Conteúdo Mondo-X

Artigos

FANTASMAS

AS CASAS ASSOMBRADAS

Autor Gilberto Schoereder
27/12/2022

Um dos fenômenos mais antigos do planeta, as chamadas assombrações têm sido estudadas tanto pelas tradições espiritualistas quanto pela parapsicologia.


(Imagem: Hansuan Fabregas/ Pixabay).

Hoje em dia, grande parte dos estudos da parapsicologia aponta causas humanas para os fenômenos relacionados às chamadas assombrações, casas assombradas e fantasmas. Mais do que aos desencarnados, os fenômenos são atribuídos aos encarnados. Ainda assim, existem algumas linhas de pesquisas que preferem continuar considerando a possível presença de memórias remanescentes em determinados locais, ou mesmo a presença de espíritos que, por uma ou outra razão, permanecem “presos” a um determinado local.
Em O Livro dos Médiuns (Segunda Parte, Capítulo IX, “Dos Lugares Assombrados”), Allan Kardec (1804-1869) refere-se a essa crença em lugares mal-assombrados. Segundo ele explica, a crença na existência de lugares mal-assombrados tem origem nas manifestações espontâneas e na “persistência de alguns espíritos em darem mostras ostensivas de sua presença em certas localidades”.
Nas respostas a perguntas feitas sobre esse tema, Kardec elaborou os seguintes itens:
1. Dependendo da elevação dos espíritos, eles podem apegar-se às pessoas e também a objetos terrenos;
2. Os espíritos inferiores podem ter, durante certo tempo, preferência por apegar-se a determinados lugares;
3. Esse apego a uma localidade não é prova de que o espírito em questão seja mau. Ser pouco adiantado não significa ser mau;
4. Não há fundamento na crença de que os espíritos frequentam preferencialmente as ruínas. Eles vão a esses locais tanto quanto a quaisquer outros. Os espíritos preferem a presença dos humanos, de modo que vão preferir locais habitados. No entanto, como os espíritos também têm personalidades distintas, podem existir os que preferem lugares ermos e desabitados;
5. A crença em lugares mal-assombrados tem um fundo de verdade, que é a manifestação dos espíritos, na qual os seres humanos acreditam desde tempos imemoriais. Mas a origem dessa crença também está ligada à imaginação humana, que leva a colocar em lugares lúgubres seres que se considera sobrenaturais. As narrativas e contos fantásticos ajudaram a consolidar essa crença supersticiosa;
6. Os espíritos não têm horas ou dias preferidos para surgir em determinados locais, uma vez que as medidas de tempo não fazem sentido para eles;
7. A ideia de que os espíritos preferem surgir durante a noite vem exclusivamente da impressão que o silêncio e a escuridão produzem na imaginação humana. Se alguns espíritos anunciam sua vinda e manifestações para dias e horários específicos, fazem-no para se aproveitar da credulidade humana, assim como existem aqueles espíritos que se apresentam como o diabo ou com nomes infernais. Se as pessoas conseguirem mostrar a esses espíritos que não estão acreditando neles, eles não voltarão a surgir;
8. Não é verdadeira a crença de que os espíritos preferem frequentar os túmulos. Os espíritos não sentem qualquer atração pelo corpo, pelo envoltório que os fez sofrer;

                                                                                                                                                                                                                                                 Allan Kardec.

