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História Alternativa da Terra 01

História Alternativa da Terra – As civilizações dos Andes

Autor Gilberto Schoereder
26/05/2021

Pesquisas alternativas indicam que o continente americano pode ter vários resquícios de civilizações bem mais antigas do que a história oficial registra.


Aqui, vamos apresentar um levantamento básico e algumas discussões em torno das principais pesquisas realizadas e das propostas que procuram explicar a movimentação dos povos das Américas, e o desenvolvimento de civilizações, algumas das quais raramente ouvimos falar.
Assim, tentamos reunir diferentes pontos de vista sobre a questão, procurando oferecer o quadro mais abrangente possível do que está sendo dito a respeito de nosso passado longínquo.

Vista aérea do Macaco, um dos mais conhecidos geoglifos de Nazca (Foto: Diego Delso/ license CC BY-SA/ Wikimedia).

O conceito de que a história das civilizações que existiram no passado do planeta é diferente daquela que os livros e historiadores apresentam oficialmente, não é exatamente nova, mas foi no século 20 que essas ideias ganharam uma abrangência ainda maior, com cada vez mais estudiosos – e, é bom que se diga, nem sempre especialistas nos assuntos que abordaram – levantando aspectos misteriosos das civilizações antigas, apresentando teorias que tiveram suas bases duramente atacadas por historiadores e arqueólogos, mas que, ainda assim, ganharam uma popularidade cada vez maior, situação certamente facilitada pela rapidez com que os meios de comunicação do século 20 conseguiam propagá-las.
Com tudo o que têm de melhor e de pior, essas teorias estão entre as propostas mais interessantes a respeito da história de nosso planeta, em particular as que propõem que as civilizações antigas poderiam ser muito mais desenvolvidas do que se imaginava a princípio, e que a relação entre as diferentes culturas do planeta era bem mais intensa do que se pensava.
E, além disso, essas teorias geralmente propõem uma antiguidade da civilização humana muito maior do que a oficialmente declarada. As propostas mais ousadas chegam a falar de centenas de milhares e até centenas de milhões de anos. Dessa forma, imagina-se que essas civilizações ancestrais desapareceram devido a eventos catastróficos desconhecidos. Segundo essas propostas, então, existiriam vestígios ou indicações relativamente claras da existência dessas civilizações espalhados por todo o planeta, geralmente em obras arquitetônicas cuja ancestralidade remota a arqueologia e história oficialmente não reconhecem. Da mesma forma, devido à idade avançada proposta para algumas dessas civilizações, os sinais de sua existência teriam desaparecido ou restariam pouquíssimos indícios.

Além dos pesquisadores autônomos ou daqueles que não têm formação científica, um número considerável de cientistas, arqueólogos e historiadores têm se manifestado a favor de teses que comprovariam a existência de inúmeras civilizações não reconhecidas oficialmente, ou mesmo a respeito de civilizações conhecidas, mas que teriam sua história completamente alterada (Leia mais sobre isso na matéria A História Mal Contada da Humanidade, uma entrevista com o pesquisador Michael Cremo, comentando o livro A História Secreta da Raça Humana, que escreveu em companhia de Richard L. Thompson).

Templo de Kalasasaya, em Tiahuanaco (Foto: Pavel Spindler/ Wikimedia).

