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Presença Extraterrestre nos Textos Antigos

OS TEXTOS ANTIGOS

Autor Gilberto Schoereder
14/07/2022

As especulações sobre a presença de extraterrestres nos textos da Bíblia e dos apócrifos.


O anjo Miguel expulsa os anjos rebeldes, na visão tradicional da Bíblia (ilustração de Gustave Doré para O Paraíso Perdido, de John Milton, 1866).

Os antigos textos da humanidade, sejam narrativas fantásticas ou de cunho religioso, também foram minuciosamente observados pelos pesquisadores que, a partir deles, elaboraram várias especulações a respeito da presença extraterrestre em nosso passado.
A ideia geral é de que esses textos conteriam informações valiosas a respeito do tema, e que elas poderiam estar cifradas. Ou esses textos poderiam, simplesmente, ser relatos sobre a atuação dos extraterrestres, porém elaborados a partir do conhecimento científico limitado que os humanos tinham na época.
Geralmente, são citadas passagens da Bíblia e de alguns livros apócrifos do Cristianismo, além de textos antigos da Índia, nos quais existem referências aos vimanas. E, é claro, os textos da antiga Suméria, que talvez seja a civilização mais antiga do planeta e uma das principais fontes de especulações sobre os visitantes de outros planetas.
Com relação à Bíblia, um dos pontos constantemente citado surge já no Gênesis, quando o texto faz referência aos “filhos de Deus” (Gênesis 6, 1-2) que, vendo como as filhas dos homens eram belas, escolheram esposas entre elas. Na passagem seguinte existe a referência à existência de gigantes na Terra naqueles dias. Em algumas versões o termo utilizado é “nefilim”, uma palavra que foi exaustivamente estudada por historiadores e linguistas sem que se chegasse a uma conclusão quanto ao seu significado, ainda que muitos entendam que ela se refere a anjos, ou a anjos caídos, ou ainda aos filhos gerados pela união entre anjos e humanos.

                                                                                                                                       Lúcifer Contra o Senhor (Mihály Zichy, século 19).

A deia geral aqui, seja qual for a interpretação que se dê aos “gigantes”, é que seres não humanos estavam no planeta, que eles eram diferentes de nós, e que não eram entidades espirituais, pois eram capazes de procriar.
O pesquisador britânico Walter Raymond Drake (1913-1989), que começou a escrever sobre o tema já em 1964, lembrou em seu livro Deuses e Astronautas Através da História (Gods and Spacemen Throughout History, 1975. Ed. Record), que o termo original utilizado para se falar sobre os “filhos de Deus” é “elohim”, que é plural, e deveria ser traduzido como “deuses” e não “deus”. Os linguistas afirmam que os hebreus utilizavam o termo na chamada “Bíblia hebraica” para designar “deus”, mas às vezes também significava “deuses”, o que complica bastante o entendimento. Drake diz que “A diferença entre filhos de Deus e filhos dos deuses é cataclísmica. Nossas mentes de há muito condicionadas não são capazes de captar sua notável significação”. Para ele, “Os deuses que se acasalavam com as filhas dos homens eram seres de carne e osso, gigantescos, confirmados pela tradição em todo o mundo. Com toda certeza eram astronautas”. Deixando o “com toda a certeza” de lado, certamente é um bom ponto a ser analisado.
Drake também faz referência ao que chama de Documento Zadoquita, também conhecido como Fragmentos Zadoquitas e, mais recentemente, como Documento de Damasco, textos encontrados por Solomon Schechter em 1897, no Cairo, e que está relacionado aos documentos encontrados no Mar Morto em 1947. Drake diz que o texto confirmava o Gênesis e “(...) mencionava a aterrisagem de extraterrestres, seus gigantescos descendentes e sua imoralidade”.
Sobre a ação de deus ou de deuses, Däniken também disse (em Semeadura e Cosmo. Aussaat und Kosmos. Spuren und Pläne außerirdischer Intelligenzen, 1972), que no Antigo Testamento não se fala de um, mas de vários deuses – ainda que vários tradutores entendam que pode se tratar do plural majestático. “Pessoalmente”, disse Däniken, “presumo que mais de um deus participou na criação (exploração) da Terra, bem como na ‘criação’ do homem”.

