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Hércules na América

Autor Gilberto Schoereder
25/06/2011

Segundo alguns pesquisadores, o herói mítico Hércules não apenas existiu como foi um dos colonizadores da América.


HÉRCULES NA AMÉRICA

As pesquisas e teorias do Frei Fidélis da Motta sobre o passado longínquo da América estão entre as mais controversas de que se tem conhecimento. Para alguns, beira o surrealismo; para outros, tem pontos interessantes e que merecem mais atenção.

Gilberto Schoereder

Colunas em forma de guerreiros toltecas, em Tula, México (Foto: Luidger/ Wikimedia).

O herói mítico grego, Hércules, ou Héracles, já é bastante conhecido na cultura ocidental, originando até mesmo seriado de televisão. No Brasil, chegou a ser personagem de livro de Monteiro Lobato (1882-1948), em Os Doze Trabalhos de Hércules (1944).
Mas o que pouca gente sabe é que existem pesquisas que apresentam Hércules como um personagem real e o relacionam à colonização da América. Claro que essa proposta é vista, na melhor das hipóteses, com desconfiança, e na pior, como fruto de pura alucinação. O elaborador e principal defensor desse conceito foi o frade franciscano, austríaco naturalizado brasileiro, Frei Fidélis da Motta, que publicou seus livros com o nome Peregrino Vidal.
Para ele, Hércules foi ninguém menos do que Sumé, um lendário homem branco cuja presença é constantemente narrada nas lendas e mitos das tribos de quase toda a América. Esse ser – a exemplo do Oannes, da Suméria – teria trazido conhecimentos superiores aos povos locais, organizando civilizações por onde passava, e também sendo o responsável pela construção das obras gigantescas das Américas.
Segundo a teoria, Hércules teria vindo ao continente americano quatro vezes. Na primeira, teria trazido colonos de uma tribo jafétida – tidos como descendentes de Jafé, um dos filhos de Noé; esses colonos seriam os ancestrais dos toltecas, que chegaram à região do atual México por volta de 2.963 a.C. Na segunda vez, Hércules teria chegado em 2.893 a.C., trazendo duas tribos jafétidas, quatro hamitas (descendentes de Ham, outro filho de Noé) e quatro semitas (abrangendo dezenas de diferentes povos). Nas viagens posteriores, teria trazido também os ancestrais dos astecas.
Peregrino Vidal era um estudioso de idiomas e historiador, e justificava muitas de suas informações por meio do que ele entendia ser a tradução correta de alguns nomes da América. Por exemplo, o nome Brasil viria de Be-ra-zil, frase em sumério que significaria “domínio dos cantores escuros” e ligada a aspectos da religião dos sumérios.

Representação do deus Quetzalcoatl dos astecas, aparecendo em sua forma de serpente emplumada (Foto: Jami Dwyer/ Wikimedia).

O frei tinha a ideia de aplicar os conhecimentos da Bíblia, especialmente do Gênesis, à historia da América, tomando como certa a existência da Atlântida e acreditando que sua história podia ser resumida numa luta entre dois cultos opostos, com um confronto entre o “luminoso e o tenebroso”, o divino e o satânico. O primeiro era representado pelo Templo, e o segundo por Satanás. O culto negro teria invadido a América em 2.800 a.C., tomado a capital e se apoderado do grande templo que a primeira leva de colonizadores teria erguido em honra de Jeová, fixando ali sua sede, Ma-gog, a Grande Serpente.
Assim, a terceira leva de colonos, os astecas, teria chegado em 2.450 a.C. com a função de repovoar a América, e mais uma vez trazidos por Hércules, ou Xumé. A tarefa de combater o culto negro se espalhava, então, por toda a Terra, uma vez que esse mal teria se espalhado pelo planeta após o Dilúvio, e a forma de combatê-lo era justamente levando o conhecimento às diversas culturas.
Hércules teria vivido, então, 1.352 anos, entre 3.380 e 2.028 a.C., e seu nome real seria Her-Ku-Les, “o cantor do Filho do Homem”. Ele também surgiria com diferentes nomes em outras culturas: Quetzalcoatl, no México, ou Ket-Zal-Co-Hu-Atl, “o restaurador dos cantores no templo de todos os cantores”; Kukulkan, na América Central, ou Kuk-Ul-Kan, “oprimido por todos os maus”; Wotan, entre os muíscas e chibchas, ou W-Ot-An, “cantor de todo o Templo”; Xumé ou Pay-Xumé, no Amazonas e no litoral do Brasil, e ainda Jurupary, ou J-U-Ru-Pa-Ry, “o brilhante cantor, regresso, do Filho do Homem”.

