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A Rainha de Sabá

Autor Gilberto Schoereder
21/05/2012

A Rainha de Sabá é uma das personagens mais conhecidas da história, e muitas vezes ligada a acontecimentos fantásticos.


A RAINHA DE SABÁ

Além de ser uma das personagens mais conhecidas na história da humanidade – e muitas vezes ligada a acontecimentos fantásticos – a rainha de Sabá ainda hoje provoca discussões intensas no meio arqueológico e histórico.

Gilberto Schoereder

A Rainha de Sabá se Encontra com Salomão (Piero della Francesca, 1452).

Poucas mulheres na história da humanidade tiveram seu nome tão citado e envolto em mistérios quanto a Rainha de Sabá, também conhecida como Makeda. As referências mais óbvias se encontram na Bíblia, nas passagens referentes ao Rei Salomão – com quem ela teve um filho –, mas os pesquisadores do assunto citam também o livro Kebra Negest (ou Kebra Nagast), um conjunto de textos de origem antíope que significa “glória dos reis” ou “esplendor dos reis”.
As informações a respeito da Rainha de Sabá são contraditórias e, como sempre costuma acontecer nas histórias que contêm elementos fantásticos, despertam a atenção dos pesquisadores da chamada arqueologia ou história alternativa, que procuram explicações menos ortodoxas para eventos que a ciência oficial considera apenas lendas ou mitos.
Historicamente, o reino de Makeda é situado na região onde fica o atual Iêmen, no sul da Península Arábica, ainda que existam referências – especialmente no já citado Kebra Negest – de que o Reino de Sabá se estendia à Abissínia, atual Etiópia, um dos mais poderosos reinos da história da África. A possibilidade é real, uma vez que apenas a Passagem Al Mandab separa o Iêmen da África, no ponto em que hoje se encontra o Djibuti.
Entre os árabes, Makeda ficou conhecida como Bilkis (Bilqis), e sua história está definitivamente conectada com outro dos grandes mistérios da humanidade: a Arca da Aliança.
Os resquícios arqueológicos desse reino fantástico estão no Iêmen, especialmente com a barragem de Marib e o Templo da Lua. A barragem é considerada uma obra-prima da engenharia, um desenvolvimento tecnológico sensacional para a época em que se supõe que foi construída, entre os anos 1.000 e 900 a.C., ainda que o pesquisador Erich von Däniken tenha citado a lenda a respeito da construção, segundo a qual uma primeira represa tinha sido construída de alvenaria e pedras em 1.700 a.C., sendo depois complementada no reinado de Makeda.

                                                                                As ruínas da antiga Marib, no Iêmen (Foto: Bernard Gagnon, 1986).

A famosa visita de Makeda ao rei Salomão poderia ser facilmente explicada historicamente, uma vez que se diz que o Reino de Sabá era rico em incenso, mirra e ouro, artigos importantes para o comércio na época. No entanto, as lendas vão bem mais longe que isso.
As visitas de arqueólogos ao Reino de Sabá já eram realizadas, com muita dificuldade, em 1589, quando o padre jesuíta Pero Pais passou por Marib. Em 1762, foi a vez de uma expedição dinamarquesa dirigida pelo alemão Carsten Niebuhr (1733-1815), o único da equipe que conseguiu retornar, levando consigo informações de monumentos e inscrições indecifráveis. Em 1843, o francês Thomas Joseph Arnaud também recolheu inúmeras inscrições de Sabá, e o barão alemão Adolph von Wrede (1807-1863) escreveu um longo relato do que viu no Iêmen, no livro Viagem ao Hadramaut.
Em 1870, o francês Joseph Halévy (1827-1917) transcreveu mais de 600 inscrições, arriscando a vida, uma vez que a população local não permitia esse tipo de atividade. E, de 1882 a 1884, o austríaco Eduard Glaser (1855-1908) percorreu o Iêmen disfarçado de árabe e fez uma descrição detalhada do templo, supostamente considerado o templo da Rainha de Sabá. Seu relato levantou a suspeita de que teria existido um culto cósmico em torno da rainha. No entanto, do Templo da Lua restam poucas ruínas.
Pesquisas arqueológicas estão em curso no Iêmen. Recentemente, arqueólogos da American Foundation for the Study of Man conseguiram uma concessão para explorar o sítio de Marib, abandonado desde as últimas escavações, realizadas em 1952 por Franl Albright e Wendell Phillips. As condições climáticas e sociais no local sempre foram desfavoráveis, mas agora os cientistas acreditam ter desencavado as ruínas de um templo com 3.000 anos de idade, que pode ser a “capital perdida” da Rainha de Sabá.
A equipe inclui pesquisadores do Institute of Archaeology, de Londres, que por dois anos usaram GPR (ground penetrating radar, radar de penetração no solo) para estudar as construções, que se encontram nove metros abaixo da areia.