A Mulher, o Homem e a Serpente (Byam Shaw, 1911).

A história de Adão e Eva também originou várias especulações, e elas variam dependendo do pesquisador. Robert Charroux, em História Desconhecida dos Homens (Histoire inconnue des hommes depuis 100.000 ans, 1963), entende que Adão e Eva estão de alguma forma relacionados à origem da humanidade em Vênus, que poderia ser o paraíso citado na Bíblia. Ele, como tantos outros, também relaciona Lúcifer com o planeta Vênus, entendendo que sua punição foi por ter trazido o conhecimento à humanidade. Charroux levanta a possibilidade de que Lúcifer tenha vindo de Vênus à Terra e povoado nosso planeta com os primeiros humanos.
Já Quixe Cardinale, em Das Galáxias aos Continentes Desaparecidos (Dalle Galassie ai Continenti Scomparsi, 1971), entende que os hebreus eram descendentes diretos de Adão e Eva, que foram transferidos do paraíso, que seria o planeta Marte, para a Terra, mais especificamente a Abissínia. O autor entende que os extraterrestres estavam na Terra há milhares de anos, com diversas colônias espalhadas pelo planeta, e da união deles com as mulheres terrestres nasceram os gigantes.

                       O Jardim dos Prazeres Terrenos (Hieronymus Bosch, c. 1490/1500).

Walter Raymond Drake levantou tradições ocultistas segundo as quais o Jardim do Éden seria a antiga Lemúria, a origem de Adão e Eva e, segundo essas mesmas tradições, um dos continentes povoados há milhões de anos por seres extraterrestres. Em outro de seus livros, Deuses e Astronautas no Antigo Oriente (Gods ans Spacemen in the Ancient East, 1968), Drake diz que Adão e Eva podem representar os primeiros atlantes, e a expulsão do Éden “(...) poderá ser uma reminiscência fragmentária da guerra contra os suseranos do espaço, seguida da catástrofe cósmica que mudou o clima e tornou a vida árdua”. A especulação não é muito clara, mas em outro ponto, Drake entende que, gerações após o dilúvio – visto como uma punição dos extraterrestres contra os gigantes – os homens rebelaram-se contra os deuses, ou astronautas, e construíram a Torre de Babel para assaltar o céu, e o “Senhor” destruiu a torre. O “Senhor” que expulsou Adão e Eva, diz Drake, era possivelmente comandante de uma frota venusiana.

A Destruição de Sodoma e Gomorra (John Martin, 1852).

Outra passagem da Bíblia que suscitou interpretações atualizadas foi a que cita a destruição de Sodoma e Gomorra, que Erich von Däniken comentou já em seu livro de estreia, dizendo que “O livro do Gênese nos transmite, no capítulo XIX, 1 a 28, longo relato, muito minucioso e excitante em seus pormenores, sobre a catástrofe de Sodoma e Gomorra. Se associarmos nossos atuais conhecimentos àquela narrativa, logo despertaremos ideias novas, nada absurdas”.
Seguindo as suposições de que seres extraterrestres estavam no planeta no passado descrito, e que guerras e confrontos ocorressem entre eles, Däniken especula sobre a possibilidade de que armas atômicas tenham destruído as duas cidades “pecadoras”. Ele diz: “Talvez os ‘anjos’ – continuemos nossa especulação – quisessem simplesmente destruir perigoso material atômico, aproveitando o ensejo para aniquilar grupos humanos que lhes eram desagradáveis”.

                                                          A visão de Ezequiel da carruagem celeste (Matthaeus Merian, 1650).

