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Destruam a Terra

Autor Gilberto Schoereder
22/09/2013

Ao longo da história da humanidade, tem sido comum se imaginar que o mundo, ou pelo menos a civilização, estava chegando ao seu final. De profecias nebulosas a ameaças mais concretas, estivemos perto do fim inúmeras vezes.


DESTRUAM A TERRA

Ao longo da história da humanidade, tem sido comum se imaginar que o mundo, ou pelo menos a civilização, estava chegando ao seu final. De profecias nebulosas a ameaças mais concretas, estivemos perto do fim inúmeras vezes.

Gilberto Schoereder

 

É impossível saber quantas vezes o mundo já esteve prestes a acabar. Estamos falando do fim do mundo "mesmo"; the end, caput, hasta la vista baby. Podemos recuar no tempo até a época em que os dinossauros viviam – não os dinossauros do rock, mas os próprios seres grandões. De alguma maneira que ainda é bastante discutida pelos cientistas, um cataclismo – ou uma série deles – assolou o planeta provocando alterações climáticas e geológicas gigantescas que acabaram com parte da vida na Terra.
Poderia ter sido o "nosso" fim, antes mesmo que existíssemos? Segundo alguns desses cientistas, poderia. Uma colisão de um meteoro, por exemplo, poderia perfeitamente ter tornado a vida impraticável no planeta. E o risco ainda existe, por menor que seja. Existem hoje programas de procura por possíveis ameaças vindas do espaço. Não as ameaças do tipo "levem-me ao seu líder", mas meteoros e corpos celestes grandes o suficiente para que uma colisão com o planeta pulverize a vida por aqui.
Além da visão científica, os meios esotéricos e religiosos também oferecem uma série de possibilidades para o que poderia ter ocorrido com a Terra, desde as próprias colisões de meteoros gigantescos com o planeta, até a mudança do eixo terrestre, a queda de uma parte da Lua no planeta – ou a Lua inteira, segundo algumas versões –, ou uma guerra travada entre civilizações do passado das quais não temos mais notícia, mas que teria sido tão violenta que o que restou da humanidade teve de começar tudo de novo – em alguns casos, do zero; em outros, mantendo uma parte do conhecimento científico e espiritual até então obtido.

                 O Dilúvio (Gravação de William Miller sobre ilustração de John Martin, 1844).

Dizem que a Lemúria – ou Mu, para os íntimos –, desapareceu do oceano Pacífico devido a uma sucessão de cataclismos que fizeram a terra afundar no mar. Com a Atlântida, diz-se, foi o mesmo. Em algumas versões, foi um acidente natural. Em outras, uma guerra entre o Bem e o Mal que teve como resultado a destruição de todo o continente e mais alguma coisa. Na mitologia hindu, fala-se de grandes civilizações com tecnologia ainda mais avançada do que a que temos hoje, com as máquinas voadoras conhecidas como vimanas – além de outras armas desconhecidas – participando de guerras arrasadoras.
A história do dilúvio é um bom exemplo dessa tendência humana de destruir tudo, às vezes apenas para começar de novo. As lendas ou mitologias do dilúvio são universais; praticamente todos os povos conhecidos do presente e do passado têm histórias semelhantes de como as águas cobriram tudo o que existia e apenas uns poucos – geralmente "escolhidos" por alguma divindade – conseguiram sobreviver e começar tudo de novo. De alguma forma, a noção de destruição de tudo o que se conhece deve estar impressa em nosso inconsciente coletivo, porque ela está sempre ressurgindo. Vai ver, somos masoquistas incorrigíveis, e queremos ser punidos porque fomos maus, ou assim imaginamos.
Em épocas mais recentes – e por isto quero dizer os chamados tempos históricos – as religiões foram pródigas em imaginar finais de mundo, geralmente também separando do joio alguns "escolhidos", por esse ou aquele motivo, que repovoariam o planeta da maneira "correta", ou então seriam levados para algum lugar melhor.

O Anjo dos Pássaros (Franz Dvorak, 1910).

Antes dos OVNIs, o lugar era o Céu, a vida eterna e legalzinha ou sabe-se lá o que mais. Na época de discos voadores, os próprios aparelhos devem vir até a Terra levar os caras que fazem tudo o que um outro cara qualquer diz que é o correto fazer. Bons meninos e meninas, serão arrebatados para o sensacional planeta Ducacete, lá na Constelação de Maravilhas e Esplendores, viagem pela qual não terão de pagar um centavo, porque, é claro, já pagaram aqui na Terra, este inferno. São os evoluídos, seja lá o que isso signifique – e, em alguns casos, evoluído significa que o cara em questão está disposto a pagar um dízimo para salvar a preciosa pele da aniquilação que virá, ou viria, se fosse real.
Não são poucos os mitólogos, filósofos, antropólogos, historiadores e outros cientistas que consideram o arrebatamento dos religiosos de todos os tempos e o arrebatamento dos atuais OVNIs a mesma coisa; anjos ou extraterrestres, seria apenas uma atualização na apresentação ou, no caso, no programa mental dos humanos que seguem ou são simpáticos a essas ideias.
Ainda mais recentemente, a humanidade de fato desenvolveu os meios tecnológicos necessários para destruir a vida no planeta. A ficha começou a cair durante e logo após a 1ª Guerra Mundial, com horrores que, até então, eram apenas imaginados, como os ataques dos mais variados tipos de gases, ou a utilização das modernas "máquinas de triturar carne" – aliás, gracioso apelido pelo qual eram conhecidas as metralhadoras desenvolvidas para o 1º Grande Concurso de Estupidez Humana.
A utilização de aviões para fazer o céu cair sobre nossas cabeças e a imensidade de armas que matavam à distância, ajudaram a criar o clima de fim de mundo que se abateu especialmente sobre a Europa devastada. Esta vinha de uma suposta "era dourada", no final do século 19 e início do 20, em que tudo era maravilhoso, sem guerras e com a economia indo muito bem, obrigado, ainda que isso se devesse ao fim da era dourada nas colônias, que sofriam o diabo com os europeus invasores.
O mundo não acabou, é claro, mas a poeira nem tinha baixado e a coisa piorou com o desenvolvimento de posturas ideológicas extremistas, como o nazismo, o fascismo e o comunismo. E lá estava de novo a Europa, e o mundo, envolvida numa guerra que deixou a Primeira no chinelo.