Essas pesquisas alternativas às vezes referem-se à existência de civilizações em locais onde, até então, não se falava da existência de povos adiantados, como na Amazônia brasileira, por exemplo. E, às vezes, referem-se à possibilidade da existência de uma grande civilização mundial que teria espalhado sua influência por todos os continentes.
Os cientistas entendem que a maior prova de que tais civilizações não existiram é o fato de que não se encontrou qualquer vestígio digno de nota, algo que provasse conclusivamente que tais culturas tivessem se desenvolvido em um passado muito distante. Os que assumem a posição contrária insistem no ponto de que essas provas existem, e só não as veem aqueles que não querem ver. Defendendo essa postura, os pesquisadores citam como exemplo a civilização mundial atual, imaginando que se um acidente qualquer destruísse a civilização – seja se natureza climática, social, como uma guerra nuclear, ou cósmica, como um choque com um meteoro imenso ou um cometa – daqui a milhares de anos não restaria qualquer pedaço de papel que pudesse ser lido e estudado. Os papiros do antigo Egito, mais resistentes, estão em vias de tornarem-se pó, se já não se tornaram. As construções modernas não resistiriam milhares de anos em pé, quanto mais centenas de milhares de anos. Assim, é fácil imaginar que uma civilização que tenha desaparecido há um milhão de anos não apresentaria qualquer resquício reconhecível.
Além do que, insistem esses estudiosos, nem todos os pontos do planeta foram pesquisados, ou devidamente analisados. Sabe-se muito pouco sobre o fundo dos oceanos, e são raras as pesquisas arqueológicas nas profundezas do mar. Os locais do planeta hoje inabitáveis nem sempre o foram. Da mesma forma, os restos de civilizações mais antigas podem ter sido simplesmente riscados do mapa pelo avanço das geleiras durante o Período Glacial, recobertos por desertos, ou ainda ter desaparecido durante cataclismos como erupções de vulcões e terremotos violentos.
Costuma-se dizer que a pesquisa arqueológica, a escavação de determinadas regiões do planeta, começou recentemente, de modo que é impossível imaginar o que ainda existe para ser descoberto. Além do que, a maioria das pesquisas é realizada em locais sobre os quais os arqueólogos possuem, pelo menos, algumas informações básicas, alguma ideia definida que indique aquele local específico como a possível localização de uma civilização. Quando se fala em termos de centenas de milhares de anos, fala-se igualmente de uma civilização sobre a qual jamais teríamos ouvido falar e, assim, seria muito difícil, senão impossível, estabelecer um ponto de partida, um local básico onde realizar escavações.
Mas é claro que esses são conceitos básicos a partir dos quais se desenvolvem as teorias, algumas interessantes, outras totalmente sem fundamento; e, algumas vezes, com bases esotéricas.

Outra linha de pensamento, ainda mais radical, levanta a teoria de que uma ou várias raças de seres extraterrestres teriam visitado a Terra em épocas das quais sequer temos lembrança, quanto mais um registro seguro. Esses seres teriam se instalado ou, pelo menos, permanecido no planeta durante algum tempo, influenciando diversas civilizações e culturas. As menções a eles surgiriam, então, em lendas a respeito de deuses civilizadores que aparecem repentinamente na história dos povos, elevando drasticamente o nível cultural e tecnológico de uma determinada região, introduzindo novas técnicas de cultivo, de artes e de medicina.
Como não poderia deixar de ser, essas propostas são recusadas de forma ainda mais veemente pelos historiadores e arqueólogos, segundo os quais não existem vestígios suficientemente claros para embasar essa hipótese.

Charles Hoy Fort (Foto: 1920).

Esse conceito desenvolveu-se de forma estupenda a partir de meados do século 20 e, hoje, chega a ser apresentado em um programa de televisão, referindo-se a ele como “a teoria dos antigos astronautas”.
Vários pesquisadores e estudiosos autônomos dedicaram-se a fazer um levantamento de objetos, lendas e construções que existiriam em uma espécie de “brecha” nas explicações históricas aceitas oficialmente e, nesse espaço de ninguém, elaboraram suas explicações ou especulações. Aquele que é considerado o que originou essa “onda”, essa procura por explicações que preenchessem os espaços vazios, foi Charles Hoy Fort (1874-1932), em particular por meio do levantamento realizado e organizado por ele ao longo de muitos anos e publicado em O Livro dos Danados (The Book of the Damned, 1919). Fort nunca foi tão específico quanto viriam a ser os pesquisadores posteriores, em particular da segunda metade do século 20, como Robert Charroux, Guy Tarade, Erich von Däniken e tantos outros. Mas foi ele quem começou a desenvolver uma forma de pesquisa sistemática em torno da ideia de que seres não originários da Terra têm estado por aqui há algum tempo, com objetivos ainda não determinados, porém influenciando nossa civilização de diferentes formas.
Esse tipo de pesquisa e especulação a respeito de antigas civilizações relacionadas com a presença de extraterrestres tornou-se imensamente popular com o livro de Erich von Däniken, Eram os Deuses Astronautas? (Erinnerungen an die Zukunft: Ungelöste Rätsel der Vergangenheit, 1968). Por algum motivo, seu livro atingiu um sucesso mundial que nenhum outro do gênero conseguira. O assunto ganhou espaço na mídia, primeiramente com inúmeros livros, depois com filmes e programas na televisão. Os pesquisadores passam a dedicar-se exclusivamente ao tema, viajando aos locais citados, fazendo levantamentos, entrevistando pessoas – cientistas ou não – tentando penetrar nos segredos e mistérios que cercam essas civilizações. Ao mesmo tempo, eles colocam-se abertamente contra as versões oficiais da história sempre que essas versões deixam brechas inexplicáveis ou com explicações frágeis.

