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Civilizações Fantásticas

Em Busca do Ouro

Autor Gilberto Schoereder
11/01/2016

Inúmeros relatos e lendas referem-se à existência de cidades fantásticas, tanto nas Américas quanto em outros continentes. O Eldorado está entre as mais famosas, e ainda hoje alguns pesquisadores acham que ela pode ter existido.


Já é bastante conhecida a ambição desmedida dos conquistadores da América, especialmente quando estava em jogo a obtenção de reservas de ouro ou, na falta deste, de prata, pedras preciosas ou pessoas a serem dominadas. A civilização inca, uma das culturas mais avançadas e interessantes da história, foi totalmente aniquilada devido a essa ambição. A lenda do El Dorado é representativa de um dos momentos dessa busca alucinada pelo metal que lhes daria poder: aos conquistadores, o poder pessoal; ao reino a que pertenciam, o poder sobre as demais nações europeias.

Balsa muísca que faz alusão à lenda do El Dorado (Foto: Andrew Bertram).

Alguns historiadores entendem que a explicação mais viável para o surgimento de lendas como essa ou a de Manoa — e de tantas outras semelhantes, existentes tanto nas Américas quanto em outros continentes —, é essa ambição e sede de poder. No entanto, outras linhas de pesquisa entendem que é possível haver explicações alternativas para tais lendas, e algumas teorias reverenciam a possibilidade de que existiam locais onde grandes quantidades de ouro eram guardadas e também mencionam a existência de cidades fabulosas que jamais foram encontradas.
No México, onde os espanhóis promoveram o extermínio em massa das tribos nativas, a cidade lendária recebeu o nome de Cibola, palavra que significa “búfalo”. Na verdade, seriam “sete cidades de ouro”, ocultas por morros com a forma de búfalos. Em algumas versões da lenda, diz-se que as elevações teriam o formato de metades de hemisférios. Os conquistadores ouviram algumas histórias e passaram a acreditar na existência de construções gigantescas, feitas inteiramente de ouro. Claro que, além da ambição desmedida, a grandiosidade das construções maias e astecas também pode ter levado os conquistadores a imaginarem riquezas escondidas.
Além das histórias mais conhecidas, a América do Sul foi origem da lenda a respeito da Cidade dos Césares – localizada na Patagônia –, e que, mais uma vez, teve início com as histórias que os espanhóis ouviam dos indígenas. É possível que tenham ocorrido muitos erros de tradução ou interpretação nos primeiros anos da conquista, ou talvez os nativos tenham contado exatamente aquilo que os conquistadores queriam ouvir. Essa cidade também seria formada por templos riquíssimos, construídos com ouro e diamantes, e estaria localizada numa ilha no centro de um lago, próximo ao monte Lihuel Calel. A cidade seria rodeada por muralhas e fossos, e tão grande que para atravessá-la seriam necessários dois dias. Os moradores da cidade seriam altos, brancos e barbados, e é claro que jamais foram encontrados.

                                                                                                                                                                O coronel Percy Harrison Fawcett, em 1911.

As fontes desses relatos quase sempre são um tanto obscuras, como é o caso da cidade de Gran Moxo, supostamente situada próxima à nascente do rio Paraguai. Diz-se que, em 1601, um explorador chamado Barco Centenera teria encontrado a cidade, de proporções gigantescas e com um sistema de iluminação artificial impossível de existir na época. Certamente não por acaso, a região onde a cidade supostamente existiria é a mesma pesquisada por Percy Harrison Fawcett, no atual estado de Mato Grosso. Realidade ou lenda, a história já era conhecida dos guaranis, que chamavam sua capital de Mbaeverá-guaçu — que, segundo alguns linguistas significa “coisa resplandente e grandiosa” —, e ocultava-se em algum ponto da selva.
Hoje, fala-se na existência de uma espécie de passagem dimensional na região, que permitiria o acesso a uma cidade situada em outro plano. Os guaranis diziam que esperavam chegar até ela em vida ou após terem uma morte digna.
 

Muitas Cidades

Os nomes de cidades fantásticas se multiplicam. Fala-se de Enein, um império lendário dos incas, onde eles teriam se refugiado após a conquista dos espanhóis, levando grande parte de sua riqueza. Essa cidade estaria localizada na bacia do rio Madeira, na floresta amazônica peruana ou mesmo na parte brasileira, e alguns pesquisadores chegam a levantar a possibiliddade de que se trataria de uma cidade subterrânea.
Outro nome para essa suposta cidade é Paititi, Paitati ou ainda El Gran Paititi, a terra do rei Jaguar. As histórias se confundem nesse ponto e diz-se que a cidade pertenceria ao Império da Amazônia, uma civilização desaparecida da qual faziam parte as amazonas. Nessa versão, a cidade é mais antiga do que a civilização dos incas, tendo sido fundada por seus ancestrais, que se comunicavam com os “seres do céu”. As propostas para a explicação de uma cidade na selva amazônica são as mais variadas: segundo alguns, os próprios incas teriam expandido seus domínios até muito mais longe do que se imaginava, inclusive tendo chegado à costa do Atlântico, no nordeste brasileiro; outros levantam a hipótese de uma colonização sumeriana, fenícia ou mesmo atlante, em épocas muito recuadas da história.