                                                             Bomba atômica sobre Nagasaki, em 9 de agosto de 1945 (Foto: Charles Levy).

E com o final da 2ª Guerra Mundial, veio "a bomba". E a ameaça do fim do mundo ficou cada vez mais perto, ainda mais com o ingrediente do mundo estar dividido mais uma vez entre o Bem e o Mal, ou EUA e URSS, na Guerra Fria, que teve seus momentos de calor intenso. O relógio do juízo final – que mede simbolicamente o quão perto estamos de um confronto e eventual devastação nuclear – chegou a estar a dois minutos do fim dos tempos.
O relógio continua sendo constantemente adiantado ou atrasado de acordo com as notícias no mundo dos imbecis nucleares – e agora, parece que armamentos nucleares são vendidos até pela internet, tamanha a quantidade de países que os têm; nuclear delivery.

Para dar sequência à nossa capacidade destrutiva, entramos na fase do aquecimento global, derretimento das calotas polares, aniquilação da camada de ozônio, destruição das florestas, possível aumento do nível dos mares, a poluição dos mares, péssima qualidade do ar que respiramos, escassez de alimentos, doenças pandêmicas, superpopulação. Problemas que, para alguns cientistas, ainda podem ser evitados, desde que sejam tomadas as devidas medidas, necessariamente drásticas, que geralmente os países mais ricos não querem tomar, mas que, agora, se forem tomadas, podem prejudicar o crescimento dos países mais pobres.
E outros cientistas discordam vigorosamente das informações de que o mundo esteja prestes a entrar numa fase de alterações climáticas severas. Para muitos, o aquecimento global é uma farsa ou, na melhor das hipóteses, uma interpretação equivocada de dados científicos reais. O aspecto científico do assunto é impossível de ser compreendido, e ainda menos discutido, pelos leigos, que têm suas opiniões jogadas de um lado para outro de acordo com a maior ou menor divulgação de um ou outro ponto de vista.
Que o planeta está sendo profundamente alterado, parece não haver dúvida, assim como parece certo que podemos fazer ainda mais para provocar o tão temido, mas ao mesmo tempo tão amado, juízo final. Mas se essas alterações representam, de fato, uma caminhada rumo à aniquilação da humanidade, ainda é incerto.

Caminhando de mãos dadas com a possível destruição provocada por nós mesmos, continuam vivas as suposições esotéricas e religiosas. Até mais do que em outras eras, uma vez que os meios de divulgação de certas ideias são muito mais eficientes. A internet não apenas disponibiliza todo tipo de conceito para qualquer pessoa, mas muitas vezes ainda consegue enfeitar e rechear essas ideias com uma credibilidade que está longe de existir, inventando falsos tratados científicos, reinterpretando alguns já existentes, distorcendo posturas científicas que estão longe de ser compreendidas ou mesmo aceitas pela comunidade científica.
O ano de 2012 é apenas o produto mais recente e popular desse delírio autodestrutivo. E como está próximo, após 2012, certamente surgirá outro, e outro e outro.
Parece ser uma tendência que só pode ser detida se fosse possível a humanidade inteira deitar no divã e tentar descobrir porque queremos que a Terra seja destruída, de fato ou em nossa imaginação.


As Terras Devastadas
 

O Grande Dia de Sua Ira (John Martin, c. 1853).

Para alguns, são lendárias. Para outros, foram reais. Seja como for, a literatura esotérica está repleta de referências a pelo menos dois continentes que desapareceram no oceano. Estamos falando da famosa Atlântida e da menos conhecida Lemúria.
A história da Atlântida e seu fim trágico, engolida pelas águas do oceano, ficou conhecida e se tornou popular pelo relato de Platão nas obras Timeu e Crítias, escritas por volta de 380 a.C. A sociedade da Atlântida foi descrita com promenores impressionantes pelo filósofo grego, mas especialmente a partir dos anos 1960 a Atlântida ganhou uma importância ainda maior.
Dizia-se que a cultura atlante tinha se desenvolvido 9 mil anos antes da época de Platão, mas a partir de meados do século 19 já se começava a falar que a sociedade atlante já existia 800 mil a.C. Segundo a Teosofia, os atlantes seriam descendentes dos Senhores da Chama de Vênus que, anteriormente, teriam trazido a civilização para a Lemúria. Teriam chegado à Terra na inacreditável e, para a ciência, impossível data de 18 milhões de anos.
Na versão ocultista, a civilização da Atlântida era muito avançada na ciência psíquica, e em determinado momento dividiu-se entre os magos brancos e negros, ou seja, do Bem e do Mal. O confronto entre as duas forças teria destruído o continente – ou, segundo alguns, as diversas ilhas que formavam a Atlântida.
É uma história de um fim, mas não necessariamente do fim do mundo, uma vez que as supostas civilizações da Atlântida e da Lemúria, mesmo tendo sido destruídas, teriam conseguido espalhar parte de seu conhecimento por outras regiões do planeta, dando continuidade à humanidade.
 

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