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O MANUSCRITO VOYNICH

Autor Gilberto Schoereder
07/12/2020

O polêmico Manuscrito Voynich vem sendo estudado por dezenas de especialistas e, apesar de possíveis descobertas recentes, sua origem e objetivo continuam um mistério.


Livros misteriosos são uma constante na história da humanidade, e poucos têm causado tanto impacto e provocado tantas discussões quanto o chamado Manuscrito Voynich. Ele recebeu esse nome porque surgiu no século 20 numa coleção comprada pelo negociante de livros polonês Wilfrid Voynich (1865-1930), em 1912.

Wilfrid Voynich.

Em 2009, cientistas da Universidade do Arizona dataram o livro pelo método do carbono-14, estipulando que foi escrito entre 1404 e 1438, o que representa um século antes do que inicialmente se imaginava. O manuscrito também foi estudado pela McCrone Associates, empresa do químico Walter Cox McCrone, bastante conhecido por seu trabalho no Sudário de Turim, e os exames comprovaram que as tintas e cores utilizadas condiziam com o que era utilizado na época. A origem e o conteúdo do manuscrito, no entanto, continuam desconhecidos.
O primeiro proprietário conhecido foi o Imperador Rodolfo II (1552-1612), do Sagrado Império Romano – um conglomerado político de terras na Europa central e oeste. Alguns pesquisadores disseram que o manuscrito pode ter sido oferecido ao imperador por John Dee (1527-1608), outro personagem misterioso da história, conselheiro da Rainha Elizabeth I, da Inglaterra, e que também é citado como sendo um dos proprietários do Livro de Soyga, outro livro misterioso.
Seja como for, o livro chegou ao alquimista tcheco George Baresch (1585-1662). Após a morte de Baresch a obra passou para seu amigo, o médico Jan Marek Marci, reitor da Universidade Charles, de Praga. Por sua vez, em 1665 ou 1666, Marci repassou o livro para seu amigo, o estudioso jesuíta Athanasius Kircher, para que ele o estudasse. Na carta que enviou junto com o manuscrito, Marci levantava a possibilidade de que o livro tenha pertencido a Roger Bacon (c. 1219-1292), mas a datação realizada em 2009 elimina essa possibilidade.
O livro voltaria a reaparecer muito mais tarde. Segundo se imagina, ele teria sido guardado na biblioteca do Collegio Romano, que hoje é a Pontifícia Universidade Gregoriana, permanecendo ali até que Vitor Emmanuel II da Itália tomou a cidade e anexou os estados papais, confiscando várias propriedades da Igreja. Muitos livros já tinham sido retirados da biblioteca e, posteriormente, foram para a Companhia de Jesus. Em 1903, a Companhia precisava de dinheiro e resolveu vender alguns livros para a Biblioteca do Vaticano, mas alguns livros foram adquiridos por Voynich, entre eles o manuscrito.
Após a morte de Voynich, a obra passou para sua esposa, Ethel Voynich, e após a morte dela em 1960, o manuscrito passou para a secretária de Voynich, Anne M. Nill, que o vendeu ao negociante Hans P. Kraus, que tentou negociá-lo por 160 mil dólares, mas sem sucesso. Kraus doou o manuscrito para a Universidade de Yale, onde se encontra até hoje.

Com sua origem e composição incertas, também surgiram inúmeras hipóteses de que o manuscrito seja falso, o que os americanos chamam de “hoax”, elaborado para não ter qualquer sentido. Vários estudiosos debruçaram-se sobre essa hipótese, a última surgindo em 2019 por Torsten Timm e Andreas Schinner. No entanto, até mesmo as teorias sobre o livro ser uma fraude não puderam ser devidamente comprovadas, e o mistério continua.
O livro tem 16 por 23 centímetros e 240 páginas foram encontradas, de um total de 272, além de folhetos ilustrados com aquarelas. Uma das primeiras tentativas de decifrar o manuscrito ocorreu em 1921, com o filósofo norte-americano William Romaine Newbold, da Universidade da Pennsylvania, afirmando que tinha conseguido encontrar algumas soluções. Ele chegou a alegar que existia um desenho que representava a nossa galáxia, o que teria sido impossível sem a utilização de um telescópio. No entanto, nos anos seguintes, suas interpretações do texto foram desacreditadas por outros pesquisadores.
Claro que não podiam faltar igualmente as propostas de que os conhecimentos contidos no manuscrito têm origem extraterrestre, ou mesmo que são resquícios de civilizações milenares já desaparecidas. Mas nada sustenta essas proposições.
Recentemente, o especialista em computação Gordon Rugg, da Universidade Keele, afirmou que o manuscrito é um excepcional trabalho de criptografia, realizado por Edward Kelley, um nome associado ao de John Dee. Kelley era um ocultista e alquimista que dizia possuir o segredo de transformar metais em ouro, assim como podia evocar espíritos e anjos.
Segundo Rugg, o manuscrito foi comprado pelo Imperador Rodolfo II por 600 ducados, uma verdadeira fortuna na época. “As pessoas claramente pensavam que ele continha ensinamentos secretos e grande conhecimento”, disse Rugg, “e estavam dispostas a pagar para aprendê-los”.

Diz-se que alguns dos caracteres parecem números romanos e letras latinas, mas outros não se parecem com qualquer coisa vista antes. No entanto, a linguagem parece ter uma estrutura e manter um padrão. Alguns criptólogos chegaram a afirmar que o Manuscrito Voynich foi escrito em antigo ucraniano, enquanto outros dizem que é uma forma de chinês ou hebreu. Ainda assim, ninguém conseguiu decifrá-lo ou mesmo sustentar a reivindicação de que se tratava de uma fraude.
Rugg e sua equipe acreditam ter encontrado o segredo do Manuscrito Voynich. Eles afirmam que as várias palavras que aparecem ao longo do texto podem ter sido criadas por meio do uso de tabelas e grades. As diferentes sílabas que formam as palavras são escritas em colunas, e uma grade – um pedaço de cartolina com três quadrados cortados num padrão diagonal – desliza ao longo das colunas. As três sílabas expostas formam uma palavra. A grade é puxada para expor três novas sílabas, e uma nova palavra surge.
A conclusão de Rugg é que a linguagem do manuscrito é completamente sem sentido, e que ele foi criado por Kelley como uma forma de ganhar dinheiro.
Ainda assim, a explicação não está sendo aceita por todos os estudiosos do Manuscrito Voynich, e não são poucas as propostas de explicação. E a datação recente também situa a elaboração do manuscrito antes da época de John Dee e Kelley.
O mais provável é que a polêmica ainda dure mais algum tempo.

Abaixo, mais páginas do manuscrito.


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