9. É certo que os espíritos podem sentir-se atraídos por coisas materiais e, assim, podem parecer estabelecer domicílio em determinados locais, até que desapareçam as circunstâncias que os faziam buscar esses lugares. Essas circunstâncias podem ser a simpatia por algumas das pessoas que os frequentam, ou o desejo de se comunicar com elas. No entanto, nem sempre têm intenções louváveis. Ou seja, quando são espíritos maus, podem querer obter vingança de pessoas das quais não gostavam quando encarnadas. Também é dito que essa permanência em certos locais pode ser uma punição, especialmente se cometeram um crime no local;
10. Nem sempre um local é assombrado por um antigo habitante dele. Muitas vezes, os espíritos que assombram certos lugares o fazem por simples capricho – a não ser nos casos em que sejam atraídos pela simpatia, como já foi dito. Também podem se estabelecer em um local para proteger uma pessoa ou a própria família, ainda que, nesses casos, nunca se manifestam por meios desagradáveis;
11. Não é racional ter medo de lugares assombrados, uma vez que esses espíritos querem principalmente divertir-se com a credulidade e o medo dos seres humanos, mais do que fazer mal. É preciso lembrar, ainda, que existem espíritos em toda parte, de modo que sempre os teremos ao nosso lado, mesmo nas casas mais tranquilas. Quase sempre, assombram uma casa porque têm a oportunidade de manifestar sua presença;
12. Existe maneira de expulsar esses espíritos, mas na maior parte das vezes as ações os atraem, mais do que os afastam. A melhor forma de expulsar os maus espíritos é atrair os bons;
13. Os exorcismos são ineficazes para afastar os maus espíritos, uma vez que eles se divertem ao serem tomados pelo diabo.
Também se deve considerar que muitos espíritos não têm intenções malévolas, manifestando-se por meio de ruídos, ou mesmo tornando-se visíveis; esses não causam incomodo ou praticam desordens. Com frequência, são espíritos sofredores, sujo sofrimento pode ser aliviado pela oração.
Assim, os espíritos podem apenas querer mostrar que estão junto das pessoas, ou podem ser os que desejam brincar. No segundo caso, o melhor a fazer é rir do que acontece; assim, os espíritos perturbadores se cansam, percebendo que não conseguem meter medo.
Existem espíritos que se prendem a determinados lugares sem que tenham a necessidade de manifestar sua presença por meio de efeitos sensíveis.

É interessante notar que algumas pesquisas confirmam certos aspectos levantados por Kardec acima, como o que se refere aos horários e dias preferidos das assombrações ocorrerem. Uma pesquisa realizada na Europa mostrou que, de 400 casos de assombrações, apenas sete aparições eram periódicas, e apenas duas coincidiam com a data em que tinha morrido a pessoa que supostamente assombrava o local.

Frederic Myers (pintura por William Clarke Wontner).

O pesquisador Frederic W.H. Myers (1843-1901), um dos fundadores da Society for Psychical Research, em 1882, realizou vários estudos de assombrações no final do século 19, entendendo que a maioria delas era fragmentária e sem sentido, sendo apenas resíduos de uma energia deixada no local pelas pessoas após suas mortes.
Por outro lado, o parapsicólogo do início do século 20, René Sudre (1880-1968), citou um estudo envolvendo 304 casos de assombrações, dos quais 108 referiam-se a um acontecimento trágico ocorrido no local; em 27 foram encontrados restos humanos enterrados no local; em 71, a pessoa tinha morrido no local; em 26, apesar da pessoa não ter falecido ali, tinha vivido no local por muito tempo.
Sudre não era um defensor da hipótese da sobrevivência do espírito, mas o resultado da pesquisa pode indicar também algo em favor da tese da sobrevivência da memória, ou que ocorra uma espécie de “impregnação” de um local ou objeto por uma memória sobrevivente. Assim, a mente de uma pessoa seria capaz de impressionar objetos ou locais, como se estivesse deixando uma gravação.

                                                                                                                                                                                                                               René Sudre (c. 1936).

De certa forma, a mente funcionaria tanto como um emissor, um gravador de imagens e sentimentos, quanto como um leitor dessas imagens. Se uma pessoa, por exemplo, morresse em condições trágicas, o impacto desse momento faria com que ela inconscientemente enviasse mensagens que ficariam gravadas no ambiente ao seu redor. Como se fosse um gravador desgovernado, de tempos em tempos essas imagens e sensações ressurgiriam. Talvez, a presença de outras pessoas no local ajudasse a despertar o mecanismo que faz com que essas imagens sejam reapresentadas. Sendo imagens, não teriam substância, e simplesmente seriam exibidas como em um filme, com maior ou menor nitidez.
No entanto, alguns estudiosos afirmam terem registrado casos de assombrações que reagem à presença humana, que interagem com os encarnados, o que eliminaria a possibilidade da teoria da memória sobrevivente.
Muitos parapsicólogos já analisaram a possibilidade de que as informações sejam gravadas em objetos, e sabe-se de médiuns que têm essa capacidade específica de “ler” e obter informações de objetos, e não necessariamente informações a respeito de pessoas desencarnadas, mas de vivos, que, por exemplo, moravam no local anteriormente.

