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As Pirâmides Circulares do México: Teuchitlán

Autor Gilberto Schoereder
27/09/2014

Os estudos arqueológicos sobre a civilização de Teuchitlán, no México, se intensificaram nos últimos anos e, entre os destaques, estão as chamadas pirâmides circulares.


O arqueólogo Christopher Beekman escreveu que o oeste do México quase sempre é caracterizado na literatura arqueológica como um “primo pobre” do restante da América Central; inclusive, as pesquisas na região frequentemente não são mencionadas nos livros.

(Foto:Eduardo Meyer Martel).

A região é descrita como sendo formada por sociedades isoladas, cuja mais complexa forma de organização era um xamanismo induzido pelo peiote, e cujos membros eram obcecados por um “culto aos mortos”. No entanto, Beekman diz que nos últimos anos tem crescido a controvérsia a respeito da complexidade cultural do oeste mexicano, em parte devido às pesquisas sobre a Tradição Teuchitlán, realizadas na região de Jalisco.
Um dos destaques dessa cultura é o sítio arqueológico conhecido como Guachimontón. O local fica a cerca de 60 quilômetros de Guadalajara, mas a civilização se espalhou por um terreno que hoje corresponde aos estados de Jalisco, Colima e Nayarit.
Na verdade, Guachimontón é uma espécie de apelido dado à arquitetura circular da chamada Tradição Teuchitlán e, mais especificamente, ao maior complexo de construções dessa civilização, considerada a capital da cultura que se estabeleceu e prosperou no oeste do México por volta de 300 a.C. até 700 d.C. Esse tipo de arquitetura composta por círculos concêntricos é desconhecida de outros povos da pré-história da América Central.
O Dr. Phil C. Weigand passou mais de 30 anos investigando a região, registrando cerca de 200 sítios, dos quais Guachimontón é o maior. É considerado um centro cerimonial, tendo como grande atração as pirâmides circulares escalonadas, além de terraços concêntricos destinados à dança e de campos estreitos e compridos utilizados para o jogo de bola.

                                                                                                                                                  (Foto: Mario Rosales).

Segundo o pesquisador Christopher L. Witmore, os monumentos de Teuchitlán foram concebidos como entidades independentes, planejados metodicamente e construídos para dirigir a atenção do observador para o interior, para a pirâmide central. Também foi sugerido que o complexo circular servia como cenário para a cerimônia do “voador”, uma dança na qual o xamã – um dos personagens mais importantes da comunidade e que mantinha laços especiais com o cosmo – ficava em equilíbrio na ponta de um poste alto e, nesse momento, transformava-se magicamente em uma águia, que permitia o trânsito entre os diferentes níveis do cosmo e os mundos dos espíritos. Várias peças de cerâmica do oeste mexicano representam a cerimônia dos “voadores”.

Os voadores, em exibição do povo totonac, do leste do México (Foto: Frank C. Müller, 2005).

Alguns estudiosos têm propostas também para explicar os jogos de bola realizados na região. É o caso de Yane Stevenson Day (El Juego de Pelota del Occidente en el Antigo Occidente de Mexico), que entende ser possível que os jogos com a bola (pelota) nos locais referentes à Tradição Teuchitlán refletem situações políticas difíceis, nas quais se buscavam soluções para problemas sociais e econômicos no campo de jogo.
Weigand e Christopher Beekman dizem que, entre os anos 700 e 900 d.C., chamada de Teuchitlán Fase II, a região de Ahualulco-Teuchitlán-Tala estava começando a se desintegrar, com poucos conjuntos circulares sendo construídos, ainda que construções de outros tipos continuassem sendo erguidas. Diz-se que os conjuntos circulares próprios da civilização eram de uso restrito, exclusivo às famílias dos governantes. E, ainda, que as construções circulares são únicas e que sua geometria segue princípios cosmológicos já bastante conhecidos.