Mapa de 1598, de Jodocus Hondius (1563-1612), mostrando a cidade de Manoa às margens do lago Parima.

O pesquisador Serge Debru, que investigou o tema por mais de 10 anos, acreditava que ela existia e que teria sido fundada por incas foragidos dos conquistadores, sendo impossível vê-la do alto apesar de ter dimensões tão grandiosas que, em comparação, Machu Picchu seria uma vila. Ele realizou uma expedição em 1970, em companhia de dois exploradores americanos, mas eles se perderam na selva e não foram encontrados pelas equipes de busca.
Outros afirmam que os incas possuíam uma espécie de aparelhagem científica, herança da Atlântida e da Lemúria, na forma de um gigantesco disco de ouro que podia realizar curas, produzir sons capazes de criar terremotos, alterar a rotação da Terra e teletransportar pessoas com o uso da força do pensamento e sons em comprimentos de onda adequados. Num altar diante do disco, estaria a “luz eterna”, chamada de Maxin, um cristal que funcionava como uma central de energia, a mesma utilizada nos OVNIs. É o caso de se perguntar por que, então, os incas não utilizaram esse suposto poder para derrotar os conquistadores, em vez de fugir para escondê-lo.
Algumas fontes referem-se a Paitaiti – cujo nome seria traduzido por “país do ouro” – também como uma cidade localizada na nascente no rio Paraguai, o que nos remete à lenda de Gran Moxo. Quem tentasse entrar na cidade com o objetivo de obter riquezas, seria barrado na entrada, guardada por dois deuses: Poromoñángara, o deus criador, e Teyu-Yaguá, o lagarto-tigre.


A Cidade Dourada

                                                                                                                                            Sebastián de Belalcazar, em desenho de 1468 (Foto de Carlos A. Arango).

Independente da existência de lendas ou histórias sobre civilizações fantásticas, anteriores à chegada dos espanhóis, a procura pelo Eldorado teve início logo após a conquista e aniquilação dos incas. E começou a tomar forma quando um dos chefes incas, Apu Ruminavi, contou ao general Sebastián de Belalcazar a história sobre uma tribo muito rica, situada ao norte, que tinha o costume de realizar uma cerimônia no lago Guatavita. Quando o chefe da tribo morria, o novo chefe tinha seu corpo coberto de ouro — daí o nome el hombre dorado, ou eldorado — e, no centro do lago, ele lavava seu corpo enquanto sua corte jogava às águas ouro e joias.
A narrativa deu origem a inúmeras expedições nas regiões onde hoje localizam-se a Colômbia e a Venezuela, nas florestas do rio Meta, próximo ao Orenoco e, posteriormente, estendendo-se à bacia do Amazonas/Marañon, do rio Branco e chegando à Guiana. A primeira expedição foi, provavelmente, a de Gonzalo Jiménez de Quesada, em 1536, saindo de Santa Marta, na costa caribenha da Colômbia, e seguindo para o sul ao longo do rio Magdalena. Quando atingiu as terras dos chibchas, a expedição de 900 homens estava reduzida a menos de 200, o suficiente para dominar os indígenas. No entanto, encontraram pouco ouro e esmeraldas e foram informados de que deveriam seguir para o norte, onde encontraram um templo com múmias ornadas de ouro e esmeraldas. Foi então que Quesada também ouviu falar do lago Guatavita, que localizaram graças à ajuda de um guia. O lago situa-se na cratera de um vulcão extinto, a mais de 2.700 metros de altitude, mas sem qualquer sinal de ouro ou mesmo de uma cidade chibcha.

Lago ou laguna de Guatavita (Foto: Masanalv/ Wikimedia, 2009).

Por volta de 1539, no planalto de Bogotá, cidade fundada por ele, Quesada encontrou as expedições de Belalcazar – que partira de Quito, no Equador –, e do alemão Nicolaus Federmann, que estabelecera uma colônia no golfo da Venezuela a mando da casa bancária Welser, com autorização do imperador Carlos V. Outras expedições foram realizadas em 1541: uma chefiada pelo alemão Philip von Hutten, outra por Gonzalo Pizarro, e a do mercenário Francisco de Orellana, talvez a mais fantástica de todas.