Esses pesquisadores alternativos foram, muitas vezes, acusados de oportunistas, pessoas sem o devido preparo científico para avaliar com exatidão suas observações, sem condições para elaborar teorias científicas que envolvem uma série de conhecimentos que poucas pessoas no mundo possuem; assim, utilizariam a credibilidade do povo e o desejo das pessoas por assunto misteriosos, apenas para ganhar dinheiro.
De fato, muitas vezes é isso mesmo que acontece, mas a generalização é perigosa. Existem pesquisadores que têm conhecimento científico e, mesmo quando não são cientistas, apoiam suas explicações em opiniões e fatos obtidos pela ciência ou em especulações bem elaboradas e fundamentadas.

Praça circular de Chavín de Huántar (Foto: [archive.cyark.org CyArk]/ www.cyark.org).

E mais: como chegou a ser relatado por Michael Cremo (ver link acima), sabe-se que, em conversas privadas, inúmeros historiadores, arqueólogos e cientistas de outros ramos, manifestam-se a favor de algumas das teorias oficialmente tidas como absurdas, entendendo que estudos mais profundos precisariam ser realizados, seguindo outros rumos que não aqueles até agora tentados, ainda que essas opiniões raramente tornem-se públicas.
Uma versão mais radical garante que muitos estudos são feitos secretamente, mas com os resultados jamais publicados, sendo mantidos escondidos do público e, principalmente, dos meios de comunicação e dos pesquisadores alternativos. Segundo esse ponto de vista extremo, a explicação para que isso ocorresse é que, caso os resultados obtidos fossem de conhecimento geral, toda a história da humanidade teria de ser alterada, e os resultados dessa ação seriam imprevisíveis.
Essa noção encontra companhia nas propostas sobre os OVNIs que estariam visitando a Terra, ou seja, entendendo que os principais cientistas e governos do mundo já saberiam o que está acontecendo e já teriam mantido contato com os extraterrestres, mas que mantêm os resultados desse contato em segredo; caso isso se tornasse público poderia provocar uma reação indesejável e uma série de problemas com repercussões na economia e nas religiões. Mas, como foi dito antes, essas são as posições mais radicais a respeito do assunto e leva a discussões bastante complexas, muitas vezes caindo para a paranoia.

A linha alternativa para a história dos Andes propõe que gigantes teriam vivido na região em um passado distante (Foto: Jonathan Lewis/ Wikimedia).