Os mesmos arqueólogos afirmam que o simbolismo cultural desses círculos arquitetônicos concêntricos constituía algo muito diferente de qualquer outra civilização mesoamericana da época, já que não existem em qualquer outro lugar. Eles podem ter servido para o culto de deuses como Ehécatl, deus do vento.
No desenho que reconstrói  complexo de Guachimontón, Weigand define cinco traços arquitetônicos: uma pirâmide central; um pátio circular elevado que rodeia a pirâmide; uma “banqueta” circular que rodeia o pátio; entre oito e 12 plataformas retangulares sobre essa “banqueta”; e criptas funerárias debaixo de algumas plataformas.

(Foto da ilustração: Mario Rosales).

Como quase tudo o que envolve a arquitetura dos antigos habitantes do México e América Central, as estruturas de Guachimontón são impressionantes. “Toneladas de terra e rocha foram deslocadas”, escreveram Weigand e Beekman, “para dar lugar a um anfiteatro natural e criar diferentes níveis de terraços. Os pisos foram construídos com terra batida e areia. Para os edifícios principais, foram utilizados pedra, adobe e cal”. A pirâmide no centro da praça maior também possui um pequeno templo, provavelmente consagrado ao culto do ancestral fundador que jaz em seu interior. Os pesquisadores também dizem que provavelmente eram realizadas oferendas dedicadas aos antepassados que pertenciam a linhagens dominantes.
A transformação do xamã em águia era essencial para atravessar os níveis do cosmo e poder se comunicar com os deuses e os antepassados. Entre os mexicas (nome geral dado aos antigos habitantes da região do México), o deus sol Tonatiuh, geralmente representado como um disco, era venerado com diferentes nomes, incluindo o de “a águia que se eleva”. Para os huicholes (um dos povos indígenas da região e que, segundo alguns pesquisadores, chamavam a si mesmos de “os curadores”), a águia é importante do ponto de vista cosmológico, uma vez que está ligada não apenas ao sol, mas também ao “Avô Fogo”, que controla a porta do cosmo. Portanto, ela tem o dom de se movimentar entre os mundos espirituais e de se comunicar com os deuses, os antepassados e os seres sobrenaturais. A movimentação entre esses mundos se dá a partir de um “eixo cósmico”, que surge do centro da terra e, para que o xamã possa atingir os níveis do cosmo, deve subir por esse eixo.

                                                                                                                                                                                  (Foto: Mario Rosales).

Provavelmente, o poste dos voadores era a representação metafórica do axis mundi, o eixo do mundo ou cósmico, que surge do centro do universo e se entrelaça com a estrutura arquitetônica das construções circulares. No entanto, a origem da cerimônia dos voadores ainda não foi totalmente esclarecida, ainda que as peças encontradas sugiram que, inicialmente, eram realizadas no alto de uma árvore pochotl (ou ceiba, conhecida no Brasil como sumaúma, que também é utilizada pelos pajés em rituais de cura).
Weigand e Beekman dizem que, com frequência, vinculam-se as árvores com o governo, uma vez que, em termos metafóricos, a comunidade se protege sob a sombra do governante. Dessa forma, os estudiosos chegaram à conclusão de que, na tradição Teuchitlán, a mediação entre o cosmo e a população adquire uma conotação sociopolítica.
Assim, os centros sagrados encarnam os princípios e as crenças fundamentais nos quais se fundamenta o universo como era concebido pelos habitantes locais. “Ao erguer e fazer uso desses monumentos”, afirmam os arqueólogos, “eles renovavam seu conceito do tempo e do espaço, sua relação com os deuses e com o próximo”. No entanto, havia sempre o risco de que os deuses não escutassem os pedidos de auxílio e, quando isso ocorria, o frágil equilíbrio da sociedade e da natureza podia se interromper e havia o perigo de desordens. Daí a obrigação dos xamãs e dos chefes de preservar os ritos.

 

 

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