As especulações mais interessantes provavelmente são as que surgiram das análises de O Livro de Ezequiel e do apócrifo O Livro de Enoc.
O profeta Ezequiel inicia sua narrativa falando de suas “visões divinas”, estranhos seres alados que surgiram no céu, com quatro rostos, humanos, mas também com rostos de leão, de touro e de águia. A parte mais interessante para as especulações refere-se à narração de uma espécie de aparelho voador, rodas construídas umas dentro das outras e que podiam deslocar-se para qualquer direção, com aros de altura assombrosa e guarnecidos de olhos. Além disso, acima dos seres, pairava uma abóbada “límpida como cristal”.
Däniken disse que a narração – que se estende em detalhes – é estupendamente boa e que, de acordo com nossos conhecimentos atuais, “(...) ele viu algo parecido com os veículos especiais que os americanos usam nas areias desérticas e regiões pantanosas”. E Ezequiel também faz um relato do barulho que o objeto faz quando se levanta do solo, relato que fez com que Däniken e muitos outros pesquisadores associassem o encontro a um contato com extraterrestres. Os seres – anjos ou extraterrestres – dão instruções a Ezequiel, orientando o que ele pode fazer para melhorar a vida de seu povo.
É verdade que Däniken não foi o primeiro a desenvolver esse conceito; Morris Jessup fez isso em 1956 (no livro UFO and the Bible, citado na matéria anterior), e Arthur W. Orton em um artigo na revista Analog, em março de 1961. E, em 1974, Josef F. Blumrich publicou um livro inteiramente dedicado ao tema, The Spaceships of Ezekiel. Blumrich trabalhava como engenheiro na NASA e, segundo se diz, começou a escrever o livro para refutar as teorias apresentadas, mas acabou entendendo que poderia, de fato, tratar-se de uma espaçonave, e chegou a elaborar desenhos e esquemas detalhados de como ela poderia ter sido.
E Ezequiel não apenas viu o aparelho e os seres, que descreveu como sendo querubins, mas foi transportado pela nave. W Raymond Drake (em Deuses e Astronautas no Antigo Oriente) lembra que esse relato sobre os querubins lembra os mesmos seres representados em baixos-relevos pelos assírios. “Ao que parece”, diz ainda Drake, “o disco desembarcou Ezequiel em Jerusalém, onde ele ficou por alguns dias explorando a depravação da cidade, e depois devolveu-o à sua casa junto ao Chebar. Com ardente eloquência, Ezequiel exortou seus compatriotas a adorarem o ‘Senhor’ e pronunciou vívidas profecias sobre futuras guerras mundiais, depois do que os judeus redimidos gozariam a glória de Deus”.

Reconstrução do templo visto por Ezequiel, feita pelo arquiteto francês Charles Chipiez, em 1887 (Wikimedia).

Däniken se pergunta quem eram, afinal, esses seres que se comunicaram, com Ezequiel, entendendo que certamente não eram “deuses”, segundo a concepção tradicional, “(...) pois esses provavelmente não necessitavam de um veículo para ir de um local a outro”.
Posteriormente, em seu livro Somos Todos Filhos dos Deuses (Wir Alle Sind Kinder der Götter, 1987), Erich von Däniken voltou a referir-se a Ezequiel, ampliando as especulações em torno do tema, lembrando que Ezequiel relatou não apenas os detalhes da “nave” que viu, mas também de um templo que lhe foi mostrado, e que ficava sobre “uma montanha muito alta” e na qual a nave aterrissou.
Däniken relatou que recebeu uma carta do engenheiro Hans Herbert Beier que, estudando a narrativa de Ezequiel, resolveu reconstruir o templo citado, o que realizou em 1976, e cujos trabalhos detalhou no livro Kronzeuge Ezechiel (1985). O escritor, então, colocou Beier e Blumrich em contato, e eles acabaram descobrindo que a nave reconstruída por Blumrich encaixava-se perfeitamente no templo construído por Beier.

Manuscrito grego do Livro de Enoch, do século 4.

