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FANTASMAS

NAVIOS E ASSOMBRAÇÕES

Autor Gilberto Schoereder
27/12/2022

Histórias sobre assombrações envolvendo navios são constantes em todo o mundo, em épocas bastante variadas.


Tempestade (Ivan Ayvazovsky, 1872).

As assombrações envolvendo navios não são muito bem documentadas e, aparentemente, a maioria refere-se a casos muito antigos. E estranhos, às vezes envolvendo assombrações nos navios, outras vezes com os próprios navios sendo considerados as assombrações, surgindo em determinados locais.
O pesquisador Georges Pasch (autor do livro O Homem Paranormal. Ed Mercuryo) referiu-se a cinco grupos diferentes de fatos associados às assombrações relacionadas aos navios, ou ao mar em geral. Assim, ele entendeu que um navio pode ser assombrado da mesma forma que uma casa; pode ocorrer também de uma mesma aparição ou fantasma surgir em vários navios, e seria então uma assombração relacionada a uma extensão de mar específica; pode ser uma aparição que aja de maneira consciente, como se houvesse assumido uma missão, ainda que essa característica seja vista por muitos estudiosos como especulação; em um quarto grupo, a aparição pode ter sido provocada por um médium; e, no último, ocorre a assombração de um navio por uma entidade considerada consciente e maléfica.
No entanto, muitos parapsicólogos não concordam com essas classificações em grupos, entendendo que não é possível aplicar métodos científicos a qualquer investigação desse tipo, uma vez que, quase sempre, baseia-se exclusivamente em relatos de testemunhas, nem sempre muito confiáveis.
As histórias de navios fantasmas ou assombrados frequentemente associam-se às lendas ou narrativas exageradas do folclore local, e também quase sempre estão ligadas a naufrágios ou a desaparecimento de navios durante tempestades. Rosemary Ellen Guiley cita o caso do S.S. Violet, uma embarcação a vapor que encalhou quando atravessava o Canal da Mancha e teve toda sua tripulação morta. Diz-se que, no começo da Segunda Guerra Mundial, toda a cena pode ser vista por testemunhas que estavam em um farol, e um bote salva-vidas chegou a ser enviado ao local, mas não encontrou nada.
Guiley também diz que na costa do Atlântico é comum ver-se navios com mastros altos navegando, para em seguida desaparecerem na neblina. Uma lenda da Cornualha diz que em uma noite de luar um navio foi visto navegando em direção à terra e, quando parecia que iria se destruir, levantou-se da água e sobrevoou a terra até desaparecer.

Ilustração de Frank R. Stockton para livro do século 19, explicando o surgimento de imagens de navios no céu como resultado de miragens, com a projeção das imagens de dois navios.

É apenas mais um dos casos de “navios voadores”. Em alguns pontos do oceano foram registradas aparições de navios que flutuavam acima das águas. Diz-se que uma equipe de cinegrafistas que trabalhava no Marrocos, em 1928, chegou a avistar uma frota inteira de navios que não apenas flutuava, mas deslocava-se a grande altitude no céu. Eram navios muito antigos que se dirigiam ao deserto do Saara vindos do Oceano Atlântico. As testemunhas verificaram as bandeiras que os navios levavam e, por uma pesquisa feita posteriormente, descobriram que condiziam com as bandeiras utilizadas pelos navios das esquadras da Espanha e Portugal no século 14. Ninguém soube dizer a razão pela qual cinegrafistas não filmaram esses navios.

O Holandês Voador (Albert Pinkham Ryder, c. 1896).