Alguns dos relatos sobre civilizações perdidas provêm de fontes que não a observação direta de possíveis resquícios dessas civilizações. São muitas as lendas – e muitas de origem desconhecida – acerca de várias dessas culturas desaparecidas, assim como existem muitos relatos provenientes de visionários ou de grupos esotéricos que têm, como “prova” da realidade daquilo que afirmam, um sentido de fé inabalável e que, como tal, não pode ser discutido. Não apresentam provas do que afirmam e entendem que elas não são necessárias.
E, muitas vezes, as informações provêm de “arquivos secretos”, aos quais apenas os iniciados têm acesso, de modo que se torna impossível discutir a veracidade das informações.
Boa parte dos pesquisadores chamados alternativos acredita que as Américas reúnem a maior quantidade de provas físicas a respeito da existência de uma ou mais civilizações bastante desenvolvidas em um passado remoto. Dependendo do ponto de vista e das teorias apresentadas, acredita-se que as construções gigantescas, erigidas em pedra podem ser uma prova ou, no mínimo, uma evidência considerável de que uma raça de gigantes viveu na região, em períodos que podem retroceder em até dezenas de milhares de anos.
Ou acredita-se que, ainda que não se tratasse necessariamente de uma raça de gigantes, tenha existido na região uma ou mais civilizações extremamente avançadas, muito anteriores aos incas e maias, e com conhecimentos não apenas de arquitetura e engenharia como de medicina, que rivalizam, quando não ultrapassam, os conhecimentos atuais.
Ou ainda que as levas de povos colonizadores das Américas tiveram origens completamente distintas daquelas reconhecidas oficialmente pela arqueologia e história, origens que variam de regiões do Oriente Médio até a lendária Atlântida. E mais, que seres extraterrestres chegaram à região em época indeterminada e exerceram influência definitiva no desenvolvimento de um grande civilização, ou de várias civilizações americanas.
Em alguns casos, as teorias apresentadas compõem uma espécie de combinação de várias hipóteses. E, para aqueles que buscam evidências também nas lendas, o campo parece ser ainda mais fértil. Do polo norte à Patagônia, os mais antigos habitantes das Américas possuem uma infinidade de lendas e mitos referentes a seres que vieram das estrelas ou de locais distantes de nosso planeta. Falam de seres com poderes quase divinos, de cidades fabulosas construídas em épocas imemoriais e de acontecimentos fabulosos protagonizados por esses seres e pelos habitantes primitivos do continente; para não falar de civilizações subterrâneas que teriam existido ou ainda existiriam na região.
Em muitos casos, essas lendas encontram-se definitivamente mescladas às lendas construídas depois da chegada dos europeus, que trouxeram suas próprias lendas da Europa ou elaboraram lendas ao se depararem com as novas terras, de modo que se torna extremamente difícil aos pesquisadores desemaranhar o nó formado pelas diferentes influências.
Para alguns, a presença dos europeus, principalmente dos padres catequizadores, representou uma contribuição decisiva no sentido de dificultar o conhecimento das histórias que os habitantes originais tinham sobre seu passado, uma vez que muita coisa foi sumariamente apagada da memória, escondida ou subvertida para não entrar em choque com os conhecimentos europeus e cristãos que se pretendia impingir às populações indígenas.

Alguns pesquisadores veem na arquitetura inca a influência de uma cultura anterior superior (Templo do Sol, em Machu Picchu. Foto: Fabricio Guzmán/ Wikimedia).

De qualquer forma, o conceito que parece surgir com maior clareza, entre as propostas levantadas por pesquisadores autônomos e até por alguns cientistas, é a de que a história da civilização ou civilizações que existiram nas Américas é muito mais antiga do que afirmam os estudos oficiais. Assim, muito ainda teria a ser dito e pesquisado a respeito de suas origens, em particular a partir do estudo de evidências que têm sido sistematicamente relegadas a segundo plano ou simplesmente desconsideradas.
Em particular na América do Sul, as evidências surgem nas ruínas das civilizações anteriores à inca, ainda que alguns pesquisadores também vejam na arquitetura inca e em alguns objetos citados por historiadores da época da conquista, resquícios de uma influência de uma cultura anterior superior, cuja origem teria se perdido no tempo.
Nesse especial iremos nos concentrar nas civilizações dos Andes e vizinhanças, para falar sobre o restante da América em outra oportunidade.
Até onde sei, ainda não foi feita uma tentativa efetiva de reunir todas as possíveis evidências para elaborar uma história alternativa unificada do continente. Talvez a tarefa fosse mais fácil se a pesquisa estivesse concentrada apenas nas ruínas e informações mais visíveis, mas costumam surgir fatores complicadores, como gravações em pedras e outros objetos que, segundo alguns, indicam uma antiguidade até então insuspeitada das civilizações locais, uma vez que esses objetos trazem informações referentes a um passado que recua a milhões de anos.
Sendo assim, iremos seguir a fórmula de apresentar o maior número possível de dados referentes a cada uma dessas ruínas, lendas, relatos e objetos, isoladamente, porém sempre que possível procurando relacioná-los uns com os outros a partir dos conhecimentos já existentes, sempre lembrando que esses conhecimentos são, invariavelmente, desconsiderados pelos meios oficiais de pesquisa científica.

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