Porto com o Embarque da Rainha de Sabá (Claude Lorrain, 1648).

Uma equipe de cientistas britânicos também revelou ter encontrado sinais da existência do Reino de Sabá, assim como o possível local onde a Rainha de Sabá foi enterrada, na Nigéria.
O grupo foi liderado pelo arqueólogo dr. Patrick Darling, da Bournemouth University, que afirmou que os moradores da região acreditam na lenda e que isso era importante. O local em questão é chamado de Eredo, próximo de Lagos, e se compõe basicamente de um muro com pouco mais de 20 metros de altura, com um fosso, e com cerca de 160 quilômetros de extensão. Segundo o arqueólogo, ainda que não se trate de um projeto com a complexidade das pirâmides do Egito, ele usou um milhão de metros cúbicos de rochas e terra a mais do que foi usado na grande pirâmide de Gizé.

O dr. Darling disse que estavam conectando a descoberta a uma fortificação de fronteira de um reino muito vasto e que deveria ter mais de mil anos de idade. No entanto, essa teoria ainda está longe de ser comprovada, uma vez que a maioria das evidências aponta a existência do Reino de Sabá no outro extremo do continente.
Apesar disso, diz o dr. Darling, a rainha seria uma figura muito presente nas lendas locais, conhecida pelo nome de Bilikisu Sungbo, e centenas de milhares de peregrinos vão até a região todos os anos, visitar o que pode ser sua sepultura. Ainda assim, a datação do local não condiz com o que já se sabe a respeito do reino de Makeda.
É apenas mais um elemento na lenda já extensa a respeito de Makeda. Por exemplo, diz-se que ela enviou uma mensagem a Salomão, contando que a viagem de seu reino até Israel levava sete anos, mas que ela conseguiria fazê-la em apenas três; no entanto, mesmo para as condições da época, sabe-se que a viagem duraria cerca de três meses. Tudo indica que seja um erro de tradução.

Salomão Encontra a Rainha de Sabá (Porta do Batistério de São João, Florença. Foto: Richardfabi/ Wikipedia).