Pintura de Eleanor Sidgwick, por Sir James Jebusa Shannon (1889).

Eleanor Sidgwick (1845-1936), uma das mais ativas pesquisadoras da Society for Psychical Research, entendia que as assombrações poderiam ser uma forma de psicometria – um termo utilizado a partir de meados do século 19 para explicar a capacidade de algumas pessoas em obter informações a partir do contato com um objeto. Para ela, as casas ou quaisquer outras habitações também poderiam reter memórias ou impressões psíquicas, passando a guardar pensamentos, ações e sentimentos de seus ocupantes anteriores, e essas informações surgiriam como assombrações.
Claro que cada caso é um caso, e é possível que mais de uma forma de assombração venha a ser confirmada pela ciência no futuro. De qualquer forma, essa capacidade de algumas pessoas “lerem” objetos parece confirmar a possibilidade de que emoções, sentimentos e outras informações sejam registradas ou “gravadas” em objetos e locais, simplesmente pelo fato de as pessoas viverem muito tempo no local. Essa informação poderia ser captada em determinados momentos, sob certas circunstâncias, por algumas pessoas, sem que tenha a ver com a presença de espíritos. Daí a importância de se ter cuidado ao analisar cada caso de suposta assombração.

                                                                                                                           (Imagem: Sandy Flowers/ Pixabay).

Mesmo com as pessoas que têm maior dificuldade em decodificar essas informações, ocorrem situações em que elas têm uma espécie de pressentimento com relação a algum local onde jamais estiveram antes, como se o próprio local estivesse passando informações a elas, informações que as pessoas podem considerar boas ou ruins. O mais comum parece ser que as pessoas não saibam interpretar essas sensações, e então simplesmente as ignoram.
Essa situação pode estar relacionada com o que alguns pesquisadores passaram a chamar de “assombrações residuais” que, diz-se, estão entre as mais comuns, ainda que não seja uma postura das investigações científicas sobre o assunto. Essas assombrações residuais podem não ter nada a ver com a possível presença de espíritos, mas apenas com aquelas situações em que uma mesma cena fica se repetindo em determinado local.

Harry Price. Fotografia de William Hope (1922), um dos fotógrafos de espíritos que Price desmascarou.

Segundo Rosemary Ellen Guiley (em The Encyclopedia of Ghosts and Spirit), o investigador psíquico Harry Price (1881-1948), que ficou famoso por desmascarar vários falsos médiuns, em especial as fotografias falsas de espíritos, elaborou uma teoria que chamou de “telepatia atrasada”. Segundo ele, existe um “éter psíquico” que é uma ponte entre a mente e a matéria e que impregna toda matéria e espaço. Assim, alguns pensamentos e eventos são impressos nesse éter e permanecem nele por longos períodos. Seria assim que pessoas com sensibilidade psíquica poderiam entrar em contato telepático com esses pensamentos e emoções.
Não é uma teoria tão diferente da que propõe a “gravação” dos pensamentos e sentimentos nos próprios objetos, e ambas foram criticadas por não explicarem os casos de assombrações em que ocorre movimentação de objetos.
O psicólogo e parapsicólogo William G. Roll (1926-2012) levantou a teoria de que todos os objetos têm um campo psi, e que as pessoas sensitivas conseguem ler as impressões registradas nesse campo em uma casa em quer se diz haver assombrações. Guiley diz que essa teoria, apenas um pouco diferente das anteriores, também foi criticada, uma vez que não explica o fato de que pessoas sem habilidades psíquicas também afirmam terem testemunhado assombrações.

                                                                                                                                                              (Imagem: Amy Art-Dreams/ Pixabay).

