo, voltamos ao modelo de cérebro receptor, que eu considero extremamente conveniente. Seria o caso de vermos atividade no cérebro, se ele é receptor, quando ele se re-sintoniza, da mesma forma que veríamos um telescópio mudando seu grau de focalização. Seria atividade, mas não estaria causando a experiência. O telescópio poderia estar vendo uma estrela mais distante, ou nosso cérebro poderia estar vendo outro nível de realidade.
Eu penso que o ponto em que Persinger é interessante é que ele fornece a noção de uma conexão com as energias da Terra – o conceito de que as energias da Terra geram campos eletromagnéticos – o que poderia explicar por que multidões de dezenas de milhares de pessoas reunidas num mesmo local subitamente começam a ter a mesma visão: porque todos eles estão sujeitos ao mesmo estado alterado de consciência.

Você está falando de eventos tais como os das aparições de Fátima e Lourdes?
Como em Fátima, por exemplo. Não há dúvida de que o que eles estavam vendo é absolutamente típico de estados alterados de consciência. E como explicamos que 70 mil pessoas entrem em um estado alterado ao mesmo tempo? Acho que Persinger pode ter nos dado a resposta.
Um ponto que levantei no livro é sobre a gruta de Lourdes, onde temos milagres modernos, cura e peregrinação. Nas proximidades, existe uma caverna da Idade da Pedra contendo grande quantidade de pedaços de arte do Paleolítico Superior. Talvez certos locais tenham sido sagrados por milhares de anos porque têm um efeito em nossa consciência e, como consequência, esse efeito em nossa consciência permite que ocorram algumas curas.


Greg Taylor (www.dailygrail.com) é editor-chefe da Sub Rosa Magazine (www.subrosa.dailygrail.com) e editor e proprietário do portal alternativo de notícias The Daily Grail.

Entrevista publicada originalmente na revista Sexto Sentido 72 (2006), com autorização de Greg Taylor.

 

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