Representação do deus inca Viracocha que, segundo Vidal, era o próprio Hércules, em sua passagem pelos Andes.

Outros nomes que, segundo Vidal, poderiam ser atribuídos a Hércules e vertidos para o sumério, seriam: Vir-Ak-O-Xa, “o cantor do Templo de todos os cantores”; Pa-Chac-Am-Ac, “o brilhante comandante do Templo dos cantores”; Con-Tik-Ki, “o alto cantor do Templo”; Man-Co-Ca-Pac, “chefe brilhante do Templo dos cantores”; a cidade de Tiahuanaco seria Ti-Hu-A-Na-Co, “a cidade do Templo de todos os cantores do Templo”; os aimarás, tidos por alguns como os mais antigos habitantes da região do lago Titicaca, seriam A-Ym-Ar-Ás, “família proveniente dos cantores do Templo”; Tol-Te-Ka, “os altos cantores do Templo”; Me-Xik-O, “país, jardim dos cantores”, Tit-Ik-Ak-A, “curva da viagem dos cantores do Templo”.
Com a expansão dos colonizadores, formou-se a Federação Tolteca, composta por reinos que, diz Vidal, os hebreus chamaram de Os Reis de Tharxix, divididos assim: o Canadá, com os othomi; o México, com os toltecas ou nahuas; o Chiapas, com os quichés; a Guatemala e o Iucatã, com os maias; o Panamá, com os muíscas; o Peru, com os sacerdotes; o Berazil, com os tupi; o Goyaz, com os tapuias; as Guianas e as Antilhas, com os caraíbas. Esse império de Tharxix seria o mesmo conhecido pelos antigos, e especialmente pelos gregos, como o Jardim das Hespérides; os semitas ainda o conheceriam como Havilá, ou como Ophir.

                                                                                Estátua de Hércules em Versailles, França. (Foto: Remi Jouan/ Wikimedia).

Apesar dessas ideias de Peregrino Vidal serem rechaçadas pela maioria dos pesquisadores, também é um fato que outros pesquisadores fizeram um levantamento bem detalhado de inscrições existentes na América, e em especial no Brasil, que remetem a caracteres sumérios e fenícios, indicando um contato real entre os continentes, num passado longínquo.
E, se esses conceitos não são aceitos, mais difícil ainda é aceitar a cronologia proposta por Vidal. Segundo seu ponto de vista, todos os continentes teriam a mesma idade, já que o mundo teria sido criado todo ao mesmo tempo, no ano de 5.199 a.C. Na verdade, essa proposta segue no caminho oposto ao das mais recentes pesquisas arqueológicas, que estão remetendo as origens da civilização humana a um passado cada vez mais distante. Pela datação de Vidal, o Dilúvio teria ocorrido em 2.952 a.C.
Na região do Berazil, no entanto, o culto negro tinha avançado muito, de modo que Hércules passou 40 anos por aqui, fazendo seu trabalho de “evangelização”, após o que a terra se tornou A-Maz-On-As, “terra dos genuínos cantores do Templo”. Com ele teriam vindo alguns astecas, que aqui foram chamados de Ar-U-Ak ou Ar-U-An, “os nobres cantores do Templo”. Também foram chamados de Gu-A-Ra-Ny, “os grandes e brilhantes cantores do Templo”.
Hoje em dia é muito difícil pesquisar as obras originais de Peregrino Vidal, os livros Fomos e Somos a Atlântida e A América Prehistórica e Hércules: Exumados da Filologia Sumérica. Possivelmente, só poderão ser encontrados em bibliotecas como a Mário de Andrade, em São Paulo, ou nos arquivos da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.

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