Os estudos científicos ligados aos chamados fenômenos psi, ou parapsicológicos, têm apresentado algumas propostas para explicar casos de assombrações, sem considerar a hipótese da sobrevivência do espírito e sua atuação em determinado local. Algumas dessas teorias são interessantes e podem se aplicar a alguns casos, enquanto outras têm sido combatidas até mesmo pelos próprios cientistas.
O psicólogo Wellington Zangari – Professor Doutor do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia da USP – disse que existem semelhanças entre os casos de assombração narrados. “Por exemplo”, ele diz, “nos locais em que ocorreram os casos de aparições pesquisados modernamente foi verificada uma concentração de força eletromagnética. A partir dessa constatação, abre-se um grande número de interrogações, de hipóteses que devem ser testadas: será que algumas pessoas teriam a capacidade de sentir tais concentrações, como acontece com muitos animais? Será que essas pessoas, sensíveis ao eletromagnetismo, poderiam ser levadas a alucinar com maior facilidade? A concentração eletromagnética poderia interferir no funcionamento cerebral e, assim, mudar a capacidade perceptiva das pessoas? Ou será que há pessoas que produzem a concentração de campos eletromagnéticos?”
Zangari disse que essas hipóteses estão sendo testadas com estudos in loco. “Os estudos de William Roll (1926-2012. Psicólogo e parapsicólogo da Universidade de West Georgia) e Andrew Nichols (Psicólogo, diretor do American Institute of Parapsychology) são exemplos disso”, explica Zangari. Este último publicou um interessante caso de poltergeist ocorrido na Flórida, diferente daqueles já conhecidos, em que pedras caem sobre o telhado de casas e fogo surge aparentemente do nada. Além de relatos de desaparição de objetos e sons estranhos, os moradores contaram que se sentiam borrifados por água à noite, na cama, e também durante o dia, enquanto executavam suas atividades habituais em diferentes partes da casa. A quantidade de água parecia aumentar com o tempo, sendo registrados, em uma ocasião, vários galões de água. Os especialistas não descobriram vazamentos nem infiltrações. Fraudes não foram verificadas. Mas os pesquisadores descobriram uma taxa excessivamente alta de campos eletromagnéticos nos locais das ocorrências, significativamente maior do que onde nenhuma ocorrência havia sido registrada. Os fenômenos aquáticos desapareceram desde que uma das moradoras iniciou seu processo psicoterapêutico. Em alguns casos que estudamos no Brasil ocorreu o mesmo”.
Existe a tendência, também, de prevalecer o conceito de que os efeitos historicamente atribuídos aos fantasmas serem considerados fenômenos poltergeist, e as aparições que ocorrem sem o acompanhamento de efeitos físicos serem considerados efeitos psicológicos normais, como alucinações, ou uma aquisição de informação por meio de psi, ou seja, por meios mentais. O fenômeno poltergeist, anteriormente atribuídos à ação de fantasmas, hoje é visto como sendo efeitos psicocinéticos produzidos por uma ou mais pessoas.

Michael Persinger (Foto do próprio, cedida à Scientific American, 2010).

O eletromagnetismo vem sendo o centro de algumas investigações na área, como explicado anteriormente. Um dos estudos mais conhecidos nesse sentido foi o do dr. Michael Persinger (1945-2018), psico-neurofisiólogo da Laurentian University, no Canadá. Nos anos 1980, ele realizou experiências para tentar provocar o fenômeno das aparições em laboratório, com monitoramento do funcionamento cerebral.
Ele afirmou ter conseguido reproduzir a “sensação de presença” a partir do estímulo eletromagnético de certas regiões do cérebro – uma sensação de que alguém ou alguma coisa está no ambiente, próximo à pessoa, ainda que nada possa ser visto. Os lobos temporais foram estimulados com campos magnéticos fracos, e o resultado foi que os voluntários acusavam a “sensação de presença”. Para Persinger, essa sensação poderia explicar as visões de fantasmas e até mesmo os casos de abdução alienígena relatados por todo o planeta.
Durante seu período de dez anos de pesquisa na Koestler Parapsychology, da Universidade de Edimburgo – um dos principais centros de pesquisa parapsicológica do mundo – o dr. Paul Stevens defendeu a teoria de que as visões de fantasmas têm relação com as variações de campos magnéticos. Para comprovar a hipótese, resolveu medir campos magnéticos residuais em locais em que aparições de fantasmas foram reportadas regularmente. Os locais escolhidos para a pesquisa foram South Bridge Vaults, no centro de Edimburgo, e o Hampton Court Palace, em Surrey. Foram detectados campos magnéticos mais elevados do que os dos prédios ao redor. “Sabe-se que”, disse o dr. Stevens, “em algumas pessoas, altas ressonâncias magnéticas podem ter um efeito na atividade do lobo temporal”. Algumas pessoas submetidas a essa situação reportaram a sensação de terem sido “tocadas por Deus”, enquanto outras viram e ouviram coisas que não estavam lá.