Quando se fala de navios fantasmagóricos, certamente nenhum ficou tão famoso quanto o Holandês Voador. Alguns dizem que se trata de um navio que realmente existiu, enquanto outros entendem que é apenas uma lenda que persiste desde a segunda metade do século 17.
A história básica é de que ele teria desaparecido quando tentava contornar o Cabo da Boa Esperança durante uma tempestade violenta. Uma das versões da história afirma que o capitão teria jurado que conseguiria ultrapassar o Cabo, mesmo que para isso tivesse de enfrentar os ventos contrários até o dia do juízo final. O que é um bom exemplo de como as narrativas folclóricas se desenvolvem; se o navio existiu e ninguém sobreviveu, como seria possível saber o que o capitão teria dito?
Seja como for, diz-se que o Holandês Voador tem sido visto em diversas ocasiões, navegando em alto mar como se lutasse contra o vento, mesmo nas ocasiões em que o tempo estava absolutamente calmo.
Rosemary Ellen Guiley diz que existem várias versões da lenda, sendo que na versão holandesa, o capitão, chamado Van Straaten, era um sujeito teimoso que insistiu em contornar o Cabo com tempo ruim, perdendo o navio e sua tripulação, e desde então o navio vem sendo visto na região, sendo encarado como um sinal de desastre.
Na versão alemã o capitão chama-se von Falkenberg, navegando no Mar do Norte, e sendo visitado regularmente pelo próprio Diabo, com quem joga dados e perde sua alma, tornando-se condenado a navegar para sempre em seu navio.
Na versão britânica, o capitão recusou-se a navegar para um porto seguro durante uma tempestade, também no Cabo da Boa Esperança, apesar dos pedidos da tripulação, e desafiou Deus a afundar seu navio. Uma aparição surgiu no convés, e o capitão tentou atirar nela, com a arma explodindo em sua mão. Essa aparição amaldiçoou o capitão, que então passa a navegar para sempre, sempre atormentando sua tripulação.
E ainda existem várias outras versões, com mais ou menos alterações, mas basicamente entendendo que o navio continua navegando eternamente, como se estivesse sendo punido.

Cena descrevendo a captura da fragata francesa L'Insurgente pelo USS Constellation (Rear Admiral John William Schmidt (Ret.)/ PD-USGOV-MILITARY-NAVY).

Outro caso bastante citado é o do navio norte-americano U.S.S. Constellation, que começou a operar em 1797 e foi desmontado em 1853, com algumas poucas peças sendo reutilizadas na construção de um novo navio, também chamado Constellation, que hoje é um museu em Baltimore. E foi depois que se tornou atração turística é que começaram a surgir as histórias de assombrações.
O navio original teve como capitão Thomas Truxton, que se dizia ser brutal em suas decisões, em particular quando, durante uma batalha contra a fragata francesa L’Insurgente, um marinheiro dormiu em vigia e foi executado. Depois da batalha, diz-se que seu corpo foi amarrado e um canhão e despedaçado. Assim, diz-se que essa violência é que originou as assombrações que as pessoas afirmam verem ainda hoje no navio, com os fantasmas de Truxton e do marinheiro morto, às vezes tão nítidos que alguns visitantes chegaram a confundi-los com guias do museu.
Rosemary Ellen Guiley diz que o fantasma de Truxton pode até mesmo ter sido capturado em foto. Em 1955, logo após ter chegado ao porto de Baltimore, o jornal Baltimore Sun reportou que pessoas a bordo de um submarino próximo afirmaram terem visto luzes e formas estranhas, além de barulhos, no Constellation, fenômeno que foi mencionado pelo comandante Allen Ross Brougham a um amigo que se interessava por pesquisa psíquica. Brougham resolveu tentar fotografar o fenômeno à noite, tendo como resultado o que ele disse ser uma figura translúcida usando um uniforme antigo. Não se tem notícia dessa fotografia ter sido revelada publicamente.
O famoso investigador Hans Holzer também resolveu averiguar o fenômeno, contando com a ajuda da médium Sybil Leek, com quem já trabalhara em outros casos de assombrações.
Leek imediatamente registrou no navio a presença de três entidades, que seriam um marujo covarde, o capitão, que disse se chamar Thomas Truxton, e um menino que fora assassinado por dois marujos. Sentia a presença de alguma coisa ruim a bordo e um acontecimento violento envolvendo um dos canhões do navio. Supostamente, Holzer não tinha conhecimento dos eventos envolvendo o Constellation. No entanto, não há como referendar essa história, uma vez que o segundo navio, o que estava em exibição em Baltimore, não tinha quase nada a ver com o original, capitaneado por Truxtun.


 

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