 

 

 

Amazonas

A aventura de Orellana, se não serviu para mais nada, pelo menos deu o nome ao rio Amazonas. Segundo o relato do escrivão do grupo, o padre dominicano Gaspar de Carvajal, eles foram atacados por mulheres guerreiras na foz do rio Jamundá e, lembrando as lendas sobre as amazonas, Orellana nomeou o rio. Diz-se que as mulheres eram altas, brancas, e sua rainha chamava-se Conhori. As notas de Carvajal afirmam que, de tempos em tempos, elas mantinham relações com os homens de tribos vizinhas apenas com o fim de reprodução, mantendo os bebês do sexo feminino e devolvendo aos pais os do sexo masculino. Relatos posteriores sobre as amazonas afirmam que elas eram conhecidas na região como Icamiabas, que significa “as sem marido”.
Diz-se que o relato de Carvajal traz declarações de prisioneiros que afirmam que as amazonas viviam em casas de pedra, em cidades cercadas por muralhas e que, em seu território, existiriam cinco templos dedicados ao Sol.

                                      Muiraquitã representando um sapo, datado entre os anos 1.000 e 1.400 (Foto: Dornicke/ Wikipedia).

Ainda que, muitas vezes, as narrações do padre sejam repudiadas como delírios ou fantasias, expedições posteriores reforçaram as histórias sobre as amazonas, como a do padre Cristobal de Acuña, em 1639. Além disso, vários historiadores e pesquisadores afirmam que as amazonas realmente existiram, como comprovam símbolos encontrados em pedras na região e os chamados muiraquitãs, que são pedras verdes, nefritas, trabalhadas na forma de animais. Ao que se sabe, elas foram encontradas por europeus pela primeira vez em 1743, quando o explorador francês La Condamine percorreu a região do Rio Negro e ouviu muitas histórias sobre as mulheres guerreiras.
Os indígenas mostraram as pedras que teriam recebido de seus pais, que por sua vez as teriam recebido das cougnantainsecouima, as “mulheres sem marido”. Segundo o estudioso Barbosa Rodrigues, que pesquisou os muiraquitãs, a lenda conta que as amazonas reuniam-se no lago Yacynaruá, onde realizavam uma festa à Lua e à mãe do Muiraquitã, que habitava no fundo do lago. Ao final do ritual, elas mergulhavam no lago e recebiam as pedras com várias formas.
 

Civilização Superior

As explorações no lago Guatavita pouco ou nada renderam. Diz-se que, em 1580, um comerciante chamado Antonio de Sepúlveda conseguiu baixar o nível da água do lago em 20 metros, retirando vários objetos e pedras preciosas do fundo, mas o mais provável é que isso seja parte da lenda, que foi se ampliando com o tempo. Nos anos 1960, uma empresa norte-americana fez algumas explorações no lago e nada encontrou.
No entanto, independente da lenda, não são poucos os pesquisadores que acreditam ter existido uma civilização muito desenvolvida na Amazônia, numa época que pode recuar alguns milhares de anos antes de Cristo. Para uns, tratava-se de uma civilização local, da qual os incas e maias seriam ramificações. Para outros, tratava-se de uma civilização formada por colonos vindos de várias partes do mundo. Seja como for, as evidências estariam espalhadas por toda a região amazônica, e os relatos dos incas e outros indígenas nada mais seriam do que adaptações das histórias que já conheciam há muito.

Alexander von Humboldt e Aimé Bonpland aos pés do vulcão Chimborazo, no Equador (Pintura de Friedrich Georg Weitsch, 1810).

A história da procura da cidade de ouro teve sequência em 1584, dessa vez assumindo o nome de Manoa. Antonio de Berrio, governador do território situado entre os rios Orenoco e Amazonas, partiu da Colômbia em busca de um tesouro que estaria localizado num lago chamado Manoa ou Parima, e às vezes também de Guaiana e Rupumuni. Berrio nada encontrou e ainda realizou expedições em 1585 e em 1591, chegando à ilha Trinidad em 1595. O aventureiro inglês Sir Walter Raleigh também procurou Manoa até 1617, sem nada encontrar. Outras expedições ainda foram realizadas até o final do século 18 e, no início do século 19, o barão Alexander von Humboldt realizou uma expedição científica à América do Sul, acabando por concluir que o Eldorado não existia, assim como o lago Parima.
Arqueólogos e outros pesquisadores acreditam que o ritual do El Dorado realmente existiu, como comprovaria a pequena jangada de ouro encontrada no lago Siecha, próximo ao Guatavita, no século XIX, ou a escultura de ouro encontrada numa gruta próxima a Bogotá, em 1969.
No entanto, hoje se pensa muito mais na possibilidade de que alguma civilização realmente tenha se desenvolvido na região, e ainda existem grupos pesquisando nesse sentido, inclusive organizando expedições para encontrar Manoa ou Eldorado. Agora, não mais atrás de ouro, mas de conhecimento.

Para saber mais

Cidades Perdidas e Antigos Mistérios da América do Sul – David Hatcher Childress (Ed. Siciliano).

Mistérios do Brasil – Pablo Villarrubia Mauso (Ed. Mercuryo).

 

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