                                                                                              (Imagem: Merlin Lightpainting/ Pixabay).

Por outro lado, no início de 2005, o psicólogo Pehr Granqvist, da Universidade de Uppsala, na Suécia, questionou as descobertas do dr. Persinger. Segundo ele, Persinger não realizou o experimento conhecido como duplo-cego. Os estudos realizados por ele – utilizando os mesmos equipamentos para criar campos magnéticos – não produziu os mesmos resultados.
As experiências com duplo-cego implicam que tanto os experimentados quanto os experimentadores não conheçam as condições da experiência. Em outras palavras, existiriam dois grupos de pessoas sendo testados: um, sendo sujeito a campos magnéticos ativos; outro, sem campos magnéticos ativos. Assim, como essas condições não foram observadas, as pessoas que foram testadas com os campos magnéticos ativos podem ter sido tratadas de tal maneira que as experiências as induziram por outros motivos que não a exposição ao campo magnético.
Segundo Granqvist, aqueles que participavam das experiências de Persinger – estudantes graduados – sabiam que tipo de resultado se esperava. Da mesma forma, antes dos testes serem realizados, foi pedido a eles que preenchessem formulários destinados a verificar sua sugestionabilidade a experiências paranormais.
O dr. Persinger refutou as críticas, entendendo que o dr. Granqvist e seus colegas falharam ao gerar um “sinal biológico efetivo” nas pessoas testadas devido ao uso incorreto da aparelhagem.
Rosemary Ellen Guiley disse que as pesquisas científicas a respeito de fatores ambientais geomagnéticos e eletromagnéticos indicam que a energia de um local pode influenciar os casos de assombração. Ela citou o dr. Jason J. Braithwaite, psicólogo cognitivo e neurocientista da Universidade de Lancaster, na Inglaterra, segundo o qual “Investigações de campo de fenômenos de assombração revelaram que podem existir, em locais específicos, sinais extraordinários, associados com experiências estranhas”. Mas Guiley diz que, no entanto, os cientistas não dizem que a energia e o fenômeno estão associados. Segundo Braithwaite, o contexto precisa de mais estudos.

(Foto: Peter H/ Pixabay).

Outra teoria apresentada nos últimos anos para explicar as assombrações é a das ondas sonoras de baixa frequência, ou infrasônicas, com frequência abaixo de 20Hz.
Não se trata exatamente de uma ideia nova, mas só começou a ser comprovada cientificamente quando foi proposta por Vic Tandy (1955-2005) – professor de tecnologia de informação da Universidade Coventry – e o dr. Tony Lawrence, da mesma universidade.
Segundo se noticiou, Tandy encontrava-se no laboratório de um prédio considerado assombrado quando começou a sentir as sensações de desconforto geralmente associadas às assombrações. Ele chegou a ter a impressão de que uma forma surgia no limite do seu campo de visão periférica, movendo-se exatamente como uma pessoa. Como é bastante comum nesses casos, ele sentiu-se aterrorizado e fugiu do ambiente. No dia seguinte, como pratica esgrima, Tandi prendeu sua espada em um torno para realizar uma modificação e percebeu que a lâmina estava vibrando de forma estranha. A causa poderia ser a existência de sons de baixa frequência no local.
Sem perder tempo, Tandy e o dr. Lawrence realizaram testes que comprovaram a existência desses sons circulando no ambiente, que atingiam sua maior intensidade justamente no local onde se encontrava a mesa de trabalho de Tandy. Nesse caso específico, as ondas eram provocadas por um ventilador recentemente instalado, que fazia o ar vibrar na medida exata. Quando o ventilador foi modificado, o som deixou de existir e a “assombração” desapareceu. Descobriu-se que o infrassom tinha uma frequência de 18,98 Hz, e que isso fazia com que os globos oculares de Tandy ressoassem, produzindo a ilusão de óptica. Os resultados da experiência foram publicados no Journal of the Socienty for Psychical Research.
A NASA já havia realizado experiências com infrassons e percebido que frequências de 18 ciclos por segundo podiam causar uma série de reações fisiológicas, desde inquietação e medo até visão nublada. Exemplos mais simples disso podem ser experimentados com as frequências graves de um aparelho de som comum. Ainda que não sejam infrasônicas, eles causam efeitos visíveis no comportamento das pessoas.
Quando a experiência de Vic Tandy e Tony Lawrence foi publicada, muitos pesquisadores entenderam que a causa das chamadas assombrações havia sido descoberta, e que estas nada tinham de sobrenatural. A coisa, porém, não é tão simples como parecia. Em primeiro lugar, é bom lembrar que esse tipo de explicação não se aplica às chamadas “aparições”, principalmente nos casos em que foram obtidas fotos ou filmes revelando a existência do fenômeno. É comum os parapsicólogos utilizarem uma série de aparelhos para medição ambiental que não são afetados pelos infrassons. Dessa forma, as alterações registradas têm a ver com outro tipo de fenômeno, totalmente distinto do detectado na Universidade Coventry.
Os infrassons devem ser encarados como mais uma possibilidade de explicação para determinados acontecimentos. Sabe-se, por exemplo, que alguns tipos de casas ou edifícios podem provocar alucinações nas pessoas, levando-as a crer – e, em alguns casos, a ver – fantasmas e aparições de todo tipo. Eliminadas as possibilidades já conhecidas e cientificamente comprovadas, restariam as explicações sobre a existência de uma “memória residual” no lugar: vestígios da personalidade de uma pessoa (espírito, alma, mente, consciência, ka, corpo astral ou o nome que cada um preferir) que continuam existindo após sua morte.
Alguns entendem também que, mesmo no caso dos infrassons, pode haver outro tipo de fenômeno presente, do contrário a quantidade de assombrações em todo o planeta seria espantosa.