O Livro de Enoch (ou Henoc, ou Enoque e ainda Enoc) é atribuído a Enoch, bisavô de Noé, pai de Matusalém e que, segundo a Bíblia (Genesis 5, 23), viveu por 365 anos, depois do que “andou com Deus, e desapareceu, porque Deus o levou”. Em Hebreus (11, 5), o texto diz que “Pela fé Enoc foi arrebatado, sem ter conhecido a morte”.
O Livro de Enoch foi considerado apócrifo e retirado da Bíblia por volta do século 4 e, por muito tempo, ficou praticamente desconhecido, apenas com algumas passagens sendo citadas, até que uma versão em etíope foi encontrada pelo explorador escocês James Bruce (1730-1794). Também foram encontrados fragmentos do texto em aramaico entre os documentos conhecidos como Manuscritos do Mar Morto, descobertos em 1946/1947. Os estudiosos entendem que as partes mais antigas do texto foram escritas por volta de 300 a.C., e também se diz que poderiam ser uma versão tardia de tradições ainda mais antigas.
No livro, entre outras coisas, existem informações sobre a origem dos nefilim, citados anteriormente, e narrativas de revelações, visões e prováveis viagens realizadas por Enoch. Os defensores da teoria dos antigos astronautas, assim como estudiosos do esoterismo, afirmam que os textos levantam várias questões significativas com relação ao passado do planeta, com Enoch às vezes sendo considerado como um dos gigantes que a Bíblia cita, e que teria recebido seus conhecimentos diretamente “das estrelas”, dos anjos ou extraterrestres, sobre os quais fala detalhadamente no livro, assim como das viagens ao céu.

Ilustração de Gerard Hoet para Figures de la Bible (1728), representando a passagem do Gênesis em que Enoch foi levado por Deus sem ter morrido.

Nessas viagens, Enoch diz ter observado a Terra a partir do espaço, o que levou ao conceito de que ele teria andando em algum tipo de nave espacial. Por outro lado, a versão ortodoxa entende que, quando se diz que Enoch foi levado por Deus, trata-se apenas de uma referência à sobrevivência da alma. No entanto, os pesquisadores afirmam que, em outros textos, existe referência ao fato de Matusalém ter encontrado o pai após ele ter desaparecido, o que indica que ele não estava morto, mas apenas vivendo em outro lugar, indicado como “céu”.
W. Raymond Drake diz que “Hoje, todos nós nos espantamos ao saber que Enoch, há mil anos, aparentemente antecipou nossos cosmonautas e fez a primeira descrição de um voo pelo espaço”, mencionando a forma esférica da Terra e a inclinação de seu eixo.

Däniken, que dedicou muita atenção ao Livro de Enoch, disse que os estudiosos e pesquisadores do texto “(...) também tentam despistar os embaraçosos textos de Enoque como ‘visões’. Esta palavrinha é estendida para cobrir tudo aquilo que está além do nosso entendimento. Os defensores da tese de que eram ‘visões’ ignoram o fato de que Enoque diz categoricamente que estava em estado de vigília”. O livro, diz Däniken, corrobora toda a filosofia que defende a presença extraterrestre no passado da Terra, relatando “(...) o que acontece quando os anjos se amotinam”.
“O cenário pré-diluviano”, continua Däniken, “é descrito com detalhes realistas, mesmo que nos pareça inacreditável hoje em dia. Os bons anjos – aqueles que não se envolveram com o motim – observam tudo de cima. Eles informaram o ‘altíssimo’ e ele decidiu tomar uma atitude: ‘Toda a terra deve ser tomada; um dilúvio deve tomar a terra e destruir todas as coisas’.”
E Enoch narra com muitos detalhes mesmo, inclusive fornecendo os nomes dos líderes do motim, com suas hierarquias e funções. Däniken diz que os anjos teriam prometido levar Enoch com eles, o que explicaria o texto da Bíblia que fala sobre Enoch ter sido arrebatado sem conhecer a morte, e isso após ter sido levado a uma viagem que narrou com detalhes.
Quixe Cardinale disse que “De sua viagem em astronave, Enoc nos deixa uma ótima crônica que, após desbastada da retórica litúrgica, torna-se bastante compreensível. Evidentemente, este foi um diário de uma viagem interplanetária, com relativas estações orbitais e um grande percurso em espiral”. E o autor chegou a sugerir um itinerário seguido por Enoc à bordo da nave dos “anjos”.

 

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