Alguns pesquisadores levantam relatos curiosos sobre a rainha. Uns dizem que ela tinha as pernas cobertas de pêlos, e que isso indicaria sua origem não terrena. Outro relato diz que, cerca de 700 anos depois de Cristo, um califa fez uma descoberta em Tadmor, cidade ao norte do deserto da Síria; tratava-se de um túmulo com uma inscrição indicando tratar-se de Bilqis, e o califa mandou fechá-lo imediatamente, horrorizado com o que encontrou. Diz-se que era o túmulo de um gigante.
Mas os relatos mais impressionantes vêm do Kebra Negest. O historiador africano Joseph Ki-Zerbo diz que o texto é do século 14, mas outros historiadores entendem que ele tenha origem por volta de 850 a.C. Se isso fosse confirmado, ele poderia ser um relato em primeira mão dos acontecimentos envolvendo o contato entre a rainha de Sabá e o rei Salomão, que se acredita tenha vivido até aproximadamente 926 a.C.
O livro etíope traz uma descrição dos métodos usados na construção da Arca da Aliança, que também teve um papel fundamental nos acontecimentos seguintes. Os relatos dão conta de que Makeda teve um filho com Salomão, chamado Baina-lehkem, posteriormente conhecido como rei Menelik, iniciador de uma dinastia na Etiópia e nome conhecido ainda hoje no país.
Quando Menelik foi visitar seu pai em Jerusalém, conseguiu convencê-lo a lhe dar a Arca da Aliança. Salomão não queria que ninguém descobrisse que a Arca já não se encontrava em Jerusalém, de modo que uma cópia exata em madeira foi colocada no lugar, enquanto Menelik levava a original para seu país.
Para fazer o transporte, teria utilizado um dos presentes que sua mãe ganhou do rei, um “carro voador”, tão grande que levou não apenas a Arca, mas todo o séquito de Menelik, com animais e tudo. Os textos ainda fazem referência à travessia do rei pelo Egito, com seu carro voador derrubando obeliscos por onde passava.
Na Etiópia, ainda hoje se diz que a Arca da Aliança se encontra no país, mais exatamente na cidade de Axum. Lá existe um culto muito forte envolvendo a presença da Arca, que se encontraria numa capela anexa à igreja de Santa Maria de Sion. As milhares de igrejas espalhadas pelo país têm uma réplica da Arca.

Representação de Menelik, filho da rainha de Sabá e de Salomão, levando a Arca da Aliança num barco.

Em 2003, o arqueólogo alemão Ricardo Eichmann levantou a teoria de que a rainha de Sabá jamais existiu. Segundo ele, não existe qualquer escavação ou estudo que seja sustentado por argumentos científicos que provem que a rainha tenha sido uma personagem histórica real.
Claro que os pesquisadores da linha não ortodoxa discordam totalmente dessa postura, uma vez que os relatos em documentos religiosos ou em lendas e mitos sempre foram considerados boas indicações do que pode ter ocorrido no passado longínquo. E mais ainda quando esse relato surge em diversas culturas, como no Velho Testamento, no Corão e no Kebra Negest.
É uma discussão antiga e se estende a praticamente todas as civilizações muito antigas, das quais se têm poucas informações que não as das lendas. O ponto de vista não ortodoxo defende que existiram, em diversos períodos da história da humanidade e em diversos locais do planeta, civilizações mais ou menos desenvolvidas, das quais restaram poucas informações. Em alguns casos, elas se restringem às informações contidas em lendas, mitos e narrativas de natureza religiosa. E poucos cientistas ortodoxos aceitam esse conceito, entendendo que as evidências apresentadas não são suficientes para sequer dirigir suas atenções nessa direção.
O caso da rainha de Sabá, certamente, se insere nesse quadro, especialmente devido às narrativas de objetos fantásticos como o carro voador do rei Salomão, para não falar de supostos aparelhos de teletransporte, como o que teria possibilitado o miraculoso transporte do trono de Makeda de seu reino para o palácio de Salomão.
Alguns pesquisadores chegaram a levantar a possibilidade de que os contos árabes sobre tapetes voadores, por exemplo, podem ter origem nos relatos do carro maravilhoso que Makeda recebeu de presente de Salomão. Sobre o próprio rei dos judeus existem relatos de viagens fantásticas, percorrendo grandes distâncias em pouquíssimo tempo. Essas histórias se assemelham às narrações sobre os vimanas da Índia, que eram usados para transporte e para combate, em épocas tão recuadas no tempo que os historiadores e arqueólogos conservadores nem se dão ao trabalho de pensar sobre o assunto.
No entanto, apesar da postura mais ortodoxa quase sempre prevalecer, a verdade é que ainda não se têm as informações definitivas sobre a rainha de Sabá, e menos ainda sobre os eventos fantásticos a ela relacionados.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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