                                                               (Imagem: Merlin Lightpainting/ Pixabay).

Dean Radin, cientista-chefe do Institute of Noetic Sciences, disse em uma ocasião que sua impressão era a de que existem evidências de que alguma coisa persiste após a morte; poderia ser a “alma”, fora do corpo, ou apenas a persistência de memória incrustada no ambiente de alguma forma ainda não conhecida.
Para Radin, grande parte das evidências obtidas hoje em dia podem ser explicadas por diversas razões – e aqui teríamos de considerar as teorias já apresentadas – mas não todas. E as evidências que restariam oferecem sugestões e pistas muito interessantes indicando a possibilidade da sobrevivência. Mesmo sem sabermos do que se trata, ele lembra que a probabilidade de explicar essas evidências como coincidências, ou como fenômenos ligados à forma como as pessoas percebem a realidade, é muito pequena.
Dean Radin ainda disse que, diante da importância da simples possibilidade de que alguma coisa sobreviva à morte, alguém poderia imaginar que essa seria uma área de pesquisa muito interessante e procurada. Mas apenas 5 ou 10 cientistas no mundo estão estudando ativamente esse assunto, e o que limita as investigações não é o interesse dos cientistas, mas os fundos para as pesquisas. Com sua costumeira sagacidade, Dean Radin sugere que, por exemplo, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos determinasse 0,1% de seu orçamento anual para estudar o que acontece após a morte, contra as centenas de bilhões de dólares gastos anualmente para estudar tecnologias destinadas a produzir a morte.

Outros pesquisadores, geralmente não ligados às pesquisas realizadas em universidades, entendem que os campos eletromagnéticos podem ter também outro efeito. Ainda que entendam e aceitem a versão de que os campos podem alterar o funcionamento do cérebro humano, também acreditam que ele podem atuar no sentido de “abrir” um canal de comunicação com outra dimensão, possibilitando que as pessoas vejam e sintam o que outras normalmente não conseguem ver ou sentir.
Hoje, muitos dos investigadores autônomos e amadores utilizam medidores de campos eletromagnéticos para detectar possíveis atividades paranormais em um ambiente, o que é refutado pela ciência. Segundo essa linha de pesquisa, o eletromagnetismo verificado no ambiente pode ser um sinal de um contato com os espíritos.
O que os estudos parecem indicar, em geral, é que é bem possível que não se trate de um fenômeno com causa única, podendo ser originado por inúmeros e diferentes fatores. Inclusive, é claro, a presença de espíritos no local.

Copyright © Mondo-X 2020

Revista Eletrônica de Esoterismo, Religião e Ufologia • e-mail: gilberto@mondo-x.com.br • Todos os Direitos Reservados